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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Megarroubo virtual e global pode acontecer até 2002
GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Como se não bastasse o
clima de fim de festa na
economia global e o de fim da
bolha especulativa no mundo da
economia virtual, uma das mais
importantes empresas de consultoria anunciou na sexta-feira
que a rede planetária está na
iminência de sofrer um "megarroubo", um crime em grande escala, vitimando as massas.
A análise é da Gartner, empresa de consultoria tecnológica
com mais de 10 mil clientes no
mundo e receitas, no ano passado, de quase US$ 900 milhões.
Segundo Richard Hunter, as
tendências de convergência tecnológica estão criando economias de escala que permitem
novos tipos de cibercrimes capazes de vitimar em massa.
No seu estudo, a previsão é
que ocorra um episódio dessa
natureza até o final de 2002.
Pior, a expectativa é que o golpe
passe despercebido por um bom
tempo. É que inexistem técnicos
ou agências internacionais adequadamente preparados.
É o velho enredo de filme B
transformado em alerta real ao
mundo virtual: transferências
de poucos dólares ou centavos
feitas de milhões de contas individuais, simultaneamente.
Há números ainda mais assustadores. Segundo a Gartner, o
valor envolvido nas fraudes pode aumentar em até 10.000% até
2004. Em outras palavras, a empresa de consultoria prevê uma
forte disseminação de conhecimento sobre tecnologias digitais
entre criminosos de todo tipo.
O problema é que, ao longo
desse período, não estão previstos gastos suficientes para pesquisar e combater tais crimes. E
é aí que reside um dos filões de
bons negócios de consultoria
para a própria empresa.
Conclusão: não há como negar ou confirmar a retórica e os
argumentos dessa empresa, mas
é possível encarar com certo ceticismo suas previsões, pois seus
pesquisadores têm uma clara inclinação por argumentos do tipo "quanto pior, melhor". Ou
então na linha do "quanto mais
gasto na área, maior a probabilidade de sermos contratados".
As recomendações defensivas
publicadas pela Gartner também deixam margem a dúvidas
sobre a eficácia do alerta.
Primeiro, a empresa recomenda a instalação de softwares de
proteção ("firewalls") em qualquer computador com acesso à
Internet. Bom para os fornecedores desses softwares. Mas qual
a garantia de que esses produtos
são seguros? A própria Gartner
duvida dos produtos e de suas
atualizações periódicas.
Outra recomendação aos consumidores é a consulta frequente aos registros financeiros. Claro que, preferencialmente, essas
consultas serão realizadas on line. Mais uma razão para usar as
máquinas e comprar os softwares. E, obviamente, quanto mais
consultas, maior o trânsito pela
rede e, portanto, maior a probabilidade de que "hackers" capturem as informações e surjam
as condições para que a profecia
do megarroubo vire realidade.
A Gartner sugere ainda que sejam desabilitados quaisquer
mecanismos de compartilhamento de informação. Tais mecanismos, conhecidos como
"peer-to-peer networking", são
a base de serviços como o Napster. É evidente que várias dessas
sugestões são inócuas.
Mas há um argumento que
tem menos de virtual ou tecnológico e expressa sobretudo a
piora nas condições econômicas
internacionais. Para a Gartner,
vem aumentando o número de
especialistas em tecnologia da
informação em regiões com
economias deprimidas (o exemplo citado é o da ex-URSS).
Caso ocorra um crime em
grande escala, nem sequer os
vendedores de software antivírus seriam capazes de detectar a
fraude.
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