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Tráfico em baixa dá espaço a milícias
Atual modelo do comércio de drogas no Rio é realidade em declínio, afirma Luiz Eduardo Soares
Para ex-secretário nacional de Segurança, milícias, além de serem feitas de policiais, têm mais fontes de renda
DO RIO
A Secretaria de Segurança
do Rio não aponta elo entre a
derrota dos traficantes no
Complexo do Alemão e o fortalecimento das milícias.
Mas a retomada do morro,
chamado pelo secretário José
Mariano Beltrame de "coração do mal", mostra o narcotráfico vulnerável, enquanto
os milicianos têm avançado
no crime organizado.
Para o antropólogo Luiz
Eduardo Soares, coordenador de Segurança, Justiça e
Cidadania no governo Anthony Garotinho (1999 a março de 2000) e secretário nacional de Segurança Pública
no governo Lula (2003), "o
tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade
em franco declínio".
Ele é coautor de "Elite da
Tropa 2", que tem como foco
o avanço dos milicianos (policiais, bombeiros e agentes
penitenciários que cobram
taxa de moradores em troca
de suposta proteção).
Em um texto publicado em
seu blog (http://luizeduardosoares.blogspot.com),
Soares afirma que "a polaridade referida na pergunta
(polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade.
Construí-la -isto é, separar
bandido e polícia; distinguir
crime e polícia- teria de ser a
meta mais importante e urgente de qualquer política de
segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação
criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos
estejam ausentes".
Segundo ele, o tráfico é incapaz de competir com milicianos, pois estes ganham
com drogas e com muitas outras atividades, como gás e
TV a cabo clandestina.
"O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, antieconômico: custa caro
manter um exército, recrutar
neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias,
posto que são policiais)",
acrescenta o antropólogo.
Delegado da Polícia Civil
que está à frente do combate
às milícias, Cláudio Ferraz,
coautor de "Elite da Tropa 2",
endossa: "Os milicianos não
têm investimento, só cobrança [de dinheiro]". Ferraz diz
que os "cuidados devem ser
constantes" para evitar que
as milícias ocupem território.
Até a operação no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, das 1.006 favelas do
Rio, as milícias dominavam
41,5%; o tráfico, 55,9%; e as
UPPs (Unidades de Polícia
Pacificadora), 2,6%, segundo dados do Nupevi (Núcleo
de Pesquisas das Violências
da Uerj). Implantadas pelo
governador Sérgio Cabral
(PMDB), as UPPs teriam motivado os recentes ataques.
"As milícias continuam
crescendo. O que elas perderam foi representatividade
política e aceitação pública",
diz o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI das Milícias em
2008, referindo-se às prisões
do vereador Jerônimo Guimarães, então no PMDB, em
2007, e do deputado estadual
Natalino Guimarães (ex-DEM), em 2008.
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