São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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NOVO DEGRAU / CONTEXTO

Status chega em momento de descrédito das agências

Suspeitas vieram após fracasso em não prever hipotecas de alto risco nos EUA

Falha pode levar economia americana à recessão; mercado internacional estuda impor novas regras para atuação das agências


AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O aguardado status de grau de investimento conferido ontem pela Standard & Poor's ao Brasil foi anunciado num momento em que há grandes dúvidas no mercado internacional sobre as opiniões das chamadas agências de classificação de risco. O descrédito no papel das agências ganhou corpo depois que elas não conseguiram prever os enormes volumes de créditos duvidosos derivados das chamadas hipotecas de alto risco ("subprime") nas mãos dos bancos. A crise no mercado de títulos imobiliários nos Estados Unidos arrastou a maior economia do mundo para o risco de recessão.
A SEC, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários brasileira -xerife do mercado de capitais dos EUA-, anunciou recentemente que pode adotar novas regras para disciplinar a operação das agências de risco e tentar, assim, evitar avaliações contaminadas. A idéia é limitar os conflitos de interesse, quando uma agência, mesmo participando de trabalhos de consultoria para emissão de papéis de empresas no mercado, também determina um nota para esses títulos quando eles circulam como ativos.
Para o Prêmio Nobel de Economia Edmund Phelps, devem ser criadas, em todo o mundo, agências de classificação de risco focadas na avaliação de novos mecanismos de dívida criadas no mercado financeiro mundial. As dúvidas internacionais sobre as avaliações referentes ao Brasil não foram muito consideradas ontem.
A Bolsa paulista subiu forte (6,33% ao final do pregão) depois de anunciada a reclassificação do país ao nível de grau de investimento.

Promoção tardia
"Acho que essa foi a prova mais clara de que o investimento não duvidou da nota que a S&P conferiu ao Brasil", disse Marcelo Giufrida, vice-presidente da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Para o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, as agências de avaliação de risco de fato tiveram a credibilidade afetada, mas especificamente na capacidade de determinar riscos para avaliar papéis do sistema bancário. "Uma coisa é entrar num banco e avaliar os papéis, os créditos de uma instituição financeira. Outra, bem diferente, é avaliar o risco soberano de um país", distinguiu o economista.
Nesse quesito, Velloso não crê que as notas atribuídas à capacidade de pagamento do Brasil possam estar equivocadas. Ele acha que os fundamentos da economia brasileira, fora a questão fiscal, estão bem sólidos. "Penso que a S&P atribuiu o grau de investimento mesmo diante da situação fiscal brasileira por que há uma avaliação de que o país está em condições de honrar os compromissos ante os grandes volumes de investimentos externos que está recebendo", avalia.
Para Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, professor, economista e colunista da Folha, o furo das agências de classificação de risco ocorreu na avaliação dos bancos, e não nas ponderações sobre a capacidade de pagamento dos países. Belluzzo acha que veio tarde a promoção do Brasil ao grupo dos países com baixo risco de crédito. "Demoraram para reconhecer a gestão macroeconômica competente do Brasil. Já deveria ter sido reconhecida."


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