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OPINIÃO ECONÔMICA
Babacas e bobocas
LUÍS PAULO ROSENBERG
O sucesso do Real deve-se a
vários fatores. Indiscutivelmente, a abertura da economia brasileira, iniciada ainda no governo Collor, credencia-se como
um dos mais importantes.
Interessante é notar como os
mais despreparados em economia são os primeiros a questionar esse pilar da estabilização.
O exemplo mais recente foi o do
presidente do BNDES, manifestando-se contra a "abertura
babaca", desconhecendo que
abertura, como democracia,
não admite qualitativos.
Buscar negociações bilaterais
vantajosas para o Brasil, sim.
Questionar o processo de abertura em si é uma imperdoável
babaquice.
Por que a abertura da economia à concorrência internacional e ao influxo de investimentos externos é tão importante?
Porque o único instrumento
realmente eficaz na coerção da
ganância do empresário é a ganância de outro empresário, em
franca competição com ele.
Controles de preços, tabelamentos, racionamentos; nada funciona.
Basta, entretanto, deixar o
pau comer, permitindo a compra de insumos e bens importados, para o produtor nacional
pular miudinho e comprimir
suas margens de lucro para poder sobreviver.
Está errado, portanto, o ministro das Comunicações quando critica a telefônica do Rio
Grande do Sul, privatizada recentemente pelo governo estadual, por admitir fornecedores
estrangeiros nas suas concorrências para compra de equipamentos.
Podemos até torcer para que
vença uma das multinacionais
radicadas no Brasil, mas por ter
o melhor preço e igual qualidade. Senão, quem estará pagando a conta será o usuário gaúcho, cujos serviços telefônicos
terão embutidos o custo mais
alto de proteger a empresa local.
Mas nem só de babaquices
compõe-se o governo. Há inquéritos contra as montadoras de
automóveis por conluio para
aumentar preços. Há processo
aberto contra o cartel do cimento, um renitente violador da liberdade de competição no mercado. São exemplos edificantes
dos novos tempos, em que a autoridade econômica abandona
as relações incestuosas com empresários e assume a defesa do
consumidor.
Mais recentemente, registrou-se uma histórica decisão
na área do direito econômico. A
barrilha, matéria-prima básica
para o vidro, é praticamente
um monopólio da Companhia
Nacional de Álcalis.
Nada mais natural, então,
que as indústrias de vidro do
Brasil procurarem abastecer-se
com barrilha importada, de
custo mais baixo.
Rapidamente, o cartel doméstico entrou com uma ação pedindo a elevação da alíquota de
importação da barrilha.
Pois a decisão governamental
foi manter as alíquotas atuais,
equivalente a mandar a Companhia Nacional de Álcalis
pentear macacos, se não tiver
competência para concorrer e
bem servir seus clientes.
Na mesma direção, permitir
que um banco estrangeiro assuma a parte boa do finado Bamerindus, com recursos do
Proer, é prova de que a lei (boa
ou má) é igual para todos e
serve para proteger o consumidor, não consolidar o clubinho
dos banqueiros locais.
Tais atitudes demonstram
que no governo FHC, para cada
engenheiro avesso à concorrência, há pelos menos dois economistas bem treinados, comprometidos com a causa da racionalidade.
Mas nossos bobocas nativos
merecem complacência. Afinal,
na primeira página do "New
York Times" do domingo passado há uma longa matéria sobre a privatização da telefonia
dos Estados Unidos e a perplexidade dos babacas de lá.
De fato, por vários anos a legislação americana forçava os
usuários de ligações interurbanas a subsidiar as tarifas de ligações locais. O resultado é que
93% da população americana
tem telefone em casa.
Agora, quando mais de uma
empresa opera nas ligações interurbanas, há uma tendência
natural de queda das tarifas
dessas ligações, eliminando o
subsídio que sustentava a universalização do uso do telefone.
Como compatibilizar o fim do
subsídio cruzado e o estímulo a
programas meritórios? Se o governo quiser estimular o uso da
Internet ou baratear o custo de
bibliotecas que se valem da linha telefônica para popularizar
o acesso ao conhecimento, que
estabeleça um subsídio orçamentário explícito com esse fim.
Nada de errado nisso; afinal,
governar é estabelecer prioridades.
Quando se recorre ao mecanismo do subsídio cruzado, porém, pode-se cometer a injustiça de subsidiar um rico fazendeiro de Iowa, cujo custo elevado de instalação de telefone nas
suas terras distantes foi coberto
pelos interurbanos de milhares
de desempregados ou aposentados que ligaram para falar com
seus filhos.
Se na meca do capitalismo
competitivo ainda há perplexidade perante a lógica de que o
preço deve refletir o custo mínimo de produzir, não há por que
negar o perdão a engenheiros
nacionais travestidos de economistas. Eles não sabem o que
fazem.
Luís Paulo Rosenberg, 52, professor do ITA,
diretor da Rosenberg Associados e da Linear
Investimentos, escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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