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Do avião, Lula manda ministro negociar
A caminho dos EUA, presidente determina que governo faça acordo; tentativa de prisão de amotinados é abortada
Paulo Bernardo, titular do Planejamento, foi chamado para falar com sargentos;
interino José Alencar tem de voltar a Brasília às pressas
VALDO CRUZ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou, a caminho dos EUA, dentro do avião
presidencial, que o governo negocie com os controladores de
vôo, enviando o ministro Paulo
Bernardo (Planejamento) para
tentar costurar um acordo e
abortando uma tentativa de
prisão dos amotinados.
O presidente interino, José
Alencar, retornou às pressas de
Belo Horizonte, em Minas Gerais, para Brasília para comandar o gabinete de emergência
montado devido à crise.
Bernardo foi destacado para
negociar pessoalmente com os
sargentos amotinados em Brasília e já estava no Cindacta-1 às
22h30 de ontem. A presença de
alta autoridade do governo federal, que falasse em nome do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, foi exigida pelos controladores. Eles recusaram qualquer
conversa com oficiais militares.
Ao perceber a gravidade da
crise, no começo da noite de
ontem, reuniram-se os ministros que ainda permaneciam
em Brasília além de Bernardo:
general Jorge Armando Félix
(Gabinete de Segurança Institucional) e Franklin Martins
(Comunicação Social).
Foram ao encontro deles o
comandante da Força Aérea,
Juniti Saito, o chefe de gabinete
de Lula, Gilberto Carvalho, o
presidente da Infraero (que
cuida dos aeroportos), José
Carlos Pereira, e o presidente
da Agência Nacional de Aviação
Civil, Milton Zuanazzi.
Alencar foi avisado por telefone da crise aérea por Félix,
durante evento em Belo Horizonte da Associação dos Magistrados Mineiros. Em seguida,
embarcou para Brasília por volta das 21h30.
A FAB foi acionada para garantir a segurança do vôo do
presidente interino, que passaria pelos monitores dos controladores em greve, mas também
é vigiado pela Defesa Aérea.
Antes de embarcar, o presidente interino disse que a situação "extrapolou os limites"
e que o "país não pode ficar sujeito a situações como essas".
José Alencar afirmou ainda
que "a primeira coisa que pretendo fazer é conhecer o problema, depois as causas, para
examinar as soluções e escolher a melhor saída".
Durante a reunião inicial do
gabinete de crise, o comandante Saito decidiu prender os controladores de vôo militares. Porém, o próprio gabinete avaliou
que não haveria como prender
centenas de controladores, sem
que houvesse substitutos.
A única opção aos controladores de vôo, os operadores da
Defesa Aérea, não dariam conta
da retomada do fluxo de aviões.
Informado disso, o próprio
Lula considerou a decisão radical demais e orientou o gabinete de crise a enviar um emissário para tentar abrir uma negociação "sem quebra de hierarquia". Indicou Bernardo.
Segundo a ordem de Lula, era
preciso uma negociação que
colocasse fim imediato à greve
que paralisou a aviação brasileira na noite de ontem e que
abrisse com os controladores
um canal de interlocução que
pudesse solucionar o apagão
aéreo no médio prazo.
No entanto, como os controladores são militares e enfrentaram o comando da Aeronáutica, dizendo que não acatariam
suas ordens, seria preciso, na
avaliação presidencial, uma negociação que os fizesse voltar a
respeitar a hierarquia militar.
Saito, que chegou a se deslocar em direção ao aeroporto para dar ordem de prisão aos grevistas, desistiu.
Os amotinados chegaram a
exigir a presença de Dilma
Rousseff para deixar a sala de
controle, mas a ministra da Casa Civil está no Rio Grande do
Sul. Eles se recusavam a deixar
a sala de controle do radar, que
controla mais de 70% do movimento aéreo nacional.
Colaborou LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília
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