São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2008

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BC reforça expectativa de alta nos juros

Banco Central teme que ritmo forte de crescimento pressione preços e dificulte o cumprimento da meta da inflação

Autoridade monetária vê cenário externo com preocupação mas acha que não deve ter muito impacto na economia brasileira

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central endureceu um pouco o discurso em relação à sua política de controle da inflação, indicando que irá aumentar os juros caso perceba que a alta dos preços observada nos últimos meses está se disseminando pela economia.
O recado foi dado por meio da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), divulgada ontem. O documento expõe os motivos que, na semana passada, levaram o BC a manter a Selic em 11,25% anuais até março, data do próximo encontro.
"Mesmo considerando que, no momento, a manutenção da taxa básica de juros é a decisão mais adequada, o Comitê reitera que está pronto para adotar uma postura diferente, por meio do ajuste dos instrumentos de política monetária, caso venha a se consolidar um cenário de divergência entre a inflação projetada e a trajetória das metas", diz o texto.
A preocupação do BC, já expressa anteriormente, é que a economia brasileira esteja crescendo num ritmo excessivamente forte e que isso possa pressionar a inflação. Esse risco existe caso o nível de consumo no país aumente tanto que as empresas não sejam capazes de produzir o suficiente para atender à demanda existente, favorecendo reajustes de preço.
A crise enfrentada pelos mercados internacionais é citada pela ata como uma fonte de preocupação, mas segundo o texto essa turbulência não deve afetar de forma significativa a economia do país.
Para Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, a instabilidade do cenário externo precisa ser acompanhada de perto, mas é preciso considerar que uma desaceleração da economia mundial pode trazer alguns benefícios para a inflação no Brasil, como a redução nos preços de produtos agrícolas. "O que ainda preocupa é o descompasso entre oferta e demanda", afirma.
Apesar do tom um pouco mais incisivo do BC sobre uma possível alta dos juros, Teles diz que o mais provável é que isso ainda não aconteça no próximo encontro do Copom. "Em março, ainda não será conhecido nem o IPCA de fevereiro. O mais provável é que o BC espere até abril, quando já terá mais dados à sua disposição."
O economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, diz que o Copom também está atento ao maior pessimismo em relação à inflação. Pesquisa feita pelo próprio BC entre cerca de cem analistas de mercado mostra que, de novembro para cá, a média das projeções para a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) neste ano passou de 4,10% para 4,45%. O centro da meta para o IPCA a ser buscada pelo BC neste ano é de 4,5%.
Nesse caso, o próprio discurso contido na ata do Copom já seria uma maneira de tentar convencer o setor privado de que não haveria motivos para desconfiança em relação ao cumprimento da meta de inflação, pois, em caso de aceleração dos preços, o BC não hesitaria em elevar os juros. "Só esse discurso já fez com que a inclinação da curva de juros ficasse positiva, e isso tem impacto imediato no mercado de crédito", afirma Lintz, referindo-se à alta dos juros futuros negociados no mercado financeiro devido aos sinais de que o BC terá mais cautela na condução de sua política de juros.
Do conteúdo da ata do Copom entende-se também que a maior fonte de pressão sobre a inflação vem dos chamados preços livres, ou seja, que não são controlados pelo governo, pois as estimativas para as tarifas públicas se mostram relativamente estáveis.
O BC inclusive reduziu de 4,5% para 4,2% sua projeção para o reajuste esperado neste ano para o conjunto de preços administrados. Essa conta foi feita, segundo a ata, considerando-se que não haverá aumentos nos preços da gasolina e do gás de cozinha em 2008.


Leia a íntegra da ata do Copom

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