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Transtornos mentais afetam 78% de grupo atingido por césio 137
Estudo foi feito com 78 envolvidos no acidente radioativo em Goiânia, em 1987, que causou pelo menos 12 mortes
Uma das razões mais prováveis apontadas pelo levantamento para esse tipo de ocorrência é a redução do hipocampo
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA
Um estudo realizado com 78
pessoas envolvidas no acidente
radioativo com o césio 137 em
Goiânia revelou uma tendência
de transtorno mental em 78,2%
dos casos analisados. Na população mundial, em condições
normais, 10% em cada grupo de
cem pessoas apresentam o problema, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Os dados foram coletados entre 2002 e 2003 para a tese de
mestrado em saúde mental defendida na Universidade Federal de Minas Gerais pela pesquisadora Aminadab Rodrigues Rodarte, professora do departamento de enfermagem da
Universidade Católica de
Goiás. Os resultados foram divulgados no fim de 2005.
Uma das razões mais prováveis apontadas pelo levantamento para esse tipo de ocorrência é a redução do hipocampo (área do cérebro onde os
neurônios ativam a memória
concentrada do córtex e que incide sobre as emoções), que
costuma atingir vítimas de estresse pós-traumático.
No caso dos contaminados
pelo césio, segundo a pesquisadora, não foram feitos até hoje
exames suficientes para confirmar a hipótese -já que o procedimento é caro.
O governo de Goiás reconheceu 621 vítimas, divididas em
quatro grupos segundo o grau
de contaminação. Para a amostra, foram consideradas apenas
as 116 vítimas dos chamados
grupos 1 e 2, atingidas mais diretamente pela radiação, além
de pessoas que, embora não
contaminadas, passaram a integrar (por casamento, nascimento ou outros vínculos) as
famílias dos grupos 1 e 2.
Ao entrevistar as vítimas, a
pesquisadora constatou indicações de transtornos mentais de
depressão (irritabilidade, perda de memória, dificuldade de
aprendizagem e idéias de suicídio), de percepção (mania de
perseguição, ouvir vozes), de
humor (falar ou rir sozinho e
sem motivo).
As crises freqüentes de irritação, tristeza, desânimo, agressividade e explosões emocionais sem motivo ocorrem com
80% dos entrevistados. Idéias
de suicídio atingem 34%. Pelo
menos nove pessoas tentaram
se matar ingerindo comprimidos em excesso. O alcoolismo
também é comum: 69,2% ingerem bebida alcoólica regularmente. No grupo 1, o índice é de
100%. Para Rodarte, o resultado expressa a busca pelos efeitos psíquicos que o álcool pode
causar, como desinibição e sensação transitória de bem-estar.
A população estudada é constituída de pessoas jovens
-58,9% com até 40 anos. Esse
dado é importante, segundo a
pesquisadora, porque a maioria
tinha entre seis meses e 24
anos na época do acidente. "É
uma fase em que a personalidade ainda está em formação,
sendo mais influenciada por fatores externos como crítica, segregação, medo e insegurança."
O presidente da Associação
das Vítimas do Césio, Odesson
Alves Ferreira, confirmou a
prevalência de transtornos
mentais entre os radiacidentados, mas disse não conhecer
detalhes do estudo. A Suleide
(Superintendência Leide das
Neves), órgão estadual responsável pelo atendimento às vítimas, não comentou a pesquisa.
Acidente
Em setembro de 1987, dois
catadores de sucata e papel encontraram uma cápsula de césio 137 abandonada em um terreno baldio, no centro de Goiânia, e levaram a peça para casa,
onde foi quebrada a marteladas. Os envolvidos no acidente
distribuíram porções de pó radiativo e a contaminação atingiu uma área superior a 2.000
m2. O governo reconheceu oficialmente 12 mortes.
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