São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

4 ANOS DE LULA / VISÃO DO GOVERNO

Lula se queixa de previsões erradas

Equipe econômica, que ontem destacou ritmo maior no fim do ano, prometeu taxas acima de 4% em 2006

Dentro do Planalto, juros praticados pelo BC foram apontados mais uma vez como principal vilão para o crescimento modesto


VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O discurso oficial do governo Lula ontem ao comentar o crescimento de 2,9% do PIB em 2006 foi que, apesar de "modesto" e "abaixo do desejado", o resultado trouxe dados positivos, como o aumento de 6,3% dos investimentos, apontando para uma expansão da economia neste ano acima dos 4%. Internamente, porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo se dizendo "otimista", queixou-se de que, no ano passado, sua equipe econômica chegou a prometer uma taxa superior a 4%.
Dentro do Palácio do Planalto, os juros praticados pelo Banco Central mais uma vez foram apontados como principal responsável pelo baixo crescimento observado no ano passado. O argumento mais usado é que o BC poderia ter acelerado mais a queda dos juros, já que a inflação de 2006 (3,14% pelo IPCA) ficou bem abaixo do centro da meta, de 4,5%.
Os juros mais altos atraíram dólares ao país e promoveram uma valorização do real, prejudicando setores da indústria brasileira e aumentando as importações. A defesa do BC é que foi essa política que permitiu a queda da inflação, carro-chefe da reeleição do presidente Lula no ano passado.
As queixas, no entanto, ficaram restritas aos comentários internos. O governo preferiu adotar um discurso otimista diante dos dados positivos registrados no últimos trimestre do ano passado.
"O resultado, modesto, foi aquém do que gostaríamos e do que o país precisa, mas sinaliza que teremos neste ano um crescimento parecido com o de 2004, quando crescemos 4,9%", disse o ministro Paulo Bernardo (Planejamento).
Lula foi informado logo cedo por Paulo Bernardo sobre os números finais do PIB no ano passado. Ele destacou principalmente a alta de 6,3% nos investimentos no ano passado, o que deve permitir um crescimento maior em 2007 sem pressões inflacionárias.

Inflação controlada
Ou seja, como as empresas investiram mais no ano passado, a capacidade de produção subiu para atender a uma aceleração no crescimento do consumo sem necessidade de grandes aumentos de preços. A expectativa do governo é que o consumo das famílias, que subiu 3,8% em 2006, mantenha o ritmo de alta neste ano.
Para o ministro Guido Mantega (Fazenda), o resultado do PIB foi influenciado pela queda nos juros, processo iniciado em setembro de 2005.
"Já estamos começando a colher o fruto dessa redução", disse Mantega. Segundo ele, o PIB de 2006 só não foi maior devido aos problemas enfrentados pelo setor agrícola e pela alta taxa de juros.
Mantega avalia que o fato de o PIB ter crescido a um ritmo mais acelerado no último trimestre do ano, 1,1% na comparação com o trimestre anterior e cerca de 4,5% no resultado anualizado, mostra que 2007 começa com um ritmo de crescimento elevado. "Isso significa que, neste momento, a economia está crescendo a 4,4%, o que sinaliza o ritmo de 2007. Nós vamos tentar manter esse ritmo", afirmou o ministro. Já o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi lacônico ao comentar o desempenho da economia no ano passado. "Ficou dentro das expectativas", disse. Até meados do ano passado, porém, o BC projetava um crescimento de 4% do PIB em 2006.
Mantega destacou ainda o aumento de investimentos. "Isso significa que a economia está crescendo e aumentando a capacidade de produção", disse.
O ministro ficou ainda satisfeito com o superávit primário de janeiro, que foi de R$ 13,457 bilhões -maior economia para o primeiro mês do ano desde o início da série histórica, em 1991. Para ele, o número mostra que o governo irá conseguir investir mais neste ano sem abrir mão do controle fiscal.


Colaboraram LEANDRA PERES, da Sucursal de Brasília, e ANA PAULA RIBEIRO, da Folha Online, em Brasília

Texto Anterior: De novo, país só supera Haiti na América Latina
Próximo Texto: Economistas vêem resultado "decepcionante"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.