GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Depois de um ano de recuperação, a inadimplência voltou a subir nas carteiras de créditos dos bancos no país. O total de créditos em atraso com mais de 60 dias (que classifica a inadimplência) subiu 18,8% em março deste ano em relação a dezembro passado, segundo estudo realizado pela consultoria Austin Asis, a partir dos balanços (referentes ao primeiro trimestre) de 25 bancos.
Em dezembro passado, o índice de inadimplência correspondia a 3,6% da carteira de crédito dos 25 bancos. Em março, o índice subiu para 4,5%. A média histórica de inadimplência desses 25 bancos, que são principalmente instituições de primeira linha, é de 3,5%.
Para Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Asis, o aumento da inadimplência nos bancos é reflexo direto das altas taxas de juros do país. Segundo ele, se os juros não caírem no curto prazo, os bancos poderão começar a perder rentabilidade com o aumento da inadimplência.
De acordo com Rodrigues, os altos juros cobrados no país estão provocando uma deterioração na carteira de crédito dos bancos. "No médio prazo, os bancos poderão sofrer alguns problemas em razão dessa deterioração", afirma.
Para Rodrigues, o Banco Central precisa começar imediatamente a reduzir os juros para evitar esses problemas.
Já Hugo Dantas, diretor-geral da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), diz que o crescimento da inadimplência é consequência não só dos juros altos, mas também da estagnação da economia e do aumento do desemprego no país.
De acordo com Dantas, se os bancos tivessem previsto que a economia iria ficar parada no início deste ano, a inadimplência não teria sido tão alta. "Os bancos teriam tido ainda mais cuidado na hora de conceder o crédito", diz.

Juros podem subir
O grande problema, segundo Dantas, é que a alta da inadimplência vai provocar mais aumento dos juros bancários. "Um dos componentes da formação dos juros tem relação com a inadimplência", afirma o diretor da Febraban.
Para quebrar esse "círculo vicioso" (mais juros significa mais inadimplência e vice-versa), Dantas diz que o governo precisa criar condições na economia para baixar os juros e fazer com que o crédito comece a crescer.
Além do aumento da inadimplência, a carteira de crédito dos bancos também caiu significativamente em março passado, segundo o estudo da Austin Asis.
O crédito desses bancos caiu de R$ 208,6 bilhões em dezembro para R$ 198,9 bilhões em março, o que significa uma redução de 4,6% no período. O crédito voltou ao mesmo patamar do primeiro trimestre do ano passado.
A redução na carteira de crédito dos bancos no início deste ano já mostrava uma preocupação das instituições com a possibilidade de aumento da inadimplência diante das altas taxas de juros. Mesmo assim, a inadimplência aumentou.
Durante o ano de 2002, a inadimplência havia reduzido significativamente. Nessa amostragem da Austin Asis, a inadimplência tinha chegado a cair de 4,6% em março de 2002 para os 3,6% de dezembro passado. Em apenas três meses, o índice de inadimplência voltou aos mesmos níveis do ano passado.


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