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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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"Agora entendo tanta incompetência", diz Stedile

DA REPORTAGEM LOCAL

O economista João Pedro Stedile, 49, um dos líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse que a ligação da entidade com movimentos sociais do exterior é "pública", principalmente com entidades rurais congêneres. Ele ridicularizou o estudo da PF, que apontou a questão agrária como mais importante que combater o crime organizado: "Agora entendo porque tanta incompetência para reprimir o narcotráfico, o contrabando e a corrupção". Leia a seguir trechos da entrevista.  

Folha - Como o sr. vê a decisão da PF de colocar o MST como prioridade, ao lado da crise colombiana?
João Pedro Stedile -
É lamentável. A luta pela reforma agrária é uma luta contra um problema social grave de nossa sociedade, a concentração da propriedade da terra, a existência de enormes latifúndios improdutivos, que prejudicam toda a sociedade. É uma luta pela aplicação da Constituição, que determina sua desapropriação. Nada tem a ver com a crise colombiana. Nem sequer há MST nos Estados fronteiriços com a Colômbia. Revela a inoportuna e indesejável influência que os serviços de inteligência dos Estados Unidos estão tendo na Polícia Federal, ferindo nossa soberania.

Folha - O motivo de o MST ter sido colocado como prioridade seria uma suposta aproximação da entidade com as Farc da Colômbia.
Stedile -
Isso é absolutamente mentiroso, e revela como estão despreparados. Agora entendo porque tanta incompetência para reprimir o narcotráfico, o contrabando e a corrupção. O MST é um movimento social que se dedica à luta pela reforma agrária, e todas as nossas relações no exterior são com movimentos camponeses como o nosso. Essas relações são públicas. Agora mesmo, no Fórum Social Mundial, realizamos uma assembléia mundial de organizações camponesas, acompanhada por toda a imprensa.

Folha - Qual o relacionamento do MST com as Farc?
Stedile -
Nenhum.

Folha - O estudo alega que o MST e outros movimentos sociais representam perigo para a democracia. Como o sr. vê isso?
Stedile -
Uma vergonha. Primeiro, é reflexo do governo FHC, privatizaram até a segurança nacional. Será que a Abin [Agência Brasileira de Inteligência" e a PF precisavam contratar uma empresa privada, sobre a qual ninguém tem controle nem sabe que interesses defende, para assessorá-los? Fere a soberania nacional e o papel do Estado. Segundo, analisar o MST pelo que sai na mídia é ridículo. Terceiro, o MST não só não é perigo para a democracia como faz parte dela. Perigo para a democracia são empresas fantasmas, remessas de dinheiro para o exterior, contrabando, narcotráfico e corrupção. Espero que a PF explique à sociedade essa consultoria espúria. E que os parlamentares analisem os acordos que a PF fez no governo passado. (RV)

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