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INTEGRAÇÃO EM RISCO
Cavallo reduz também a zero alíquota de bens de informática e "se esquece" de avisar os brasileiros
Pacote argentino dá um tranco no Brasil
Reuters - 23.mar.01
![](../images/b0104012001.jpg) |
O ministro argentino Domingo Cavallo, que não mencionou que mudaria alíquotas de informática |
DAVID FRIEDLANDER
RICARDO GRINBAUM
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil teve uma surpresa
amarga ao desembrulhar o pacote
argentino lançado na semana
passada. Apesar dos telefonemas
amigáveis, pedidos de apoio e até
uma visita de cortesia, o ministro
Domingo Cavallo não contou que
seu plano mexeria com os bens de
informática, uma das áreas mais
sensiveis da economia brasileira.
Pedro Malan, Celso Lafer e Alcides Tápias, os ministros visitados
por Cavallo dez dias atrás, só ficaram sabendo da medida na última quarta-feira, quando o pacote
já estava na rua. O argentinos vão
zerar a tarifa de importação de peças e componentes usados na
produção celulares, computadores e equipamentos de telecomunicações -genericamente chamados bens de informática.
Quando esteve em Brasília pedindo apoio aos colegas brasileiros, Cavallo só falou que ia zerar
alíquotas de importação de máquinas e equipamentos e que aumentaria impostos cobrados na
importação de bens de consumo.
A visita de Cavallo teve uma razão diplomática. Como a Argentina é sócia do Brasil no Mercosul, o
ministro quis dar uma prova de
respeito aos brasileiros anunciando pessoalmente as medidas
-que ferem acertos anteriores-
e em primeira mão. Por isso, a
omissão da informação sobre os
bens de informática pegou mal.
Essa é uma das áreas prioritárias para o governo brasileiro. Depois do petróleo, é o setor que
mais gasta dólares com importações e afeta os resultados da balança comercial. Brasília prepara
um conjunto de medidas para
atrair indústrias e incentivar a
substituição de importações. O
pacote argentino atrapalha a estratégia brasileira.
O risco, dizem empresários e
autoridades brasileiros, é que a
Argentina importe os componentes de celulares, computadores e
equipamentos eletrônicos da Ásia
ou dos EUA, sem imposto, cole
um selo "Made in Argentina" e
depois venda esses artigos para o
Brasil. Pelos acordos do Mercosul, esses produtos entrariam no
Brasil também sem imposto.
Na mesma semana em que o
Brasil descobriu o tranco que levou nos bens de informática, foi
aberta outra frente de atrito. O governo brasileiro anunciou, na
quarta-feira, a proibição de entrada no país de trigo, milho, arroz e
hortaliças de áreas afetadas pela
febre aftosa na Argentina.
O Ministério da Agricultura disse que é uma medida de prevenção para evitar que o vírus da febre aftosa contamine o gado brasileiro. Pelas contas dos argentinos, a medida causa um prejuízo
de US$ 1,3 bilhão ao país. Domingo Cavallo esperneou.
Na sexta-feira, o ministro fez
uma visita que não estava na
agenda ao embaixador brasileiro
em Buenos Aires, Sebastião do
Rego Barros. Cavallo levou uma
cópia de seu livro, "Paixão por
Criar". Só que a conversa, de 45
minutos, evoluiu para os temas de
maior conflito entre os dois países: o fim do imposto para os bens
de informática e as restrições aos
produtos agrícolas argentinos.
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