São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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"As ferragens sugavam as pessoas", diz sobrevivente

Passageiros do trem e testemunhas relatam o pânico após o acidente no RJ

Falta de informação era a principal queixa das pessoas que procuravam seus familiares no local onde os dois trens se chocaram

ITALO NOGUEIRA
DIANA BRITO
DA SUCURSAL DO RIO

A cena do choque dos trens, terrível, ainda estava bem viva na lembrança do auxiliar de cozinha Edson Andrade, 33: "As ferragens foram sugando as pessoas aos poucos. Foi horrível: muito pânico, muita criança chorando e gente correndo".
Andrade estava no primeiro vagão, aquele em que houve mais mortos e feridos. Ele voltava do primeiro dia de trabalho num restaurante da Urca, na zona sul. Conseguiu sair por cima do trem com apenas um ferimento leve no joelho, graças à sua agilidade. Com o auxiliar estava o amigo, identificado como Didi.
Ninguém sabia dele: até a conclusão desta edição, Didi não havia sido localizado. Também ferida no choque, Marisa, 37, impressionou a irmã, Marizete Bento Pereira Pacheco, 37, com o relato que fez do acidente: "Ela disse que foi igual a um filme de ação. O trem veio rasgando tudo", afirmou. "Graças a Deus, ela [Marisa] só teve uma luxação da perna. Fico imaginando as pessoas que não tiveram essa sorte de poder estar aqui agora."
O drama das vítimas mobilizou quem passava pelo local. O feirante Fernando Abreu de Matos, 37, descia de uma van no momento do acidente e ajudou a socorrer as vítimas.

Nuvem de poeira

"Ouvi um estrondo e vi uma enorme nuvem de poeira subindo. A cena era desesperadora. Muita gente, inclusive crianças, gritando. Corpos mutilados, sem braços, sem cabeças, parecia um cenário de guerra", afirmou. "Espero conseguir esquecer tudo o que vi."
Desesperado, ele e mais cinco amigos quebraram parte do muro da linha férrea a marretadas para poder ajudar. "Cheguei a conseguir retirar um rapaz do meio das ferragens. Ele chorava muito, gritava de dor, e foi levado para o Hospital da Posse. Não sei se ele sobreviveu. Em seguida, os bombeiros e a Defesa Civil chegaram, isolaram a área e pediram que nós saíssemos. Então, não pudemos mais ajudar."
Matos disse à Folha esperar que as causas do acidente sejam apuradas, "e os responsáveis, punidos, como nas tragédias dos aviões". "Só não sei se isso vai acontecer, porque só morreu pobre." O feirante quase foi de trem de Copacabana, onde estava, a Austin. Chegou a parar na Central do Brasil, mas preferiu a van ao trem "porque é mais rápida e mais confortável".

Barulho
O barulho produzido pela batida dos trens tirou a estudante Maíra Reis, 17, do quarto. Ela mora a apenas uma casa da linha do trem, bem em frente ao local do acidente". "Do nada, escutei um estrondo muito, muito forte e muita gritaria.
Uma amiga comentou que deveria ser acidente de trem. Subimos ao terraço, vimos as pessoas ensangüentadas, gritando e pedindo socorro", afirmou. "Foi uma correria, os moradores saíram das casas para ajudar. Dei água com açúcar para uma senhora que, chorando muito, estava tremendo."
A falta de informação era a principal queixa das pessoas que procuravam seus familiares no local do acidente. "Minha mulher costuma chegar em casa neste horário e até agora, nada. Não tenho certeza se ela estava no trem. Estamos aqui preocupados e eles não dão informações. Isso é um absurdo", disse Genivaldo Jovino Teixeira, 41. Ele procurava pela mulher Maria Carmem da Silva, 36, e pela irmã, Fátima Jovito Teixeira, 42.

Reclamação
Reclamando muito de não ter sido atendida direito no hospital da Posse, em Nova Iguaçu, para onde foram levados a maioria dos feridos, Edeite Oliveira de Souza deixou a unidade no início da noite para procurar atendimento em outro local ao lado da irmão Liete. "Liberaram ela cheia de dor na coluna. Ela esta traumatizada. Viu muita gente morrendo do lado dela. Está revoltada porque foi liberada sem a menor explicação", contava sua irmã na porta do hospital.


Colaborou MÁRCIA BRASIL

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