São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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Copa e Olimpíada põem país no foco da Nike

Eventos fazem gigante do material esportivo pensar o Brasil além da camisa da seleção, que levou marca a liderar no futebol

De olho no mercado interno, empresa pretende fabricar mais no Brasil; executivo defende a redução de tributação sobre o setor

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

A Nike usa -e bem- o Brasil.
Mas o Brasil usa a Nike? Pouco mais de 13 anos depois do primeiro e polêmico contrato com a CBF, uma CPI, acusações de interferência na seleção e até um colapso de Ronaldo antes da final da Copa de 1998, a gigante americana chegou lá.
Anunciou na semana passada, em Londres, que já lidera o mercado mundial do futebol.
Para o setor, uma reviravolta.
Com estimativa de faturamento global superior a US$ 19 bilhões em 2009, a Nike desbancou a rival Adidas, a empresa de origem alemã que durante décadas influenciou atletas e dirigentes e moldou, para o bem e para o mal, o esporte como entretenimento e negócio.
"É como em qualquer relação. Tivemos bons momentos e alguns percalços", afirma Charlie Denson, um dos três CEOs da Nike, de blazer, jeans e tênis, o máximo de rigor que a empresa permite no vestuário de seus executivos.
A CPI no Congresso brasileiro foi o pior deles, reconhece o executivo, espécie de prata da casa, que começou na primeira loja, no Oregon, e hoje responde pela marca Nike, uma das várias que a empresa possui.
A última delas é a Umbro, aquisição que determinou a virada no mercado. Pequena mas muito importante no estratégico cenário britânico, a marca que veste o "English Team" tem uma história recheada de acordos temporários e de luta pela sobrevivência com concorrentes, até com a Adidas.
Agregar a história dos outros à sua, como faz agora com a seleção inglesa e como vem fazendo desde 1996 com a própria seleção brasileira, parece ter sido a estratégia principal da Nike para encarar o mundo do futebol.
"A Nike sempre foi uma marca ligada à criatividade, e o Brasil, a marca do jogo bonito, da emoção. As duas combinaram muito bem", diz Denson, em entrevista à Folha, na última quinta, pouco antes de lançar a nova mas sempre amarela camisa da seleção.
A maior novidade do evento foi o caráter ambiental do produto. A empresa garante que o poliéster da nova camisa vem de garrafas PET -de oito delas para ser exato- e que 100% do material a ser utilizado na Copa da África do Sul é reciclado.
A não novidade foi a falta de um astro. O escalado foi um novato, Alexandre Pato, que tem pouca ou nenhuma chance de chegar à África do Sul. "Daqui a pouco aparece alguém. Até a Copa, talvez", afirma Denson, evitando escalar qualquer um, efeito da entressafra ou de um cuidado que a empresa não teve nos primeiros anos de contrato com a CBF.
No máximo cita confiança em Robinho, um dos tantos jogadores que tentam ganhar Dunga fazendo "pré-temporada" no futebol brasileiro. Ronaldinho Gaúcho não aparece nem em foto.
O executivo adapta o discurso também ao momento atual da seleção. O "jogo bonito" da propaganda vira o "jogo diferente" da era Dunga, o "jogo de time".
Se para 2010 a coisa já está feita, para o biênio 2014/16 Denson promete começar a ver o Brasil não apenas como fornecedor de história esportiva e mão de obra qualificada, mas também como mercado consumidor prioritário. "Temos de melhorar os preços dos produtos. São caros", diz ele.

Menos tributos
O executivo afirma que a empresa estuda voltar ao Congresso Nacional, desta vez como lobista, em busca de mudanças na legislação tributária. "Alguns produtos são difíceis de serem produzidos no Brasil porque são feitos em um único lugar para o resto do mundo.
Envolvem muita tecnologia", diz, em defesa de menos impostos. "Mas faz parte de nossa estratégia, que deve ser anunciada em breve, fabricar mais no Brasil", completa.

Flamengo
Fabricar no Brasil é atualmente um problema para a Nike. Uma das primeiras empresas a baratear custos terceirizando a produção (e uma das primeiras a ser acusada de violação de direitos em países pobres), a marca sofreu um baque no final do ano passado ao perder o contrato com o Flamengo.
A multinacional não teve forças para combater a oferta da local Olympikus. Sua fragilidade, exposta vexatoriamente durante as negociações, eram as constantes falhas de fornecimento.
"Não vou falar sobre o Flamengo", diz Denson para depois completar que, "no final das contas, talvez tenha sido melhor assim".


O jornalista JOSÉ HENRIQUE MARIANTE viajou a convite da Nike


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