São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

2 TRÂNSITO

Acidentes caem com calçadas melhores

DA REPORTAGEM LOCAL

Ruas, avenidas e túneis tornaram-se o lugar comum de qualquer proposta para o trânsito de São Paulo. Laurindo Junqueira, um físico com pós-graduação em engenharia pela USP, prefere olhar um pouco mais para o lado das ruas para tentar equacionar o problema: defende que é preciso recuperar as calçadas.
Um levantamento feito pelo Metrô em 2002 dá razões estatísticas para a sua proposta. Os pedestres formam o maior grupo: 38% dos deslocamentos de mais de 500 metros em São Paulo são feitos a pé. O transporte coletivo responde por 30% dos deslocamentos e os carros, por 32%.
"Calçada é simples de construir, não custa caro e tem um impacto rápido", diz Junqueira, que atuou na área de transportes.
O descaso com as calçadas pode ser aferido no Hospital das Clínicas: 19% dos acidentados no trânsito tratados ali são pedestres que caíram em calçadas, segundo a fisiatra Júlia Greve.
Para o urbanista João Valente, o descuido leva o morador a romper os laços que tinha com a cidade. "Estamos vivendo uma crise de civilidade. A calçada deixou de ser patrimônio público."
Para recuperar as calçadas, Junqueira defende uma mudança na legislação. A tarefa de construir, padronizar e fiscalizar as calçadas deveria passar para a prefeitura.
Os camelôs que ocupam os calçadões deveriam trabalhar nos terminais de ônibus, em espaços padronizados, segundo ele. Junqueira conta que era contra o comércio no Metrô, mas mudou de idéia após o sucesso do shopping na estação Tatuapé.
Para o especialista, o investimento em calçadas tem de ser acompanhado de medidas para melhorar o transporte público e desestimular o uso do carro.
São Paulo poderia mirar-se no exemplo de Tóquio, que, em 1973, começou a adotar medidas contra quem tem mais de um carro -o morador tem de provar que tem garagens para guardá-los.
A ineficiência dos carros está provada, para ele: a velocidade com que andam em São Paulo (cerca de 20 km/h) é similar à das carruagens do século 19.


Texto Anterior: 1 transporte público: Ônibus com tabela de horários atrai usuários
Próximo Texto: 3 cultura: Beleza deve ser valor central dos projetos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.