São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010

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Tráfico em baixa dá espaço a milícias

Atual modelo do comércio de drogas no Rio é realidade em declínio, afirma Luiz Eduardo Soares

Para ex-secretário nacional de Segurança, milícias, além de serem feitas de policiais, têm mais fontes de renda

DO RIO

A Secretaria de Segurança do Rio não aponta elo entre a derrota dos traficantes no Complexo do Alemão e o fortalecimento das milícias. Mas a retomada do morro, chamado pelo secretário José Mariano Beltrame de "coração do mal", mostra o narcotráfico vulnerável, enquanto os milicianos têm avançado no crime organizado.
Para o antropólogo Luiz Eduardo Soares, coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania no governo Anthony Garotinho (1999 a março de 2000) e secretário nacional de Segurança Pública no governo Lula (2003), "o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio".
Ele é coautor de "Elite da Tropa 2", que tem como foco o avanço dos milicianos (policiais, bombeiros e agentes penitenciários que cobram taxa de moradores em troca de suposta proteção).
Em um texto publicado em seu blog (http://luizeduardosoares.blogspot.com), Soares afirma que "a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la -isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes".
Segundo ele, o tráfico é incapaz de competir com milicianos, pois estes ganham com drogas e com muitas outras atividades, como gás e TV a cabo clandestina.
"O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, antieconômico: custa caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que são policiais)", acrescenta o antropólogo.
Delegado da Polícia Civil que está à frente do combate às milícias, Cláudio Ferraz, coautor de "Elite da Tropa 2", endossa: "Os milicianos não têm investimento, só cobrança [de dinheiro]". Ferraz diz que os "cuidados devem ser constantes" para evitar que as milícias ocupem território.
Até a operação no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, das 1.006 favelas do Rio, as milícias dominavam 41,5%; o tráfico, 55,9%; e as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), 2,6%, segundo dados do Nupevi (Núcleo de Pesquisas das Violências da Uerj). Implantadas pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), as UPPs teriam motivado os recentes ataques.
"As milícias continuam crescendo. O que elas perderam foi representatividade política e aceitação pública", diz o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI das Milícias em 2008, referindo-se às prisões do vereador Jerônimo Guimarães, então no PMDB, em 2007, e do deputado estadual Natalino Guimarães (ex-DEM), em 2008.


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