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Siderúrgicas reagem a aumento do minério
Na Europa, setor acusa mineradoras de abuso na formação de preços; no Brasil, associação prevê impacto expressivo do reajuste do aço
Grandes exportadoras da matéria-prima, como a Vale, mudaram modelo anual de negociação dos contratos
e acertam altas de até 90%
Vincent Du - 29.mar.10/Reuters
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Minério de ferro importado da Austrália em porto da China; mineradoras como a Vale negociam reajuste de até 90% no produto
DO "FINANCIAL TIMES"
DA SUCURSAL DO RIO
Os setores siderúrgico e automobilístico europeus acusaram as grandes mineradoras,
entre elas a Vale, de uso de práticas desleais de mercado após
a introdução de um novo sistema de preços que quase dobrará o custo do minério de ferro.
A Eurofer, associação setorial das siderúrgicas europeias,
queixou-se à Comissão Europeia quanto a possíveis abusos
de preços, alegando existir "fortes indicações de coordenação
ilícita de reajustes e modelos de
formação de preços, além de
pressão sobre siderúrgicas individuais para que aceitem essas mudanças".
Nesta semana, a Vale e a australiana BHP deram início a
uma mudança no modelo de
correção de preços do minério
de ferro (agora corrigidos trimestralmente) e já elevaram o
produto em até 90%.
A Acea, que representa as
montadoras de caminhões e
automóveis europeias, afirma
que os três principais produtores (Vale, Rio Tinto e BHP Billiton) têm "o poder de formação
de preços de um oligopólio".
No Brasil, o Instituto Aço
Brasil, antigo IBS (Instituto
Brasileiro de Siderurgia), fez
uma avaliação menos pessimista, mas considerou o impacto
do reajuste como expressivo.
Segundo Marcopólo Lopes,
vice-presidente-executivo, o
minério corresponde a 25% dos
custos do setor e "não é possível" para as siderúrgicas absorverem sozinhas esse reajuste.
Ele disse à Folha que repasses
acontecerão, mas não crê numa forte escalada dos produtos
que utilizam largamente o aço.
Cita números comparativos:
um fogão tem seu peso composto por 75% de aço, mas apenas 17% do valor corresponde à
matéria-prima. Num carro Gol,
a relação é de 55% para 9%.
O executivo centra fogo, porém, na Vale. Critica a concentração do mercado em torno da
empresa e rebate a declaração
do presidente da mineradora,
Roger Agnelli, para quem o
custo do minério de ferro é o
mais baixo do mundo no Brasil,
enquanto o aço é o de maior valor entre todos os países. "Isso
não existe. Pagamos o mesmo
preço de minério de ferro. A diferença é só o menor custo de
frete, já que a produção é no
país. O preço do aço é também
compatível com o do mercado
doméstico de outros países."
Momento delicado
O apelo da Eurofer a Bruxelas chega em um momento delicado, já que as autoridades de
defesa da competição na Europa já estão avaliando uma proposta da Rio Tinto e da BHP Billiton para combinar suas ricas
jazidas de minério de ferro na
Austrália.
As queixas das siderúrgicas
se seguem a alertas de que os
preços do aço teriam de subir
em até um terço depois que as
mineradoras e siderúrgicas de
Japão e China concordaram sobre a mudança na formação de
preços do minério de ferro.
Os custos mais elevados do
aço deverão resultar em preços
mais altos para automóveis, vigas para construção e produtos
de linha branca (como geladeiras), segundo as siderúrgicas.
Como pano de fundo da disputa, estão os esforços das mineradoras para remover um
sistema de referência anual nas
negociações, substituindo-o
por contratos trimestrais vinculados ao preço do minério de
ferro no mercado spot (à vista).
Procurada, a Vale preferiu
não se manifestar. O Ibram
(Instituto Brasileiro de Mineração) diz que é inviável manter os atuais preços, defasados
ante os do mercado spot.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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