São Paulo, sábado, 31 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Do avião, Lula manda ministro negociar

A caminho dos EUA, presidente determina que governo faça acordo; tentativa de prisão de amotinados é abortada

Paulo Bernardo, titular do Planejamento, foi chamado para falar com sargentos; interino José Alencar tem de voltar a Brasília às pressas


VALDO CRUZ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou, a caminho dos EUA, dentro do avião presidencial, que o governo negocie com os controladores de vôo, enviando o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) para tentar costurar um acordo e abortando uma tentativa de prisão dos amotinados.
O presidente interino, José Alencar, retornou às pressas de Belo Horizonte, em Minas Gerais, para Brasília para comandar o gabinete de emergência montado devido à crise.
Bernardo foi destacado para negociar pessoalmente com os sargentos amotinados em Brasília e já estava no Cindacta-1 às 22h30 de ontem. A presença de alta autoridade do governo federal, que falasse em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi exigida pelos controladores. Eles recusaram qualquer conversa com oficiais militares.
Ao perceber a gravidade da crise, no começo da noite de ontem, reuniram-se os ministros que ainda permaneciam em Brasília além de Bernardo: general Jorge Armando Félix (Gabinete de Segurança Institucional) e Franklin Martins (Comunicação Social).
Foram ao encontro deles o comandante da Força Aérea, Juniti Saito, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, o presidente da Infraero (que cuida dos aeroportos), José Carlos Pereira, e o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, Milton Zuanazzi.
Alencar foi avisado por telefone da crise aérea por Félix, durante evento em Belo Horizonte da Associação dos Magistrados Mineiros. Em seguida, embarcou para Brasília por volta das 21h30.
A FAB foi acionada para garantir a segurança do vôo do presidente interino, que passaria pelos monitores dos controladores em greve, mas também é vigiado pela Defesa Aérea.
Antes de embarcar, o presidente interino disse que a situação "extrapolou os limites" e que o "país não pode ficar sujeito a situações como essas".
José Alencar afirmou ainda que "a primeira coisa que pretendo fazer é conhecer o problema, depois as causas, para examinar as soluções e escolher a melhor saída".
Durante a reunião inicial do gabinete de crise, o comandante Saito decidiu prender os controladores de vôo militares. Porém, o próprio gabinete avaliou que não haveria como prender centenas de controladores, sem que houvesse substitutos.
A única opção aos controladores de vôo, os operadores da Defesa Aérea, não dariam conta da retomada do fluxo de aviões.
Informado disso, o próprio Lula considerou a decisão radical demais e orientou o gabinete de crise a enviar um emissário para tentar abrir uma negociação "sem quebra de hierarquia". Indicou Bernardo.
Segundo a ordem de Lula, era preciso uma negociação que colocasse fim imediato à greve que paralisou a aviação brasileira na noite de ontem e que abrisse com os controladores um canal de interlocução que pudesse solucionar o apagão aéreo no médio prazo.
No entanto, como os controladores são militares e enfrentaram o comando da Aeronáutica, dizendo que não acatariam suas ordens, seria preciso, na avaliação presidencial, uma negociação que os fizesse voltar a respeitar a hierarquia militar.
Saito, que chegou a se deslocar em direção ao aeroporto para dar ordem de prisão aos grevistas, desistiu.
Os amotinados chegaram a exigir a presença de Dilma Rousseff para deixar a sala de controle, mas a ministra da Casa Civil está no Rio Grande do Sul. Eles se recusavam a deixar a sala de controle do radar, que controla mais de 70% do movimento aéreo nacional.


Colaborou LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Entrevista: "É preciso ouvir os controladores"
Próximo Texto: Análise: Voar passou a ser uma opção de alto risco
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.