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Restaurante é suspeito de racismo em SP

Segundo casal espanhol, filho foi retirado do estabelecimento quando estava sozinho à mesa e colocado na rua, no Paraíso

Advogado da empresa nega preconceito contra garoto de seis anos, que é negro; Polícia Civil abriu inquérito ontem

GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

A Polícia Civil abriu ontem um inquérito para apurar a suspeita de crime de preconceito racial e constrangimento ilegal contra um menino etíope de seis anos, filho adotivo de um casal espanhol.

Segundo os pais, a criança, que é negra, foi retirada do restaurante Nonno Paolo, no Paraíso, zona sul paulistana, quando esperava em uma mesa. O casal estava se servindo no bufê do local.

O caso ocorreu no dia 30. Segundo depoimento de familiares, a criança foi colocada para fora por um funcionário. O estabelecimento nega.

A mãe do menino, Cristina, 42, uma técnica de administração da Universidade de Barcelona que pede para não ter o sobrenome divulgado, disse que, ao se dar conta do sumiço do garoto, correu desesperada para a rua, onde o encontrou chorando.

Indignados, Cristina e Jordi, seu marido, deixaram os pratos e foram embora. Depois, registraram um boletim de ocorrência na delegacia.

O caso foi denunciado no site Facebook pela tia da criança, a designer Maína Junqueira, 50, e publicado no blog do jornalista Luís Nassif. O episódio gerou uma avalanche de críticas, mas também comentários a favor do estabelecimento.

"Pelas circunstâncias, das características da criança, é difícil não interpretar que não tenha havido um dos crimes previstos na lei 7.716 (de crimes raciais)", disse o delegado titular do 36º DP (Paraíso), Marcio de Castro Nilsson.

O inquérito servirá para apurar se foi desrespeitado o artigo 8º da lei, segundo o qual é crime de preconceito racial "impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público".

A pena é de um a três anos de prisão. A polícia agora tenta identificar o funcionário suspeito de retirar o garoto.

PRATOS LIMPOS

Revoltada, Aurora Costales Junqueira, 77, tia-avó da criança, foi ao restaurante depois que Cristina, sua sobrinha, chegou à casa dela e contou o acontecido.

"Fui lá e disse que não sairia dali enquanto não houvesse uma explicação. Aí veio um senhor muito prepotente e disse: 'fui eu'", contou.

Segundo ela, o funcionário disse ter perguntado à criança o que ela queria, mas não obteve resposta -o menino não fala português.

"Aí ele botou o menino para fora. Pelo que a criança me disse, ele o pegou pelo braço", afirmou Aurora.

Ela disse que o funcionário disse ter confundido a criança com meninos de rua que pedem esmolas a clientes.

Para familiares do menino, o caso é uma "mistura de dor e vergonha". "Eu quero que tenha, no mínimo, uma reprimenda", disse Aurora.

Numa reunião de família, o menino fez um pedido um dia antes de ir embora para a Espanha: "Por favor, chega de falar disso".

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