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"Letra pequena" pode custar caro, diz especialista
DO CONSELHO EDITORIAL
Vivianne Ventura Diaz, PhD
em economia pela Universidade
da Califórnia em Berkeley e diretora da divisão de Integração e
Comércio da Cepal, chama a
atenção para um aspecto que é
menos charmoso nas negociações
comerciais, mas cujo peso pode
determinar os resultados, positivos ou negativos, para o Brasil.
Trata-se da negociação sobre
normas e instituições, um elenco
que inclui medidas sanitárias e fitossanitárias, barreiras técnicas,
propriedade intelectual, regras
para solução de controvérsias,
aplicação do mecanismo antidumping.
"As negociações sobre normas e
instituições demandam mais
tempo para medir custos e benefícios", diz Vivianne.
Mas, acrescenta, "a experiência
da OMC já demonstrou que podem ter um custo elevado".
De fato, o Brasil assinou o acordo sobre subsídios sem prestar
atenção ao que a economista da
Cepal chama de "letra pequena".
Pelo acordo, os países em desenvolvimento poderiam continuar a
conceder subsídios por oito anos
(prazo que vai até 2002), desde
que fossem decrescentes.
Resultado: o Brasil continuou
dando subsídios, por exemplo, à
Embraer, até ser derrotado em
julgamento na OMC solicitado
pelo Canadá, que defende a sua
própria empresa de aviação regional, a Bombardier.
Mesmo tendo modificado as regras para subsídios, o Brasil continua enfrentando um processo.
Conclusão de Vivianne: "Há
uma situação de assimetria entre
os dois países do G-7 (EUA e Canadá) que farão parte da Alca e os
demais. Os da América Latina
abrirão os mercados mais que os
outros dois e farão concessões em
normas e instituições".
A economista dá um exemplo
para demonstrar o efeito da assimetria quando aplicado à regras
ou instituições: o Chile, o país tido
como mais aberto na AL, assinou
acordo com o Canadá, mas só
agora percebe que ainda vai precisar de mais dois anos para que
seus médicos tenham a certificação técnica que os habilite a atuar
no Canadá, ao passo que os canadenses já podem fazê-lo no Chile.
Posto de outra forma, os países
em desenvolvimento não têm estrutura para acompanhar seus
parceiros mais ricos na implementação das regras que venham
a ser acertadas.
Pior: há regras que os EUA se recusam a negociar. "Regras antidumping não são sequer consideradas pelos EUA", queixa-se, por
exemplo, Osvaldo Douat, presidente do Conselho de Integração
Internacional da CNI.
Não é queixa vazia. Texto do
USTr (organismo responsável pelo comércio internacional norte-americano) diz que "a capacidade
de manter remédios efetivos contra importações subsidiadas ou
que representem dumping é essencial para alcançar a meta de liberalização do comércio".
Traduzindo: a lei americana
contra dumping, que o Brasil considera protecionismo disfarçado,
não é negociável.
(CR)
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