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"As ferragens sugavam as pessoas", diz sobrevivente
Passageiros do trem e testemunhas relatam o pânico após o acidente no RJ
Falta de informação era a principal queixa das pessoas que procuravam seus familiares no local onde os dois trens se chocaram
ITALO NOGUEIRA
DIANA BRITO
DA SUCURSAL DO RIO
A cena do choque dos trens,
terrível, ainda estava bem viva
na lembrança do auxiliar de cozinha Edson Andrade, 33: "As
ferragens foram sugando as
pessoas aos poucos. Foi horrível: muito pânico, muita criança chorando e gente correndo".
Andrade estava no primeiro
vagão, aquele em que houve
mais mortos e feridos. Ele voltava do primeiro dia de trabalho num restaurante da Urca,
na zona sul. Conseguiu sair por
cima do trem com apenas um
ferimento leve no joelho, graças à sua agilidade.
Com o auxiliar estava o amigo, identificado como Didi.
Ninguém sabia dele: até a conclusão desta edição, Didi não
havia sido localizado.
Também ferida no choque,
Marisa, 37, impressionou a irmã, Marizete Bento Pereira Pacheco, 37, com o relato que fez
do acidente: "Ela disse que foi
igual a um filme de ação. O trem
veio rasgando tudo", afirmou.
"Graças a Deus, ela [Marisa] só
teve uma luxação da perna. Fico imaginando as pessoas que
não tiveram essa sorte de poder
estar aqui agora."
O drama das vítimas mobilizou quem passava pelo local. O
feirante Fernando Abreu de
Matos, 37, descia de uma van
no momento do acidente e ajudou a socorrer as vítimas.
Nuvem de poeira
"Ouvi um estrondo e vi uma
enorme nuvem de poeira subindo. A cena era desesperadora. Muita gente, inclusive
crianças, gritando. Corpos mutilados, sem braços, sem cabeças, parecia um cenário de
guerra", afirmou. "Espero conseguir esquecer tudo o que vi."
Desesperado, ele e mais cinco
amigos quebraram parte do
muro da linha férrea a marretadas para poder ajudar. "Cheguei a conseguir retirar um rapaz do meio das ferragens. Ele
chorava muito, gritava de dor, e
foi levado para o Hospital da
Posse. Não sei se ele sobreviveu. Em seguida, os bombeiros
e a Defesa Civil chegaram, isolaram a área e pediram que nós
saíssemos. Então, não pudemos mais ajudar."
Matos disse à Folha esperar
que as causas do acidente sejam apuradas, "e os responsáveis, punidos, como nas tragédias dos aviões". "Só não sei se
isso vai acontecer, porque
só morreu pobre."
O feirante quase foi de trem
de Copacabana, onde estava, a
Austin. Chegou a parar na Central do Brasil, mas preferiu a
van ao trem "porque é mais rápida e mais confortável".
Barulho
O barulho produzido pela batida dos trens tirou a estudante
Maíra Reis, 17, do quarto. Ela
mora a apenas uma casa da linha do trem, bem em frente ao
local do acidente". "Do nada,
escutei um estrondo muito,
muito forte e muita gritaria.
Uma amiga comentou que deveria ser acidente de trem. Subimos ao terraço, vimos as pessoas ensangüentadas, gritando
e pedindo socorro", afirmou.
"Foi uma correria, os moradores saíram das casas para
ajudar. Dei água com açúcar para uma senhora que, chorando
muito, estava tremendo."
A falta de informação era a
principal queixa das pessoas
que procuravam seus familiares no local do acidente. "Minha mulher costuma chegar em
casa neste horário e até agora,
nada. Não tenho certeza se ela
estava no trem. Estamos aqui
preocupados e eles não dão informações. Isso é um absurdo",
disse Genivaldo Jovino Teixeira, 41. Ele procurava pela mulher Maria Carmem da Silva,
36, e pela irmã, Fátima Jovito
Teixeira, 42.
Reclamação
Reclamando muito de não
ter sido atendida direito no
hospital da Posse, em Nova
Iguaçu, para onde foram levados a maioria dos feridos, Edeite Oliveira de Souza deixou a
unidade no início da noite para
procurar atendimento em outro local ao lado da irmão Liete.
"Liberaram ela cheia de dor
na coluna. Ela esta traumatizada. Viu muita gente morrendo
do lado dela. Está revoltada
porque foi liberada sem a menor explicação", contava sua irmã na porta do hospital.
Colaborou MÁRCIA BRASIL
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