São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O sucesso e o deserto de Lula


PIB "novo" lustra prestígio luliano; poder presidencial cria vácuo político onde oposição e PT se asfixiam

AINDA FALTAM dois anos e meio para que se definam os presidenciáveis de 2010. O assunto parece exótico, pois Lula 2 tem só três meses de idade. Mas há uma distância tão grande entre a situação política luliana, por um lado, e a do PT e a da oposição, de outro, que o vácuo é gritante, embora o som não tenha o dom de se propagar por lá.
Além de estar no auge do prestígio, da concentração de poder e de predominância no Congresso, o desempenho da economia sob Lula é muito melhor que o imaginado.
A revisão do PIB não altera apenas estatísticas. Vai modificar a percepção da capacidade financeira do país e do governo, o que tem implicações concretas em termos do custo de financiamento do setor público e privado. Apesar da imensa má vontade liberalóide-tucana, os novos indicadores devem amainar a fobia histérica de inflação. E parece que é um pouco menos caro e menos árduo aumentar o nível de investimento, de resto mais eficiente do que estimavam os economistas padrão.
Decerto o Brasil é um lugar muito ruim: desigualdade, violência, pobreza de bens e de espírito, impostos, ignorância imposta ou voluntária, ineficiência. No médio prazo, a economia segue encalacrada devido ao excesso de gasto público corrente, à falta de inovação, de investimento e de projetos capazes de mudar o padrão de desenvolvimento.
Mas, politicamente, mais relevantes são os "avanços", como gostava de dizer FHC, ainda que marginais. Vide o efeito político de doar R$ 70 por mês às famílias miseráveis.
Em resumo, no auge do poder, Lula ainda foi lustrado por uma melhora inesperada na economia. Se não vierem catástrofe econômica global e crises de mensalismo, por exemplo, pergunta-se: quem vai herdar o grande patrimônio político luliano?
Os novos barões de Lula são de PTB e PMDB. Aliás, tanto faz o rótulo. A coordenação política ficou com a liderança matreira-matuta do centrão, a massa amorfa conservadora-ignara que faz o grosso do Congresso. O PT levou viscondados da periferia ministerial e milhares de boquinhas no segundo escalão, rentáveis, mas de pouca projeção política.
No Congresso, a dita oposição, de tão minguante e desesperada, muda de rótulo ou mendiga os mandatos dos parlamentares que fugiram para a boquinha oficial. Seus dois principais presidenciáveis, José Serra e Aécio Neves, refletem sobre quando e se começam a disputar a nomeação; não sabem o que inventar para criar marca eleitoral vendável em 2009. Sua melhor chance, por ora, é o avanço do deserto de homens e idéias no entorno de Lula.
No cenário menos imprevisível, até problemas sérios derivados da mediocridade do governo tendem a estourar após Lula 2, tais como escassez de energia e de investimento público, limitado pelo social-distributivismo. Por ora, a massa salarial cresce 8% ao ano. O PIB deve crescer 4,5%, mais que a inflação. O nível de consumo não terá estado tão alto em uma dúzia de anos, para não dizer duas décadas. A logorréia vulgar de Lula, que viveu picos nos dias de posse ministerial, continua pop.
Não há projeto político, social ou econômico alternativo e relevante. Em torno de Lula, vácuo e conservadorismo. Em 1986, 1994 e 2002 havia ilusões de diferença.
vinit@uol.com.br


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