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Tempo de exposição ao raio laser agrava lesão
Estudante teve edema na retina após se expor à luz do canhão de laser em rave
Médico diz que maioria dos canhões de laser são de categorias que têm comprimento de onda igual ao de equipamento cirúrgico
DA REPORTAGEM LOCAL
Os danos do laser nos olhos
estão relacionados ao tempo de
exposição aos raios e à potência
deles. "Quanto maiores forem
esses dois parâmetros, maior é
o risco", explica o oftalmologista Rubens Belfort Júnior, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O médico diz que, em geral,
as pessoas ignoram o perigo do
laser recreativo à visão. Isso,
somado à falta de fiscalização
no país, é um risco em potencial à visão das pessoas. "O laser
usado em cirurgias é muito
bem regulamentado. Não há razão para não acontecer o mesmo nesses shows."
O estudante da USP João, 20,
conta que há dois meses sofreu
um edema na retina após olhar
para os feixes de laser durante
uma rave. "Eu vacilei. Tinha bebido um pouco, não sei como
aconteceu. A sorte é que não fiquei com seqüelas. Na hora,
nem me toquei do perigo."
No Instituto Penido Burnier,
em Campinas, o oftalmologista
Leôncio Queiroz Neto também
atendeu um jovem que sofreu
queimadura superficial na retina durante uma rave.
"Ele permaneceu dias enxergando reflexos. Por sorte a
queimadura não causou baixa
da visão porque o tempo de exposição foi curto. Mas células
lesadas não têm recuperação."
O médico também cuidou de
um menino que se feriu brincando com uma ponteira de laser (as mesmas usadas em palestras). "Ele chegou ao consultório enxergando reflexos. Os
olhos de crianças até dez anos
são mais sensíveis porque a
transparência tanto da córnea
quanto do cristalino é maior e
têm menor capacidade de filtrar todo tipo de radiação."
Queiroz Neto afirma que a
maioria dos canhões de laser
usados em raves e shows são
das classes 3B e 4, com comprimento de onda equivalente ao
de equipamentos usados por
oftalmologistas em procedimentos médicos.
"Isso significa que se o facho
de luz for direcionado ao rosto
das pessoas, ou apontado sobre
superfícies refletoras, pode
causar desde lesões superficiais
até danos definitivos na retina.
Não é brincadeira."
Foi exatamente isso que
aconteceu na festa na Rússia,
onde raios laser, disparados em
tendas de plásticos, refletiram
e atingiram os olhos dos jovens.
"Foi chocante para nós. Os
shows com laser são seguros
desde que realizados por profissionais capacitados. Qualquer operador de laser competente deve saber que nunca se
direciona o raio de luz para o
público", afirmou Patrick
Murphy, diretor-executivo da
Ilda (Associação Internacional
de Exibições com Laser), que
tem integrantes em 34 países,
inclusive o Brasil.
Segundo ele, exibições com
laser têm sido uma prática popular nos últimos 40 anos no
mundo e, neste período, houve
poucos acidentes relacionados
a elas. "Todos ocasionados por
erros grosseiros na utilização
de laser", diz Murphy.
Após o incidente na Rússia, a
entidade exigiu que seus associados em 34 países reafirmem
seu conhecimento e o compromisso com a segurança do laser.
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