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Copa e Olimpíada põem país no foco da Nike
Eventos fazem gigante do material esportivo pensar o Brasil além da camisa da seleção, que levou marca a liderar no futebol
De olho no mercado interno, empresa pretende fabricar mais no Brasil; executivo defende a redução de tributação sobre o setor
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
A Nike usa -e bem- o Brasil.
Mas o Brasil usa a Nike? Pouco
mais de 13 anos depois do primeiro e polêmico contrato com
a CBF, uma CPI, acusações de
interferência na seleção e até
um colapso de Ronaldo antes
da final da Copa de 1998, a gigante americana chegou lá.
Anunciou na semana passada,
em Londres, que já lidera o
mercado mundial do futebol.
Para o setor, uma reviravolta.
Com estimativa de faturamento global superior a US$ 19 bilhões em 2009, a Nike desbancou a rival Adidas, a empresa de
origem alemã que durante décadas influenciou atletas e dirigentes e moldou, para o bem e
para o mal, o esporte como entretenimento e negócio.
"É como em qualquer relação. Tivemos bons momentos e
alguns percalços", afirma Charlie Denson, um dos três CEOs
da Nike, de blazer, jeans e tênis,
o máximo de rigor que a empresa permite no vestuário de seus
executivos.
A CPI no Congresso brasileiro foi o pior deles, reconhece o
executivo, espécie de prata da
casa, que começou na primeira
loja, no Oregon, e hoje responde pela marca Nike, uma das
várias que a empresa possui.
A última delas é a Umbro,
aquisição que determinou a virada no mercado. Pequena mas
muito importante no estratégico cenário britânico, a marca
que veste o "English Team"
tem uma história recheada de
acordos temporários e de luta
pela sobrevivência com concorrentes, até com a Adidas.
Agregar a história dos outros
à sua, como faz agora com a seleção inglesa e como vem fazendo desde 1996 com a própria seleção brasileira, parece
ter sido a estratégia principal
da Nike para encarar o mundo
do futebol.
"A Nike sempre foi uma marca ligada à criatividade, e o Brasil, a marca do jogo bonito, da
emoção. As duas combinaram
muito bem", diz Denson, em
entrevista à Folha, na última
quinta, pouco antes de lançar a
nova mas sempre amarela camisa da seleção.
A maior novidade do evento
foi o caráter ambiental do produto. A empresa garante que o
poliéster da nova camisa vem
de garrafas PET -de oito delas
para ser exato- e que 100% do
material a ser utilizado na Copa da África do Sul é reciclado.
A não novidade foi a falta de
um astro. O escalado foi um novato, Alexandre Pato, que tem
pouca ou nenhuma chance de
chegar à África do Sul. "Daqui a
pouco aparece alguém. Até a
Copa, talvez", afirma Denson,
evitando escalar qualquer um,
efeito da entressafra ou de um
cuidado que a empresa não teve nos primeiros anos de contrato com a CBF.
No máximo cita confiança
em Robinho, um dos tantos jogadores que tentam ganhar
Dunga fazendo "pré-temporada" no futebol brasileiro. Ronaldinho Gaúcho não aparece
nem em foto.
O executivo adapta o discurso também ao momento atual
da seleção. O "jogo bonito" da
propaganda vira o "jogo diferente" da era Dunga, o "jogo de
time".
Se para 2010 a coisa já está
feita, para o biênio 2014/16
Denson promete começar a ver
o Brasil não apenas como fornecedor de história esportiva e
mão de obra qualificada, mas
também como mercado consumidor prioritário. "Temos de
melhorar os preços dos produtos. São caros", diz ele.
Menos tributos
O executivo afirma que a empresa estuda voltar ao Congresso Nacional, desta vez como lobista, em busca de mudanças
na legislação tributária.
"Alguns produtos são difíceis
de serem produzidos no Brasil
porque são feitos em um único
lugar para o resto do mundo.
Envolvem muita tecnologia",
diz, em defesa de menos impostos. "Mas faz parte de nossa estratégia, que deve ser anunciada em breve, fabricar mais no Brasil", completa.
Flamengo
Fabricar no Brasil é atualmente um problema para a Nike. Uma das primeiras empresas a baratear custos terceirizando a produção (e uma das
primeiras a ser acusada de violação de direitos em países pobres), a marca sofreu um baque
no final do ano passado ao perder o contrato com o Flamengo.
A multinacional não teve forças para combater a oferta da
local Olympikus. Sua fragilidade, exposta vexatoriamente durante as negociações, eram as
constantes falhas de fornecimento.
"Não vou falar sobre o Flamengo", diz Denson para depois completar que, "no final
das contas, talvez tenha sido
melhor assim".
O jornalista JOSÉ HENRIQUE MARIANTE viajou a convite da Nike
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