São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004

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Iedi elogia medida, mas indústria reclama

ADRIANA MATTOS
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os críticos à lentidão do governo Lula em definir uma eficaz política industrial se dividiram quanto ao programa de medidas apresentado ontem.
Para Maurício Mesquita, economista do Departamento de Integração do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o atual governo -assim como o anterior- ainda não conseguiu apresentar uma estratégia clara e coerente para o setor industrial.
"Essa criação do CNDI [Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial] me fez lembrar o antigo CDI [Conselho de Desenvolvimento Industrial] de anos atrás, que não deu em nada. Então não me parece uma idéia nova, assim como não é nada original liberar recursos do BNDES para isso. O banco já disponibiliza recursos, só não fazia esse barulho todo."
Segundo ele há riscos na operação de apoio à política industrial. "Você vai lá e define quatro áreas estratégicas. Pois quem disse que um setor "x" ou "y" não pode se achar estratégico?", diz. "Então ele vai lá convencer o governo de que precisa de recursos também e daí vira um grande "balcãozão". De quatro setores escalados pelo governo, passa para dez, depois para 20, e por aí vai."
Paulo Feldman, diretor da consultoria Bearing Point e professor da FEA-USP, também critica a escolha dos setores industriais a serem apoiados pelo governo. "Nenhum é gerador de emprego, isso é um ponto negativo da política industrial", afirma. Outra crítica é que, no caso dos fármacos, o programa não visa proteger a principal vantagem competitiva do país -a biodiversidade amazônica.
De acordo com o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o programa representa "a primeira iniciativa de fôlego para impulsionar a economia real, em 25 anos". No entanto, a política industrial não substitui uma política macroeconômica que encaminhe o crescimento, alerta Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do órgão.
O elenco de medidas apresentadas pelo governo, segundo Almeida, visa impulsionar setores nos quais há um "gap" tecnológico -como o de softwares- e aumentar a produtividade, via novos investimentos, da indústria de base e a capacidade exportadora de setores como o farmacêutico.

Coordenação
Para Francisco Pessoa Farias, economista da consultoria LCA, "as primeiras impressões sobre o programa industrial são positivas". Ele destaca a capacidade do programa industrial em coordenar iniciativas que já estão em marcha, como o Modermaq -programa de modernização da capacidade produtiva instalada-, com a escolha de setores a serem beneficiados e que terão impacto na balança comercial.
Mas, para que o programa não encalhe na execução, Farias diz que "é necessário que o desenvolvimento seja colocado no mesmo patamar de importância que a estabilização da economia".
Para isso, é preciso que Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) tenha o mesmo status dentro do governo que Antonio Palocci Filho (Fazenda) e o presidente do BC, Henrique Meirelles.
O representante da indústria farmacêutica elogiou as medidas. "De positivo há o fato de estarmos falando de políticas voltadas à inovação", disse Ciro Mortella, presidente-executivo da Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica).
Ele disse, no entanto, que o setor ainda precisa compreender melhor o que é a política de modernização dos laboratórios públicos. "Há capacidade ociosa nos laboratórios privados. Seria melhor primeiro esgotá-la."
A CNI, que representou a indústria no processo de elaboração do programa, lamentou o fato de não ter participado de todas as fases de discussão das medidas. "O setor privado participou do processo, mas em alguns momentos até achamos insuficiente o processo de interlocução", disse o deputado Armando Monteiro (PTB-PE), presidente da entidade.
"Outro desafio é fazer a política econômica ser coerente com as linhas da política industrial."
Representantes da indústria de equipamentos elétricos e eletrônicos gostaram do que foi divulgado. "Agora, precisamos colaborar para que as medidas sejam adotadas rapidamente", disse Ruy de Salles Cunha, presidente da Apinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).


Com a Sucursal de Brasília

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