São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2008

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Banco espera que discurso duro faça efeito

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estratégia do governo, comandada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, diante dos desdobramentos da crise nos EUA é a de tentar, com discursos firmes, minimizar os efeitos da crise externa no mercado interno e evitar uma intervenção de fato.
O temor de que um ciclo negativo influenciado pelo cenário externo se instale entre empresários e consumidores faz com que as principais autoridades do país ameacem fazer o que não querem: elevar juros.
A idéia é que se o mercado acreditar que o BC pode subir a Selic, ele antecipa essa alta e faz parte do trabalho para o governo, encarecendo o custo dos empréstimos, retraindo o crédito e diminuindo as chances de o Copom se desgastar com aumento dos juros num ano de eleições.
Os juros futuros seguiram esse caminho e desde o segundo semestre de 2007 estão em alta. Recentemente, as projeções para dois anos embutiram alta de até dois pontos percentuais.
A ata do Copom divulgada ontem também reforçou essa linha, mas ainda assim o BC não está confortável.
O motivo, segundo a Folha apurou, é que o aumento nos juros promovido pelo mercado não ajuda a conter as expectativas de inflação, o principal foco do BC. Ao mesmo tempo, as apostas de alta na taxa já na reunião do Copom de março cresceram.
Ainda assim, segundo a Folha apurou, a avaliação do governo é que a situação está sob controle porque o BC passou seu recado mas não "amarrou as mãos". O Copom não se comprometeu com uma alta dos juros, "apenas elevou o tom" de que pode aumentá-los. E ainda ontem adotou medida monetária restritiva sem mexer na Selic, ao elevar depósitos compulsórios dos bancos (leia texto na pág. B3).
Meirelles, seguindo seu ídolo, o ex-presidente do Fed (o BC dos EUA) Alan Greenspan, tem insistido na tese de que, como o Brasil tem condições de avaliar melhor os desdobramentos do cenário internacional, é preferível recrudescer o discurso aos poucos, à medida que a crise mostra seus efeitos, mas sem ficar preso a essa posição.
Ciente de que o maior temor do presidente Lula é uma disparada na inflação, Meirelles aproveita para se fortalecer politicamente. Internamente, concentra na figura do presidente o papel de único porta-voz da instituição, tentando copiar para o Brasil o modelo da gestão Greenspan, que em muitos momentos dispensou ações. Seus discursos foram suficientes para conduzir o mercado da maior economia do mundo.
Hoje, Meirelles não divide mais a cena com outros diretores, como acontecia durante a gestão de Afonso Beviláqua na diretoria de Política Econômica. Ao contrário, o restante do Copom tem se recolhido cada vez mais, e até as tradicionais reuniões com analistas e economistas foram "burocratizadas" na avaliações de participantes desses encontros ouvidos pela Folha.


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