São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

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Polícia matou 77% mais no "ano do PCC"

Foram 533 civis mortos em confronto em 2006, ante 300 no ano anterior, segundo as estatísticas do governo estadual

Secretaria de Segurança Pública diz que crescimento foi tão alto porque números de 2005 foram os mais baixos dos últimos anos

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que o PCC (Primeiro Comando da Capital) promoveu três ondas de violência em São Paulo, a polícia paulista matou 533 pessoas somente em supostos casos de confronto. Uma letalidade 77,6% maior do que em 2005, quando houve 300 mortos.
As mortes de civis no ano passado, durante o governo de Cláudio Lembo (PFL), cresceram mesmo em períodos em que não houve atentados -os ataques ocorreram em maio, julho e agosto -, segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública.
No último trimestre de 2006 (de outubro a dezembro), 82 pessoas foram mortas pela polícia em supostos confrontos, 46% mais do que no mesmo período do ano anterior.
O número de policiais mortos em supostos casos de resistência também cresceu. Foram 38 em serviço -uma proporção de um policial por grupo de 14 suspeitos-, dez a mais do que em 2005.
A maior parte dos policiais mortos nos atentados foi atacada quando estava de folga e os casos foram registrados como homicídio doloso, e não como suposto confronto.
As mortes de outros civis por grupos de extermínio, com suposto envolvimento de policiais, estão sendo investigadas pelo Ministério Público. Elas também ficaram fora dos casos de confronto.
Segundo as estatísticas, a Polícia Militar foi responsável por 93% das mortes de civis em 2006. Foram 495 atribuídas à corporação que realiza o policiamento ostensivo.
As estatísticas de 2006 interrompem uma tendência de queda no número de pessoas mortas pela polícia verificada em anos anteriores. Em 2005, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) comemorou a queda de 49% do número de casos em relação ao ano anterior.
Foi a mesma gestão, no entanto, que registrou o recorde de civis mortos. Em 2003, 791 pessoas foram mortas em supostos confrontos.

Matança
"Os números provam o que as entidades de direitos humanos já vinham alertando. Que durante o ano passado vigorou uma política de matança de suspeitos em nome do suposto combate ao crime organizado", afirmou Ariel de Castro Alves, secretário-geral do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana). "Na prática, resultou na morte de muitos inocentes."
O Condepe e outras entidades escreveram um livro chamado "Mortes de Maio" -mês em que ocorreu a primeira onda de violência.
A assessoria da Secretaria da Segurança informou que a Polícia Militar "está trabalhando para diminuir essas estatísticas". Segundo a pasta, os números de 2005 foram os mais baixos dos últimos anos. Por isso, segundo o órgão, o crescimento verificado em 2006 foi tão alto.
A secretaria salienta que houve queda no número de civis mortos durante os últimos trimestres de 2006: foram 188 entre abril e junho, 123 entre julho e setembro e 82 entre outubro e dezembro.


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