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Esconde-esconde alterna policiais e usuários no centro

Desde terça-feira, rotina na cracolândia é ver PMs chegando e consumidores de crack se espalhando

Em ruas como Helvétia, dos Andradas, General Osório, Júlio Marcondes Filho e Guaianases, a dinâmica se repete

Danilo Verpa/Folhapress
Policiais a cavalo abordam usuários de crack na rua dos Andradas, no centro, ontem
Policiais a cavalo abordam usuários de crack na rua dos Andradas, no centro, ontem

EMILIO SANT’ANNA
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Domingo, 16h50, esquina da avenida Ipiranga com a rua do Boticário, centro de São Paulo. A GCM (Guarda Civil Metropolitana) aborda dois suspeitos. Em poucos minutos, dezenas de usuários de crack esvaziam o local.

Domingo, 17h30, esquina da avenida Ipiranga com rua do Boticário. Dezenas de usuários retornam, e o consumo de crack recomeça. Na esquina, ao lado de um cinema pornô, um taxista está no ponto, alheio ao movimento.

Desde a última terça-feira, quando a Polícia Militar começou a ocupar a cracolândia, a região virou um grande jogo de esconde-esconde.

Rua dos Gusmões, Helvétia, Andradas, General Osório, Júlio Marcondes Filho, Guaianases, Apa, a dinâmica é a mesma em qualquer um desses pontos.

PM ou GCM chegam, abordam usuários de crack, revistam alguns e, na maioria das vezes, liberam os suspeitos. Em minutos, a aglomeração volta para o mesmo local.

"A gente sai mas volta, vai fazer o quê?", diz Daniela Silva, 35, usuária de crack, grávida de oito meses. "Tenho casa, mas fico por aqui."

Com os olhos fixos no chão, mãos para trás e chorando, ela tenta explicar a dois policiais militares o que fazia ontem à tarde na esquina das ruas Apa com General Marcondes Salgado.

"Usar eu uso, não posso negar, por isso 'tô' aqui, mas não sou bandido."

A barriga contrasta com o corpo magro e sujo. Ela espera uma menina que deve nascer em fevereiro -ainda não escolheu o nome.

Ao seu lado, Marcos André dos Santos, 34, tem um cachimbo para o consumo da droga. Os policiais consultam os antecedentes de ambos. Estão limpos, já podem ir.

Na rua dos Andradas, por volta das 17h, dez usuários estão nas calçadas. Ali, entre General Osório e Gusmões, o consumo do crack é livre.

A cavalaria da PM chega, e o movimento agora se transforma numa "romaria" de pessoas deixando o local.

Dois ficam para a "averiguação". "Eles vão voltar, mas não podemos deixar formar grupos", diz um policial.

Uma senhora chega e passa entre os cavalos. Tereza Beatriz Viega, 68, procura a nora, "uma loira alta, grávida de três meses", segundo ela.

O policial orientou-a a ir para a praça Princesa Isabel. Lá, poderia ter mais sorte.

No início da tarde, na rua Guaianases, era como se não houvesse operação policial alguma na região: dez pessoas formam pequenos grupos para fumar crack. Um carro de polícia passa, o grupo se dispersa.

SEGURANÇA

No final da tarde de sábado, a secretária da Justiça de São Paulo, Eloisa Arruda, circulou pela região de carro. À Folha ela elogiou a operação, que vê como positiva.

Segundo ela, devido à presença da PM, as famílias da região puderam voltar às ruas. "O objetivo principal é não permitir a atuação do traficante. Agora que começamos, vamos até o fim".

A secretária diz que se a operação conseguir tirar da rua a metade, ou mesmo 20% dos usuários, é um grande ganho para a sociedade.

Colaborou RICARDO GALLO

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