|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
O sucesso e o deserto de Lula
PIB "novo" lustra prestígio luliano; poder presidencial cria vácuo político onde oposição e PT se asfixiam
|
AINDA FALTAM dois anos e meio
para que se definam os presidenciáveis de 2010. O assunto
parece exótico, pois Lula 2 tem só
três meses de idade. Mas há uma
distância tão grande entre a situação
política luliana, por um lado, e a do
PT e a da oposição, de outro, que o
vácuo é gritante, embora o som não
tenha o dom de se propagar por lá.
Além de estar no auge do prestígio, da concentração de poder e de
predominância no Congresso, o desempenho da economia sob Lula é
muito melhor que o imaginado.
A revisão do PIB não altera apenas
estatísticas. Vai modificar a percepção da capacidade financeira do país
e do governo, o que tem implicações
concretas em termos do custo de financiamento do setor público e privado. Apesar da imensa má vontade
liberalóide-tucana, os novos indicadores devem amainar a fobia histérica de inflação. E parece que é um
pouco menos caro e menos árduo
aumentar o nível de investimento,
de resto mais eficiente do que estimavam os economistas padrão.
Decerto o Brasil é um lugar muito
ruim: desigualdade, violência, pobreza de bens e de espírito, impostos, ignorância imposta ou voluntária, ineficiência. No médio prazo, a
economia segue encalacrada devido
ao excesso de gasto público corrente, à falta de inovação, de investimento e de projetos capazes de mudar o padrão de desenvolvimento.
Mas, politicamente, mais relevantes são os "avanços", como gostava
de dizer FHC, ainda que marginais.
Vide o efeito político de doar R$ 70
por mês às famílias miseráveis.
Em resumo, no auge do poder, Lula ainda foi lustrado por uma melhora inesperada na economia. Se não
vierem catástrofe econômica global
e crises de mensalismo, por exemplo, pergunta-se: quem vai herdar o
grande patrimônio político luliano?
Os novos barões de Lula são de
PTB e PMDB. Aliás, tanto faz o rótulo. A coordenação política ficou com
a liderança matreira-matuta do centrão, a massa amorfa conservadora-ignara que faz o grosso do Congresso. O PT levou viscondados da periferia ministerial e milhares de boquinhas no segundo escalão, rentáveis, mas de pouca projeção política.
No Congresso, a dita oposição, de
tão minguante e desesperada, muda
de rótulo ou mendiga os mandatos
dos parlamentares que fugiram para
a boquinha oficial. Seus dois principais presidenciáveis, José Serra e
Aécio Neves, refletem sobre quando
e se começam a disputar a nomeação; não sabem o que inventar para
criar marca eleitoral vendável em
2009. Sua melhor chance, por ora, é
o avanço do deserto de homens e
idéias no entorno de Lula.
No cenário menos imprevisível,
até problemas sérios derivados da
mediocridade do governo tendem a
estourar após Lula 2, tais como escassez de energia e de investimento
público, limitado pelo social-distributivismo. Por ora, a massa salarial
cresce 8% ao ano. O PIB deve crescer 4,5%, mais que a inflação. O nível
de consumo não terá estado tão alto
em uma dúzia de anos, para não dizer duas décadas. A logorréia vulgar
de Lula, que viveu picos nos dias de
posse ministerial, continua pop.
Não há projeto político, social ou
econômico alternativo e relevante.
Em torno de Lula, vácuo e conservadorismo. Em 1986, 1994 e 2002 havia ilusões de diferença.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Rubens Ricupero: Os Ilusionistas Próximo Texto: Bancos ganham bem mais que empresas Índice
|