São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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AVIAÇÃO

Trabalhadores rurais, que nunca haviam visto aparelho semelhante de perto, achavam que o avião ia explodir

"Pensei que não escaparia", disse passageira

DA AGÊNCIA FOLHA

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"Achei que fosse morrer". Foi assim que a enfermeira Maria Aparecida Oliveira Amaral, 42, descreveu o pouso forçado do Fokker-100 da TAM, que saiu de São Paulo com destino a Campo Grande, que aterrissou no pasto de um sítio no interior de SP.
Segundo ela, o vôo estava tranquilo até o momento em que o piloto avisou que, por causa, de um problema técnico, precisaria fazer pousar em Araçatuba.
"Uma aeromoça apareceu e pediu para apertarmos o cinto, segurarmos a nuca e apoiarmos a cabeça sobre nossas coxas. De repente, o avião começou a descer de uma vez, e vi os objetos voarem. As pessoas gritavam. Foi aí que pensei que não escaparia."
"Quando vi que não era aeroporto e que o avião estava descendo no pasto, pensei: vou morrer."
Até mesmo quem não estava no avião se assustou com o acidente. Era hora do almoço para os trabalhadores rurais de Birigui quando a aeronave aterrissou.
O acidente surpreendeu os moradores das redondezas que nunca haviam visto um aparelho semelhante de perto. "Achei que o avião ia explodir. A coisa foi feia, saía fumaça lá de trás, e o barulho foi muito alto. Não sei como não explodiu", disse Anderson Rodrigues da Silva, 21 anos.
Ele estava almoçando no sítio Santa Ana, quando viu o aparelho pousar. "Nem pensei em socorrer quem estava lá dentro, fiquei com medo de o avião explodir."
Quem chamou a polícia foi o caseiro Márcio Basílio, 26, do sítio São Judas Tadeu, vizinho ao Santa Ana, onde ocorreu o acidente.
Assustado com a baixa altitude, ele chamou o filho Nathanael, 4, e a mulher, Eliane Bernardes, 22, para observar o avião.
"A gente nunca viu nada disso por aqui, fiquei um pouco assustado porque o avião estava voando baixo, acho que uns 20 metros de altura, mas ainda assim, não pensei que cairia. Mas quando ele voltou, soltando fumaça, e vi que ele baixou de uma vez, achei que muita gente iria morrer."
Basílio usou um cavalo para ir até o local do acidente. "Vi que as pessoas estavam assustadas. Uma delas, acho que era aeromoça, estava com um hematoma sobre o olho. Uma senhora estava rezando, e outra, sentada, chorando, dizia não acreditar que estava viva."
A dona-de-casa Guiomar Valente soube que o avião em que seu marido, o pastor Mário Valente, 61, viajava sofreu um acidente minutos após a aeronave fazer o pouso forçado.
"Perdemos uma filha há oito meses em um acidente, e ele sabe como sou preocupada", disse. Segundo ela, Valente só conseguiu dizer: "Não se preocupe, estou bem. O avião caiu. Dizem que estamos na região de Araçatuba, mas não dá para saber direito".

Preocupação
Já a bancária Mirian Kakugawa, 26, estava no vôo 3499 da TAM, de Salvador a São Paulo. Ela disse que os passageiros só começaram a se preocupar por volta das 11h, horário previsto para o avião descer em São Paulo.
"Até aquele momento, não sabíamos o que estava atrasando o vôo", afirmou. Segundo ela, só às 11h15 os passageiros foram informados de que a aeronave estava com problemas e que haveria uma descida de emergência.
"Estávamos todos tensos, mas não tive tempo de pensar muito. O pouso até que foi tranquilo. Fora o impacto forte com o chão, tudo transcorreu normalmente."
Já o consultor Marcelo Prado, 46, de Uberlândia (MG), perdeu o vôo Campinas-Marília por conta da interdição de alguns vôos no aeroporto de Viracopos. Ele afirmou que também estava viajando de TAM e que a sucessão de acidentes com aviões da companhia o deixou preocupado. "A TAM deveria cuidar melhor da frota, principalmente dos Fokker-100."


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