São Paulo, quarta-feira, 30 de setembro de 2009

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GILBERTO DIMENSTEIN

Museu da rua



Baixo Ribeiro se prepara para desenvolver a experiência de transformar as ruas coloridas num aprendizado da arte

INSTALADA numa casa da rua Medeiros de Albuquerque, 250, na Vila Madalena, uma galeria de arte vende quadros avaliados em R$ 35 mil. A poucos passos dali, as obras de alguns dos pintores estão expostas e não custam absolutamente nada. São renovadas periodicamente, bancadas pelos próprios artistas, como se fossem parte de um museu na rua -nesse caso, integradas a um circuito internacional.
No sábado passado, Baixo Ribeiro instalou, naquela rua, uma espécie de filial da Choque Cultural, que, nos últimos anos, vem promovendo, dentro e fora do Brasil, as obras de grafiteiros. Até pouco tempo atrás, muitos deles não ganhavam nada e, ainda por cima, tinham que torrar suas economias para comprar sprays para pintar.
Um dos pontos, o beco do Batman, ao lado da galeria, forma quase um único espaço de exposição.
Como todo aquele entorno é povoado de intervenções de grafiteiros, o projeto de Baixo, agora, é ajudar a desenvolver ali o conceito de museu a céu aberto, onde as pessoas possam aprender sobre as artes.
"Passear pelas ruas pode ser um bom jeito de aprender sobre a história da arte".

 

Ele conhece o encanto que a linguagem do grafite exerce sobre os mais jovens. A cidade de São Paulo, afinal, é apontada como um dos polos mundiais desse tipo de arte -fato que tem aberto galerias de Nova York, Paris e Londres para artistas paulistanos, muitos dos quais, até pouco tempo, limitavam seu talento a becos como o da Vila Madalena.
Formado na FAU, Baixo não se dedicou à arquitetura. Preferiu seguir o caminho da moda, no qual se aproximou no universo dos tatuadores e grafiteiros. Foi dali que recrutou seus primeiros artistas para a Choque Cultural, em Pinheiros, imaginada para ser uma galeria voltada ao público jovem, estendida agora para a Vila. "Logo ficou nítido que estávamos num museu a céu aberto."
Ele se prepara para desenvolver a experiência de transformar as ruas coloridas num aprendizado da arte.

 

Baixo dará oficinas a alunos das redondezas para que, ao olharem para as intervenções nos muros, se encantem pela história da arte e, quem sabe, até comecem frequentar mais os museus. "Dá para fazer um diálogo com toda a história com o que se vê nas ruas". Uma de suas aulas mostra a relação que existe entre Matisse, Beatriz Milhazes e Zezão, o grafiteiro que pinta dentro dos bueiros.
O projeto vai mais longe: os alunos seriam convidados a cuidar de suas próprias escolas, com intervenções de arte.

 

Antes mesmo dessa experiência pelas ruas, ele vai conseguir levar jovens a museus. Pelo menos ao mais famoso museu de São Paulo. Está prevista para novembro uma exposição de grafiteiros no Masp. Será uma chance de apreciar, num único espaço, apesar de estarem em andares diferentes, as cores de um grafiteiro que desce pelos bueiros, e de Matisse.

 

PS- A primeira exposição da nova galeria da Choque Cultural é de Titi Freak. Coloquei no www.catracalivre.com.br algumas imagens das obras, que, aliás, também podem ser vistas no museu de rua.

gdimen@uol.com.br


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