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CALOTE BILIONÁRIO
Dinheiro é de difícil recuperação e equivale a um ano de arrecadação da CPMF, o imposto do cheque
Dez empresas devem R$ 15 bi para a União
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um grupo de dez empresas deve à União R$ 14,794 bilhões, valor equivalente a um ano de arrecadação da CPMF, o imposto do
cheque. Essas empresas detêm
11,77% do total devido aos cofres
federais até o final de 2000.
Levantamento obtido pela Folha identifica os dez maiores devedores. Na maioria, empresas de
pequeno porte desconhecidas.
No topo da lista aparece uma
empresa paulista de engenharia, a
CGK Engenharia e Empreendimentos Ltda., que devia R$ 2,244
bilhões à União em 31 de dezembro de 2000.
As chances de o governo recolher esse dinheiro são remotas.
Uma tentativa de reaver parte
desses recursos foi o lançamento
do Refis (Programa de Recuperação Fiscal), que obteve a adesão
de 128 mil empresas.
Todos os débitos estavam na dívida ativa no final de 2000. O rombo inclui os créditos da União que
são encaminhados à PGFN (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional) para execução judicial.
Nesse caso, a cobrança administrativa dos débitos foi esgotada.
A maior parte é referente a créditos tributários da Receita Federal. Mas a dívida ativa comporta
todos os tipos de créditos da
União. Ou seja, até mesmo as cobranças de aluguéis a favor da
União podem ser inscritas.
Supermercado
Entre os dez maiores devedores,
existe apenas uma empresa estatal, a Cesp (Companhia Energética de São Paulo), cujo sócio majoritário é o governo estadual de São
Paulo. A companhia devia R$ 943
milhões na data do levantamento,
ocupando o nono lugar no ranking. O governo vem se ocupando
do oitavo colocado, o banco Econômico (R$ 1 bilhão em dívidas),
que começou a ser liquidado pelo
Banco Central em 95.
Mas entre os grandes devedores
também existem empresas pequenas como um supermercado
de Minas Gerais e uma loja de
confecções de Pernambuco. O
primeiro deve R$ 2,015 bilhões e a
segunda, R$ 1,493 bilhão.
No final de 2000, a dívida ativa
da União chegou a R$ 125,7 bilhões -11,54% do PIB (Produto
Interno Bruto, que mede a soma
das riquezas produzidas no país).
Esse valor é apenas R$ 300 milhões menor que o divulgado em
99. A dívida é pouco menor do
que o total das despesas anuais do
governo com pagamento de pessoal, custeio da máquina pública e
investimentos (R$ 133,2 bilhões).
Em 95, essa dívida era de R$ 16
bilhões e existiam 480 mil devedores inscritos. Hoje, existem 3,3
milhões de contribuintes listados.
O procurador-geral-adjunto
Ditimar Britto diz que o aumento
aconteceu porque a Receita Federal não costumava enviar rapidamente as suas cobranças para a
dívida ativa. Ou seja, em 95 já havia um estoque na Receita.
Britto afirma, porém, que há
mesmo uma grande demora na
execução dos débitos. "Alguns
processos têm mais de 20 anos",
conta. Os motivos da demora são
a lentidão do andamento dos processos na Justiça, o desaparecimento dos devedores e a falta de
aparelhamento do Estado.
Essa demora também contribuiu para que pequenas dívidas,
de empresas desconhecidas, acabem aumentando ao longo do
tempo. Isso ocorre devido à correção da dívida e às multas.
Segundo Britto, cerca de 50% da
dívida é considerada "recuperável". "Existem erros de lançamento, mas muitos devedores simplesmente sumiram ou abriram
outras empresas", diz.
Com a inscrição na dívida ativa,
as empresas passam a fazer parte
de uma lista chamada de Cadin
(Cadastro dos Inadimplentes). A
entrada na lista impede as empresas de participarem de licitações
públicas, por exemplo.
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