São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2010

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Siderúrgicas reagem a aumento do minério

Na Europa, setor acusa mineradoras de abuso na formação de preços; no Brasil, associação prevê impacto expressivo do reajuste do aço

Grandes exportadoras da matéria-prima, como a Vale, mudaram modelo anual de negociação dos contratos e acertam altas de até 90%

Vincent Du - 29.mar.10/Reuters
Minério de ferro importado da Austrália em porto da China; mineradoras como a Vale negociam reajuste de até 90% no produto

DO "FINANCIAL TIMES"
DA SUCURSAL DO RIO

Os setores siderúrgico e automobilístico europeus acusaram as grandes mineradoras, entre elas a Vale, de uso de práticas desleais de mercado após a introdução de um novo sistema de preços que quase dobrará o custo do minério de ferro.
A Eurofer, associação setorial das siderúrgicas europeias, queixou-se à Comissão Europeia quanto a possíveis abusos de preços, alegando existir "fortes indicações de coordenação ilícita de reajustes e modelos de formação de preços, além de pressão sobre siderúrgicas individuais para que aceitem essas mudanças".
Nesta semana, a Vale e a australiana BHP deram início a uma mudança no modelo de correção de preços do minério de ferro (agora corrigidos trimestralmente) e já elevaram o produto em até 90%.
A Acea, que representa as montadoras de caminhões e automóveis europeias, afirma que os três principais produtores (Vale, Rio Tinto e BHP Billiton) têm "o poder de formação de preços de um oligopólio".
No Brasil, o Instituto Aço Brasil, antigo IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia), fez uma avaliação menos pessimista, mas considerou o impacto do reajuste como expressivo.
Segundo Marcopólo Lopes, vice-presidente-executivo, o minério corresponde a 25% dos custos do setor e "não é possível" para as siderúrgicas absorverem sozinhas esse reajuste.
Ele disse à Folha que repasses acontecerão, mas não crê numa forte escalada dos produtos que utilizam largamente o aço.
Cita números comparativos: um fogão tem seu peso composto por 75% de aço, mas apenas 17% do valor corresponde à matéria-prima. Num carro Gol, a relação é de 55% para 9%.
O executivo centra fogo, porém, na Vale. Critica a concentração do mercado em torno da empresa e rebate a declaração do presidente da mineradora, Roger Agnelli, para quem o custo do minério de ferro é o mais baixo do mundo no Brasil, enquanto o aço é o de maior valor entre todos os países. "Isso não existe. Pagamos o mesmo preço de minério de ferro. A diferença é só o menor custo de frete, já que a produção é no país. O preço do aço é também compatível com o do mercado doméstico de outros países."

Momento delicado
O apelo da Eurofer a Bruxelas chega em um momento delicado, já que as autoridades de defesa da competição na Europa já estão avaliando uma proposta da Rio Tinto e da BHP Billiton para combinar suas ricas jazidas de minério de ferro na Austrália.
As queixas das siderúrgicas se seguem a alertas de que os preços do aço teriam de subir em até um terço depois que as mineradoras e siderúrgicas de Japão e China concordaram sobre a mudança na formação de preços do minério de ferro.
Os custos mais elevados do aço deverão resultar em preços mais altos para automóveis, vigas para construção e produtos de linha branca (como geladeiras), segundo as siderúrgicas. Como pano de fundo da disputa, estão os esforços das mineradoras para remover um sistema de referência anual nas negociações, substituindo-o por contratos trimestrais vinculados ao preço do minério de ferro no mercado spot (à vista).
Procurada, a Vale preferiu não se manifestar. O Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) diz que é inviável manter os atuais preços, defasados ante os do mercado spot.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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