PAULO SAMPAIO
DA REVISTA

"Tão pagando promessa?", indaga o jardineiro aposentado Antônio Barbosa, 72, no km 26 da av. Coronel Sezefredo Fagundes, extremo norte de São Paulo.
Ele se dirige ao grupo de sete homens e duas mulheres com mochila, chapéu e cajado. Acompanhados por um repórter e um fotógrafo da Revista, os "peregrinos" da Associação de Amigos do Caminho de Santiago de Compostela (Espanha) são especialistas em caminhadas. Cruzaram a pé, de norte a sul, a maior metrópole sul-americana: 101,2 km, da divisa com Mairiporã até o limite de Itanhaém, na serra do Mar.
Foram três dias de andança, média diária de nove horas e meia (veja detalhes ao lado). Na saída, um toco no mato, sem nada escrito, "indica" o início de São Paulo.
Após duas horas e meia, surge no horizonte o vale coberto de neblina e poluição, torres altas. O verde é suplantado pelo cinza aos poucos, sítios por casas "caixotes" sem reboco. Cinco horas depois, há a primeira lombada eletrônica, pouco depois da primeira lixeira.
Desde o início, nota-se que São Paulo não é lugar para andar: não há calçada ou ela é esburacada; as pessoas só passam, apressadas. Quem pára é pedinte ou perdido.
No segundo dia, as casas têm algum estilo, os carros (importados em geral) têm sempre os vidros escuros fechados. Em vez de botecos e oficinas, há bancas vendendo jornais, flores e água-de-coco.
No terceiro dia, a emoção cresce; chove muito, e há áreas rurais. A periferia sul repete em muito a norte: pontos comerciais como extensão de casas "caixotes", carros coloridos, ruas esburacadas.
O uso do estrangeirismo é um elo entre periferia e "alta roda". Nomes em inglês, francês e italiano dão status a prédios (Paragons Gardens, Vile Vert, Le Blanc) e lojas, como Quality Perfect, Stock North e Performance World -esta última é escola de futebol.



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