São Paulo, domingo, 01 de abril de 2001

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Megarroubo virtual e global pode acontecer até 2002

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Como se não bastasse o clima de fim de festa na economia global e o de fim da bolha especulativa no mundo da economia virtual, uma das mais importantes empresas de consultoria anunciou na sexta-feira que a rede planetária está na iminência de sofrer um "megarroubo", um crime em grande escala, vitimando as massas.
A análise é da Gartner, empresa de consultoria tecnológica com mais de 10 mil clientes no mundo e receitas, no ano passado, de quase US$ 900 milhões.
Segundo Richard Hunter, as tendências de convergência tecnológica estão criando economias de escala que permitem novos tipos de cibercrimes capazes de vitimar em massa.
No seu estudo, a previsão é que ocorra um episódio dessa natureza até o final de 2002. Pior, a expectativa é que o golpe passe despercebido por um bom tempo. É que inexistem técnicos ou agências internacionais adequadamente preparados.
É o velho enredo de filme B transformado em alerta real ao mundo virtual: transferências de poucos dólares ou centavos feitas de milhões de contas individuais, simultaneamente.
Há números ainda mais assustadores. Segundo a Gartner, o valor envolvido nas fraudes pode aumentar em até 10.000% até 2004. Em outras palavras, a empresa de consultoria prevê uma forte disseminação de conhecimento sobre tecnologias digitais entre criminosos de todo tipo.
O problema é que, ao longo desse período, não estão previstos gastos suficientes para pesquisar e combater tais crimes. E é aí que reside um dos filões de bons negócios de consultoria para a própria empresa.
Conclusão: não há como negar ou confirmar a retórica e os argumentos dessa empresa, mas é possível encarar com certo ceticismo suas previsões, pois seus pesquisadores têm uma clara inclinação por argumentos do tipo "quanto pior, melhor". Ou então na linha do "quanto mais gasto na área, maior a probabilidade de sermos contratados".
As recomendações defensivas publicadas pela Gartner também deixam margem a dúvidas sobre a eficácia do alerta.
Primeiro, a empresa recomenda a instalação de softwares de proteção ("firewalls") em qualquer computador com acesso à Internet. Bom para os fornecedores desses softwares. Mas qual a garantia de que esses produtos são seguros? A própria Gartner duvida dos produtos e de suas atualizações periódicas.
Outra recomendação aos consumidores é a consulta frequente aos registros financeiros. Claro que, preferencialmente, essas consultas serão realizadas on line. Mais uma razão para usar as máquinas e comprar os softwares. E, obviamente, quanto mais consultas, maior o trânsito pela rede e, portanto, maior a probabilidade de que "hackers" capturem as informações e surjam as condições para que a profecia do megarroubo vire realidade.
A Gartner sugere ainda que sejam desabilitados quaisquer mecanismos de compartilhamento de informação. Tais mecanismos, conhecidos como "peer-to-peer networking", são a base de serviços como o Napster. É evidente que várias dessas sugestões são inócuas.
Mas há um argumento que tem menos de virtual ou tecnológico e expressa sobretudo a piora nas condições econômicas internacionais. Para a Gartner, vem aumentando o número de especialistas em tecnologia da informação em regiões com economias deprimidas (o exemplo citado é o da ex-URSS).
Caso ocorra um crime em grande escala, nem sequer os vendedores de software antivírus seriam capazes de detectar a fraude.



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