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ANÁLISE
Minério de ferro vira commodity "normal"
JAVIER BLAS
DO "FINANCIAL TIMES"
Por décadas, o minério de
ferro era abundante, os preços
eram estáveis e minerar a mercadoria era um negócio monótono e sem glamour.
Isso começou a mudar no começo dos anos 2000, quando as
imensas necessidades de aço da
China transformaram o minério de ferro no "ingrediente
inacessível" do mercado mundial de commodities. Os preços
começaram a disparar e, enquanto o faziam, o sistema
anual de fixação de preços que
serviu como referência ao mercado durante quatro décadas
começou a ser questionado.
O processo chegou a uma
conclusão anteontem, quando
as mineradoras e as siderúrgicas abandonaram o sistema de
contratos anuais e longas negociações em vigor desde o começo dos anos 60 e o substituíram
por novos acordos de curto prazo com base nos preços do mercado à vista.
Para Melinda Moore, analista de commodities do Credit
Suisse em Londres, "o setor está revolucionando a maneira
pela qual o preço do minério de
ferro é determinado".
Esssa revolução surge enquanto cresce a importância
econômica e geopolítica das
commodities devido às necessidades de países como a China
e outras nações em desenvolvimento na Ásia, no Oriente Médio e na América Latina.
A mudança não será, no entanto, um fenômeno novo nos
mercados de commodities. O
minério de ferro está simplesmente seguindo outros exemplos, como as transformações
no modelo de preços do petróleo, no final dos anos 70; no do
alumínio, no começo dos anos
80; e no do carvão térmico, no
início dos anos 2000.
Todos esses mercados evoluíram de preços fixos ou fixados anualmente para contratos
vinculados ao mercado à vista.
Em estágio posterior, as commodities também desenvolveram contratos de derivativos,
com os consumidores e produtores fazendo hedge contra o
risco de preços voláteis por
meio de "swaps" de varejo e,
posteriormente, contratos futuros.
Alberto Calderón, vice-presidente comercial da BHP Billiton em Melbourne, diz que o
minério de ferro está se tornando uma commodity "normal".
"O sistema de preços está caminhando na mesma direção tomada por outras commodities
no passado", disse ele ao "Financial Times".
A "normalização" surge em
meio a um grande avanço no
volume de minério de ferro comerciado internacionalmente.
O mercado da commodity
transportada por via marítima
quase dobrou, para mais de 900
milhões de toneladas, no ano
passado, ante 450 milhões de
toneladas em 2000. O fator
mais importante é que a participação chinesa saltou para
cerca de 70% desse total, ante
16% há uma década.
O forte crescimento resultou
na criação de um mercado à vista relativamente grande, respondendo por pelo menos 10%
do volume total de comércio,
de acordo com estimativas conservadoras. Esse desdobramento se provou crucial para a
mudança do sistema de determinação de preço, já que as mineradoras e as siderúrgicas
passaram a poder definir os
preços de contratos tendo o
mercado à vista como referência. Mesmo assim, algumas siderúrgicas, especialmente na
Europa, questionam se o mercado à vista reflete os fundamentos de oferta e procura. As
mineradoras dizem que sim.
Sob o tradicional sistema de
determinação de preços para o
minério de ferro, o primeiro
preço acertado entre uma mineradora e uma grande siderúrgica durante as negociações
anuais se tornava uma referência que o restante do setor seguia por um ano.
O novo sistema de preços representa ruptura radical para
com o velho modelo. Emprega
contratos trimestrais, e não
anuais, e o custo é estabelecido
com base em uma média dos
preços do mercado à vista, e
não por meio de negociações.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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