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Banco espera que discurso duro faça efeito
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A estratégia do governo,
comandada pelo presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles, diante dos desdobramentos da crise nos EUA
é a de tentar, com discursos
firmes, minimizar os efeitos
da crise externa no mercado
interno e evitar uma intervenção de fato.
O temor de que um ciclo
negativo influenciado pelo
cenário externo se instale
entre empresários e consumidores faz com que as principais autoridades do país
ameacem fazer o que não
querem: elevar juros.
A idéia é que se o mercado
acreditar que o BC pode subir a Selic, ele antecipa essa
alta e faz parte do trabalho
para o governo, encarecendo
o custo dos empréstimos, retraindo o crédito e diminuindo as chances de o Copom se
desgastar com aumento dos
juros num ano de eleições.
Os juros futuros seguiram
esse caminho e desde o segundo semestre de 2007 estão em alta. Recentemente,
as projeções para dois anos
embutiram alta de até dois
pontos percentuais.
A ata do Copom divulgada
ontem também reforçou essa linha, mas ainda assim o
BC não está confortável.
O motivo, segundo a Folha
apurou, é que o aumento nos
juros promovido pelo mercado não ajuda a conter as
expectativas de inflação, o
principal foco do BC. Ao
mesmo tempo, as apostas de
alta na taxa já na reunião do
Copom de março cresceram.
Ainda assim, segundo a
Folha apurou, a avaliação do
governo é que a situação está
sob controle porque o BC
passou seu recado mas não
"amarrou as mãos". O Copom não se comprometeu
com uma alta dos juros,
"apenas elevou o tom" de que
pode aumentá-los. E ainda
ontem adotou medida monetária restritiva sem mexer
na Selic, ao elevar depósitos
compulsórios dos bancos
(leia texto na pág. B3).
Meirelles, seguindo seu
ídolo, o ex-presidente do Fed
(o BC dos EUA) Alan Greenspan, tem insistido na tese de
que, como o Brasil tem condições de avaliar melhor os
desdobramentos do cenário
internacional, é preferível
recrudescer o discurso aos
poucos, à medida que a crise
mostra seus efeitos, mas sem
ficar preso a essa posição.
Ciente de que o maior temor do presidente Lula é
uma disparada na inflação,
Meirelles aproveita para se
fortalecer politicamente. Internamente, concentra na figura do presidente o papel de
único porta-voz da instituição, tentando copiar para o
Brasil o modelo da gestão
Greenspan, que em muitos
momentos dispensou ações.
Seus discursos foram suficientes para conduzir o mercado da maior economia do
mundo.
Hoje, Meirelles não divide
mais a cena com outros diretores, como acontecia durante a gestão de Afonso Beviláqua na diretoria de Política
Econômica. Ao contrário, o
restante do Copom tem se
recolhido cada vez mais, e até
as tradicionais reuniões com
analistas e economistas foram "burocratizadas" na
avaliações de participantes
desses encontros ouvidos
pela Folha.
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