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Bichos - Sílvia Corrêa

correa-silvia@uol.com.br

Férias para o seu cão

Se você está de malas prontas e vai deixá-lo num bom hotel, viaje sem culpa. Ele pode se divertir longe de você

Tivemos hóspede no Natal: Chiara, a pequena lhasa apso de um casal de amigos que decidiu passar uns dias no Uruguai.

Quando eles me perguntaram se a menina poderia ficar lá em casa, fiquei apreensiva. Será que ela se adaptaria à rotina e aos meus cães?

Sugeri, então, que fizéssemos uma tentativa: Chiara ficaria comigo por um fim de semana, antes da viagem. Se tivéssemos problemas, saberíamos que as férias seriam inviáveis.

Ela chegou numa sexta-feira para o test drive. Tão pequena, tão limpinha... Fiquei imaginando aquela bolinha de pelos rolando pela grama e achei melhor deixá-la no meu quarto. Foi o começo do meu tormento.

Chiara passou a latir sem parar, vomitar e fazer cocô por toda a parte -diarreico, evidentemente. Passei a tarde limpando o chão e colocando lençóis para lavar.

A noite chegou e imaginava que ela me trouxesse algum sossego. Nada. A bichinha não pregou o olho, recusou-se a comer e continuou a lambuzar o quarto com o quase nada que tinha no estômago.

Já amanhecia quando cheguei ao meu limite e decidi colocar Chiara em um dos canis. Escolhi o menos populoso, onde vive a velha vira-lata Mel e seus fiéis escudeiros -o pequeno Kanda e a golden Jade. Mel manda em tudo. Era com ela que Chiara precisava se dar bem.

Deixamos a visitante no chão, sem que o trio a visse, e empunhamos uma mangueira. Quando eles a notaram, iniciou-se o cheira-cheira. E a cada ouriçar de pelos, sobrava água para todo mundo. Foi assim por uns cinco minutos, até que todos passaram a andar juntos.

O sábado e o domingo se passaram sem que notássemos a presença da hóspede, que corria para cima e para baixo com os novos amigos. À noite, consegui fotografá-la dormindo na barriga da velha Mel. A segunda-feira chegou e Chiara foi para casa, com o passaporte carimbado para a próxima visita.

A volta da pequena hóspede se deu agora, no Natal. Ela foi direto para o canil da Mel. Não houve vômito, não houve diarreia, não houve choro noturno -nem durante o infernal foguetório da meia-noite. O único cuidado que tivemos foi o de ficar com eles na hora das refeições -porque ossos e ração lideram o ranking de desentendimentos caninos. Foram seis dias de diversão.

Chiara foi embora na quarta-feira, mesmo dia em que jornais e TVs divulgavam a lotação dos hotéis para cachorros em São Paulo.

Fiquei pensando no dilema dos donos dedicados, que viajam com o coração na mão, e decidi contar a eles minha experiência com Chiara.

A pequena lhasa me deu um delicioso presente de Natal: me mostrou que cães nem sempre ficam melhor perto da gente. Chiara odiou estar no meu quarto, mas ficou bem onde pôde correr, sentir cheiros novos, rolar com outros cães. E ficou ainda melhor na segunda visita, quando parecia já ter entendido que tudo aquilo era temporário.

Portanto, se você está de malas prontas para as férias, com o nome de seu cão na fila de um BOM hotel, viaje sem culpa. Acredite: ele pode se divertir longe de você.

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Jairo Marques

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