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BC reforça expectativa de alta nos juros
Banco Central teme que ritmo forte de crescimento pressione preços e dificulte o cumprimento da meta da inflação
Autoridade monetária vê cenário externo com
preocupação mas acha que não deve ter muito impacto
na economia brasileira
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central endureceu
um pouco o discurso em relação à sua política de controle da
inflação, indicando que irá aumentar os juros caso perceba
que a alta dos preços observada
nos últimos meses está se disseminando pela economia.
O recado foi dado por meio
da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), divulgada ontem.
O documento expõe os motivos
que, na semana passada, levaram o BC a manter a Selic em
11,25% anuais até março, data
do próximo encontro.
"Mesmo considerando que,
no momento, a manutenção da
taxa básica de juros é a decisão
mais adequada, o Comitê reitera que está pronto para adotar
uma postura diferente, por
meio do ajuste dos instrumentos de política monetária, caso
venha a se consolidar um cenário de divergência entre a inflação projetada e a trajetória das
metas", diz o texto.
A preocupação do BC, já expressa anteriormente, é que a
economia brasileira esteja
crescendo num ritmo excessivamente forte e que isso possa
pressionar a inflação. Esse risco existe caso o nível de consumo no país aumente tanto que
as empresas não sejam capazes
de produzir o suficiente para
atender à demanda existente,
favorecendo reajustes de preço.
A crise enfrentada pelos
mercados internacionais é citada pela ata como uma fonte de
preocupação, mas segundo o
texto essa turbulência não deve
afetar de forma significativa a
economia do país.
Para Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, a instabilidade do cenário
externo precisa ser acompanhada de perto, mas é preciso
considerar que uma desaceleração da economia mundial pode trazer alguns benefícios para a inflação no Brasil, como a
redução nos preços de produtos agrícolas. "O que ainda
preocupa é o descompasso entre oferta e demanda", afirma.
Apesar do tom um pouco
mais incisivo do BC sobre uma
possível alta dos juros, Teles diz
que o mais provável é que isso
ainda não aconteça no próximo
encontro do Copom. "Em março, ainda não será conhecido
nem o IPCA de fevereiro. O
mais provável é que o BC espere até abril, quando já terá mais
dados à sua disposição."
O economista-chefe do BNP
Paribas, Alexandre Lintz, diz
que o Copom também está
atento ao maior pessimismo
em relação à inflação. Pesquisa
feita pelo próprio BC entre cerca de cem analistas de mercado
mostra que, de novembro para
cá, a média das projeções para a
alta do IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) neste
ano passou de 4,10% para
4,45%. O centro da meta para o
IPCA a ser buscada pelo BC
neste ano é de 4,5%.
Nesse caso, o próprio discurso contido na ata do Copom já
seria uma maneira de tentar
convencer o setor privado de
que não haveria motivos para
desconfiança em relação ao
cumprimento da meta de inflação, pois, em caso de aceleração
dos preços, o BC não hesitaria
em elevar os juros. "Só esse discurso já fez com que a inclinação da curva de juros ficasse positiva, e isso tem impacto imediato no mercado de crédito",
afirma Lintz, referindo-se à alta dos juros futuros negociados
no mercado financeiro devido
aos sinais de que o BC terá mais
cautela na condução de sua política de juros.
Do conteúdo da ata do Copom entende-se também que a
maior fonte de pressão sobre a
inflação vem dos chamados
preços livres, ou seja, que não
são controlados pelo governo,
pois as estimativas para as tarifas públicas se mostram relativamente estáveis.
O BC inclusive reduziu de
4,5% para 4,2% sua projeção
para o reajuste esperado neste
ano para o conjunto de preços
administrados. Essa conta foi
feita, segundo a ata, considerando-se que não haverá aumentos nos preços da gasolina
e do gás de cozinha em 2008.
Leia a íntegra da ata do Copom
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