São Paulo, quarta-feira, 01 de abril de 2009

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G20 começa sob previsão de piora da crise

Um dia antes do início da cúpula, OCDE aponta alta no desemprego e recuo de 4,3% entre economias mais industrializadas

Para o Brasil, estimativa do órgão é de retração de 0,3% neste ano -a menor aposta até agora; BC trabalha com projeção de avanço de 1,2%


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O presidente Barack Obama estava ainda voando para Londres, para participar a partir de hoje da cúpula do G20, enquanto seu vice-conselheiro de Segurança Nacional, Mike Froman, explicava aos jornalistas, em um hotel londrino, o que havia acontecido com a economia mundial desde a cúpula anterior, em novembro: "A economia declinou em novembro e dezembro, a crise se espalhou, e os países do G20 [que reúne as maiores economias do mundo] passaram a focar a recuperação da demanda e do crescimento".
Seria uma descrição quase perfeita não fossem dois detalhes: enquanto Froman falava, a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o clubão dos 30 países mais industrializados do mundo, embora o Brasil não faça parte dele) divulgava números ainda mais aterradores. Não sobre novembro e dezembro passados, mas sobre o resto deste ano.
Os países da OCDE verão um retrocesso de 4,3% em sua produção econômica (no mundo, a queda será de 2,7%), o desemprego aumentará "agudamente" até o fim de 2010 e, em alguns países, atingirá dois dígitos pela primeira vez desde o início dos anos 90.
Mais: o comércio internacional retrocederá mais de 13% neste ano, cifra muito superior à previsão já dramática feita na semana passada pela Organização Mundial do Comércio, de recuo de 9%.
As más notícias atingem também os países emergentes. No caso dos Brics, o Brasil retrocederá 0,3% -a pior estimativa divulgada até agora para o país por um grande órgão internacional e distante da atual projeção do Banco Central (veja quadro). A Rússia, cuja economia está fortemente atrelada à cotação do petróleo, que despencou nos últimos meses, será a mais afetada dos Brics pela crise. Índia e China ainda crescerão, mas muito menos do que o padrão usual.
O segundo ponto em que Froman não tocou é no fato de que a cúpula do G20 não dará uma resposta concreta ao desastre econômico. Será, segundo o anfitrião, Gordon Brown, primeiro-ministro britânico, apenas uma boa dose de "oxigênio da confiança" à sociedade.
Reforça José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia e, como tal, um dos líderes que estarão à mesa do G20: "Nós não esperamos uma solução milagrosa".
Não mesmo, admite Froman, que praticamente confirmou que o documento final do encontro será mesmo o que o jornal "Financial Times" vazou no domingo e que a Folha já resumiu nesta semana.
Froman lembrou o texto emitido há três semanas pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20, que diz que se comprometem a fazer "tudo o que for necessário" para restaurar o crescimento. Ressalvou que o comunicado não está fechado, mas informou que "há amplo consenso em torno dos parâmetros básicos".
Os parâmetros básicos giram em torno de dois pontos que conciliam as posições originalmente divergentes dos EUA e da União Europeia: os norte-americanos insistiam em novos pacotes de estímulo para reativar a economia, ao passo que a Europa preferia centrar a cúpula na reformulação abrangente da regulação/ supervisão do sistema financeiro.
O documento dos ministros da Fazenda/presidentes de BCs, que será a base para o texto dos governantes, contempla essas posições e fala em fazer o necessário pelo crescimento e em apertar a regulação.

Brasil
O Brasil alinhou-se com os norte-americanos na questão da reativação da economia e com os europeus na reforma da regulação/supervisão. Ficou então satisfeito com o documento dos ministros e, portanto, com o que sairá da reunião dos chefes de governo.
Além disso, viu contemplada a sua reivindicação de que o G20 se torne um fórum permanente de líderes -em vez de só ministros da Fazenda e presidentes de BCs, como vinha sendo desde a sua criação, em 1999, até novembro. O rascunho de documento final prevê nova cúpula do G20 neste ano.


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