São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2010

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Obama libera exploração de petróleo em alto-mar

Plano do presidente provocou críticas de ambientalistas, democratas e até republicanos

Casa Branca cedeu ao lobby do petróleo visando apoio para a lei sobre mudança climática, a ser avaliada pelo Congresso nos próximos dias

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou ontem um polêmico plano energético que pretende abrir áreas da costa do Atlântico, do norte do Alasca e do leste do golfo do México para exploração de petróleo e gás natural em águas profundas. A decisão, que contraria declarações do presidente no início de sua campanha à Casa Branca, despertou críticas de ambientalistas, democratas e até republicanos.
Se for adiante, o plano derrubará uma moratória de décadas à exploração petrolífera nas águas que vão do norte de Delaware ao centro da Flórida, na região Atlântico Sul dos EUA. "Não foi uma decisão fácil", disse Obama ontem. "Mas, com nossas necessidades de energéticas, precisaremos explorar fontes tradicionais de combustível enquanto aumentamos a produção de novas fontes domésticas de energia renovável."
Oponentes da exploração afirmam que as reservas nas costas americanas são pequenas demais para compensar possíveis danos ambientais -segundo o governo, o país tem 2% das reservas mundiais e consume 20% delas.
Mas a Casa Branca acabou cedendo à pressão da indústria do petróleo e de políticos a ela ligados, em parte porque calcula que assim obterá apoio para uma lei sobre mudança climática a ser avaliada pelo Congresso nas próximas semanas. De olho no tema, o governo também fez concessões a respeito da energia nuclear e carvão.
Além da troca política, Washington quer diminuir importação de petróleo e gerar receita a partir da venda de concessões para exploração.
O Departamento do Interior dos EUA estima que as novas áreas de exploração têm reservas suficientes para mais de 23 anos do consumo de gás natural e 15 anos do consumo de petróleo. Apenas o leste do golfo do México, a região mais rica do plano, teria estimados 3,5 bilhões de barris de petróleo.
As concessões deverão ser disputadas pelas petrolíferas Exxon Mobil, BP e Shell; mas a exploração para valer ainda levará anos até começar.
O plano divulgado ontem é bem próximo de propostas fracassadas do governo anterior, mas difere por manter protegida a região de Bristol Bay, no Alasca, com áreas pesqueiras.
A proposta já encontra dura oposição. "Estamos horrorizados pelo lançamento desse ataque aos oceanos pelo presidente", disse Jacqueline Savitz, do grupo ambientalista Oceana.
Vários democratas afirmaram que lutarão contra o plano. Já para líderes republicanos, o governo foi modesto demais.
O presidente foi acusado ainda de mudar de posição. Enquanto ainda disputava a Presidência, em 2008, Obama se disse inicialmente contra a exploração em águas profundas. Em meados daquele ano, começou a afirmar que poderia ceder na questão, desde que a exploração fizesse parte de estratégia mais ampla para reduzir gastos com energia.
"Não há nada de novo", disse ontem um porta-voz da Casa Branca. "O que o presidente disse [na campanha] é que não há solução única para diminuir a dependência de petróleo estrangeiro."
Obama ainda deverá enfrentar problemas com os governos dos Estados próximos às áreas de exploração, que temem riscos ambientais e deverão exigir parte da renda a ser obtida.


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