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Iedi elogia medida, mas indústria reclama
ADRIANA MATTOS
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os críticos à lentidão do governo Lula em definir uma eficaz política industrial se dividiram
quanto ao programa de medidas
apresentado ontem.
Para Maurício Mesquita, economista do Departamento de Integração do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o
atual governo -assim como o
anterior- ainda não conseguiu
apresentar uma estratégia clara e
coerente para o setor industrial.
"Essa criação do CNDI [Conselho Nacional de Desenvolvimento
Industrial] me fez lembrar o antigo CDI [Conselho de Desenvolvimento Industrial] de anos atrás,
que não deu em nada. Então não
me parece uma idéia nova, assim
como não é nada original liberar
recursos do BNDES para isso. O
banco já disponibiliza recursos,
só não fazia esse barulho todo."
Segundo ele há riscos na operação de apoio à política industrial.
"Você vai lá e define quatro áreas
estratégicas. Pois quem disse que
um setor "x" ou "y" não pode se
achar estratégico?", diz. "Então
ele vai lá convencer o governo de
que precisa de recursos também e
daí vira um grande "balcãozão".
De quatro setores escalados pelo
governo, passa para dez, depois
para 20, e por aí vai."
Paulo Feldman, diretor da consultoria Bearing Point e professor
da FEA-USP, também critica a escolha dos setores industriais a serem apoiados pelo governo. "Nenhum é gerador de emprego, isso
é um ponto negativo da política
industrial", afirma. Outra crítica é
que, no caso dos fármacos, o programa não visa proteger a principal vantagem competitiva do país
-a biodiversidade amazônica.
De acordo com o Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o programa representa "a primeira iniciativa de
fôlego para impulsionar a economia real, em 25 anos". No entanto, a política industrial não substitui uma política macroeconômica
que encaminhe o crescimento,
alerta Julio Gomes de Almeida,
diretor-executivo do órgão.
O elenco de medidas apresentadas pelo governo, segundo Almeida, visa impulsionar setores nos
quais há um "gap" tecnológico
-como o de softwares- e aumentar a produtividade, via novos investimentos, da indústria de
base e a capacidade exportadora
de setores como o farmacêutico.
Coordenação
Para Francisco Pessoa Farias,
economista da consultoria LCA,
"as primeiras impressões sobre o
programa industrial são positivas". Ele destaca a capacidade do
programa industrial em coordenar iniciativas que já estão em
marcha, como o Modermaq
-programa de modernização da
capacidade produtiva instalada-, com a escolha de setores a
serem beneficiados e que terão
impacto na balança comercial.
Mas, para que o programa não
encalhe na execução, Farias diz
que "é necessário que o desenvolvimento seja colocado no mesmo
patamar de importância que a estabilização da economia".
Para isso, é preciso que Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento)
tenha o mesmo status dentro do
governo que Antonio Palocci Filho (Fazenda) e o presidente do
BC, Henrique Meirelles.
O representante da indústria
farmacêutica elogiou as medidas.
"De positivo há o fato de estarmos
falando de políticas voltadas à
inovação", disse Ciro Mortella,
presidente-executivo da Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica).
Ele disse, no entanto, que o setor
ainda precisa compreender melhor o que é a política de modernização dos laboratórios públicos.
"Há capacidade ociosa nos laboratórios privados. Seria melhor
primeiro esgotá-la."
A CNI, que representou a indústria no processo de elaboração do
programa, lamentou o fato de não
ter participado de todas as fases
de discussão das medidas. "O setor privado participou do processo, mas em alguns momentos até
achamos insuficiente o processo
de interlocução", disse o deputado Armando Monteiro (PTB-PE),
presidente da entidade.
"Outro desafio é fazer a política
econômica ser coerente com as linhas da política industrial."
Representantes da indústria de
equipamentos elétricos e eletrônicos gostaram do que foi divulgado. "Agora, precisamos colaborar
para que as medidas sejam adotadas rapidamente", disse Ruy de
Salles Cunha, presidente da Apinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
Com a Sucursal de Brasília
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