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"Agora entendo tanta incompetência", diz Stedile
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista João Pedro Stedile, 49, um dos líderes do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), disse que a ligação da entidade com movimentos sociais do exterior é "pública",
principalmente com entidades
rurais congêneres. Ele ridicularizou o estudo da PF, que apontou a
questão agrária como mais importante que combater o crime
organizado: "Agora entendo porque tanta incompetência para reprimir o narcotráfico, o contrabando e a corrupção". Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Como o sr. vê a decisão da
PF de colocar o MST como prioridade, ao lado da crise colombiana?
João Pedro Stedile - É lamentável. A luta pela reforma agrária é
uma luta contra um problema social grave de nossa sociedade, a
concentração da propriedade da
terra, a existência de enormes latifúndios improdutivos, que prejudicam toda a sociedade. É uma luta pela aplicação da Constituição,
que determina sua desapropriação. Nada tem a ver com a crise
colombiana. Nem sequer há MST
nos Estados fronteiriços com a
Colômbia. Revela a inoportuna e
indesejável influência que os serviços de inteligência dos Estados
Unidos estão tendo na Polícia Federal, ferindo nossa soberania.
Folha - O motivo de o MST ter sido
colocado como prioridade seria
uma suposta aproximação da entidade com as Farc da Colômbia.
Stedile - Isso é absolutamente
mentiroso, e revela como estão
despreparados. Agora entendo
porque tanta incompetência para
reprimir o narcotráfico, o contrabando e a corrupção. O MST é um
movimento social que se dedica à
luta pela reforma agrária, e todas
as nossas relações no exterior são
com movimentos camponeses
como o nosso. Essas relações são
públicas. Agora mesmo, no Fórum Social Mundial, realizamos
uma assembléia mundial de organizações camponesas, acompanhada por toda a imprensa.
Folha - Qual o relacionamento do
MST com as Farc?
Stedile - Nenhum.
Folha - O estudo alega que o MST
e outros movimentos sociais representam perigo para a democracia.
Como o sr. vê isso?
Stedile - Uma vergonha. Primeiro, é reflexo do governo FHC, privatizaram até a segurança nacional. Será que a Abin [Agência Brasileira de Inteligência" e a PF precisavam contratar uma empresa
privada, sobre a qual ninguém
tem controle nem sabe que interesses defende, para assessorá-los? Fere a soberania nacional e o
papel do Estado. Segundo, analisar o MST pelo que sai na mídia é
ridículo. Terceiro, o MST não só
não é perigo para a democracia
como faz parte dela. Perigo para a
democracia são empresas fantasmas, remessas de dinheiro para o
exterior, contrabando, narcotráfico e corrupção. Espero que a PF
explique à sociedade essa consultoria espúria. E que os parlamentares analisem os acordos que a
PF fez no governo passado. (RV)
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