São Paulo, domingo, 01 de abril de 2001

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INTEGRAÇÃO EM RISCO
Cavallo reduz também a zero alíquota de bens de informática e "se esquece" de avisar os brasileiros
Pacote argentino dá um tranco no Brasil

Reuters - 23.mar.01
O ministro argentino Domingo Cavallo, que não mencionou que mudaria alíquotas de informática


DAVID FRIEDLANDER
RICARDO GRINBAUM

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil teve uma surpresa amarga ao desembrulhar o pacote argentino lançado na semana passada. Apesar dos telefonemas amigáveis, pedidos de apoio e até uma visita de cortesia, o ministro Domingo Cavallo não contou que seu plano mexeria com os bens de informática, uma das áreas mais sensiveis da economia brasileira.
Pedro Malan, Celso Lafer e Alcides Tápias, os ministros visitados por Cavallo dez dias atrás, só ficaram sabendo da medida na última quarta-feira, quando o pacote já estava na rua. O argentinos vão zerar a tarifa de importação de peças e componentes usados na produção celulares, computadores e equipamentos de telecomunicações -genericamente chamados bens de informática.
Quando esteve em Brasília pedindo apoio aos colegas brasileiros, Cavallo só falou que ia zerar alíquotas de importação de máquinas e equipamentos e que aumentaria impostos cobrados na importação de bens de consumo.
A visita de Cavallo teve uma razão diplomática. Como a Argentina é sócia do Brasil no Mercosul, o ministro quis dar uma prova de respeito aos brasileiros anunciando pessoalmente as medidas -que ferem acertos anteriores- e em primeira mão. Por isso, a omissão da informação sobre os bens de informática pegou mal.
Essa é uma das áreas prioritárias para o governo brasileiro. Depois do petróleo, é o setor que mais gasta dólares com importações e afeta os resultados da balança comercial. Brasília prepara um conjunto de medidas para atrair indústrias e incentivar a substituição de importações. O pacote argentino atrapalha a estratégia brasileira.
O risco, dizem empresários e autoridades brasileiros, é que a Argentina importe os componentes de celulares, computadores e equipamentos eletrônicos da Ásia ou dos EUA, sem imposto, cole um selo "Made in Argentina" e depois venda esses artigos para o Brasil. Pelos acordos do Mercosul, esses produtos entrariam no Brasil também sem imposto.
Na mesma semana em que o Brasil descobriu o tranco que levou nos bens de informática, foi aberta outra frente de atrito. O governo brasileiro anunciou, na quarta-feira, a proibição de entrada no país de trigo, milho, arroz e hortaliças de áreas afetadas pela febre aftosa na Argentina.
O Ministério da Agricultura disse que é uma medida de prevenção para evitar que o vírus da febre aftosa contamine o gado brasileiro. Pelas contas dos argentinos, a medida causa um prejuízo de US$ 1,3 bilhão ao país. Domingo Cavallo esperneou.
Na sexta-feira, o ministro fez uma visita que não estava na agenda ao embaixador brasileiro em Buenos Aires, Sebastião do Rego Barros. Cavallo levou uma cópia de seu livro, "Paixão por Criar". Só que a conversa, de 45 minutos, evoluiu para os temas de maior conflito entre os dois países: o fim do imposto para os bens de informática e as restrições aos produtos agrícolas argentinos.



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