São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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Tempo de exposição ao raio laser agrava lesão

Estudante teve edema na retina após se expor à luz do canhão de laser em rave

Médico diz que maioria dos canhões de laser são de categorias que têm comprimento de onda igual ao de equipamento cirúrgico

DA REPORTAGEM LOCAL

Os danos do laser nos olhos estão relacionados ao tempo de exposição aos raios e à potência deles. "Quanto maiores forem esses dois parâmetros, maior é o risco", explica o oftalmologista Rubens Belfort Júnior, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O médico diz que, em geral, as pessoas ignoram o perigo do laser recreativo à visão. Isso, somado à falta de fiscalização no país, é um risco em potencial à visão das pessoas. "O laser usado em cirurgias é muito bem regulamentado. Não há razão para não acontecer o mesmo nesses shows."
O estudante da USP João, 20, conta que há dois meses sofreu um edema na retina após olhar para os feixes de laser durante uma rave. "Eu vacilei. Tinha bebido um pouco, não sei como aconteceu. A sorte é que não fiquei com seqüelas. Na hora, nem me toquei do perigo."
No Instituto Penido Burnier, em Campinas, o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto também atendeu um jovem que sofreu queimadura superficial na retina durante uma rave.
"Ele permaneceu dias enxergando reflexos. Por sorte a queimadura não causou baixa da visão porque o tempo de exposição foi curto. Mas células lesadas não têm recuperação."
O médico também cuidou de um menino que se feriu brincando com uma ponteira de laser (as mesmas usadas em palestras). "Ele chegou ao consultório enxergando reflexos. Os olhos de crianças até dez anos são mais sensíveis porque a transparência tanto da córnea quanto do cristalino é maior e têm menor capacidade de filtrar todo tipo de radiação."
Queiroz Neto afirma que a maioria dos canhões de laser usados em raves e shows são das classes 3B e 4, com comprimento de onda equivalente ao de equipamentos usados por oftalmologistas em procedimentos médicos.
"Isso significa que se o facho de luz for direcionado ao rosto das pessoas, ou apontado sobre superfícies refletoras, pode causar desde lesões superficiais até danos definitivos na retina. Não é brincadeira."
Foi exatamente isso que aconteceu na festa na Rússia, onde raios laser, disparados em tendas de plásticos, refletiram e atingiram os olhos dos jovens.
"Foi chocante para nós. Os shows com laser são seguros desde que realizados por profissionais capacitados. Qualquer operador de laser competente deve saber que nunca se direciona o raio de luz para o público", afirmou Patrick Murphy, diretor-executivo da Ilda (Associação Internacional de Exibições com Laser), que tem integrantes em 34 países, inclusive o Brasil.
Segundo ele, exibições com laser têm sido uma prática popular nos últimos 40 anos no mundo e, neste período, houve poucos acidentes relacionados a elas. "Todos ocasionados por erros grosseiros na utilização de laser", diz Murphy.
Após o incidente na Rússia, a entidade exigiu que seus associados em 34 países reafirmem seu conhecimento e o compromisso com a segurança do laser.


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