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Minha História Thalyta Temiski, 14

Doce veneno

Debutante ficou em coma e teve duas paradas cardiorrespiratórias após comer brigadeiro envenenado por mulher que organizava festa

NATÁLIA CANCIAN
DE SÃO PAULO

RESUMO
Em 12 de março Thalyta Temiski, 14, e outros três amigos foram internados em Curitiba (PR) após comerem doces envenenados. Dias depois, a polícia identificou a suspeita de ter cometido o crime: Margarete Marcondes, 45, contratada para organizar a festa de 15 anos da garota. Ela foi presa no sábado e confessou à polícia que queria adiar a festa pois gastou o dinheiro recebido.

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Naquele dia, estava sentada em frente de casa quando um taxista chegou, parou o carro e perguntou se eu era a Thalyta. Eu disse que sim e ele entregou os brigadeiros.

Eram uns 12, e estavam em uma caixa preta com bolinhas brancas. Alguns tinham um granulado em volta que parecia um feijãozinho.

Dentro da caixa tinha um papel com o nome de uma doceria e um telefone. E uma mensagem que dizia: "Debutante, se você ainda não fechou os doces para sua festa, segue amostra".

Na hora eu nem pensei em nada, só pensei no chocolate [ri]. Comi um, dois. Eram bem gostosos. Depois minha amiga chegou e comemos mais. Saímos para caminhar na rua e dividimos com mais dois piás [meninos] que pediram.

Quando eu cheguei em casa já estava me sentindo estranha. Lembro que sentei no sofá e falei para meu pai que estava passando mal. No início tive vômito, febre. Suava frio. Mas aí desmaiei e me levaram às pressas para um médico. Só lembro da minha mãe falando para meu pai que eu não estava mais respirando. Depois, apaguei.

Tive duas paradas cardiorrespiratórias. Fiquei oito dias no hospital e quatro dias em coma. Minha amiga ficou na UTI também.

Foi estranho quando soube que os brigadeiros estavam envenenados. Não imaginava que aquilo estava acontecendo comigo. Tinha medo de pensar que tentaram me matar e que poderiam vir atrás de mim de novo.

CONFIANÇA

Eu e minha família levamos um susto quando vimos as notícias de que a Margarete [presa no sábado] era a mulher que entregara a caixa de doces para o taxista.

Nós nos conhecíamos há uns três anos e ela era de confiança. Ela foi indicada por um amigo dos meus pais para fazer a festa de 15 anos da minha irmã.

A Margarete sempre foi um amor de pessoa. Até o vestido eu via com ela. Ela vinha aqui em casa, me buscava. Tinha dias em que a gente saía às 9h e só voltava às 19h.

Ela acompanhava as fotos, a gravação do clipe, dava dicas, decidia o DJ. Se fosse só pelo dinheiro dos doces, ela não ia fazer isso. Mas ela estava fazendo a festa toda.

Quando eu estava no hospital, ela chegou a ir em casa e chorou muito. Disse para os meus pais que ia rezar.

CHOQUE

Foi um choque quando soube que ela confessou. Me desesperei. Era quem a gente menos esperava. Raiva não tenho, mas fiquei magoada.

Ela não tinha motivo para fazer isso. Eu já pedi a meus pais para vê-la, até para esclarecer tudo, porque não entendo o que aconteceu, mas eles não deixam. Agora, só no julgamento.

Depois que saí do hospital, ainda tenho algumas dores, mas nada de tão ruim. O coração acelera às vezes, o braço dói e tem uma perna que de vez em quando amolece.

Já voltei a estudar. É complicado recuperar todas as aulas que perdi, mas acho que consigo.

A festa é na semana que vem, no sábado. Faço aniversário no dia 15. Tivemos que refazer tudo de última hora. Perdemos todo o dinheiro.

Antes, eu queria que a festa tivesse o tema "cinema". Agora vai ser o básico, mas vai ser bem bonito. Vai ter valsa, bolo, balada e o príncipe.

Vai ser a prova de que eu preciso para eu mostrar que estou melhor. Espero que seja tudo perfeito.

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