São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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DE LÁ PARA CÁ

Brasileiros que moram no exterior gastarão menos na operação

Bancos disputam o envio de remessas para o Brasil

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

De olho em um mercado de US$ 5,4 bilhões ao ano, a CEF (Caixa Econômica Federal) anunciou ontem a criação de um site na internet por intermédio do qual os brasileiros residentes no exterior poderão remeter dinheiro para o Brasil a um custo inferior a um terço da média atual.
Com o anúncio, o banco segue o mesmo caminho tomado recentemente por bancos privados, que investem na ampliação de participação nesse segmento.
No início do mês passado, por exemplo, o Itaú divulgou uma parceria com a empresa de remessas MoneyGram, presente em 160 países. O Bradesco, interessado nas remessas dos brasileiros vivendo nos Estados Unidos, fechou em março um contrato com o Bank of America.
Outro caso é o do Santander, que tem uma agência em Tóquio desde 1972 e que deve lançar um plano de previdência privada para os decasséguis (descendentes de japoneses que moram no país).
"É um tremendo mercado, há muitos brasileiros vivendo fora do país. Além disso, o Japão ameaça retomar seu crescimento econômico, o que deve fazer com que a quantidade de remessas de brasileiros também aumente", diz o consultor William Eid, da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas).
O próprio Banco do Brasil -que domina esse mercado- está desenvolvendo, em parceria com a bandeira Visa, um sistema de remessa de dinheiro nos moldes do lançado ontem pela CEF.
Segundo pesquisa do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), há atualmente de 2,5 milhões a 3 milhões de brasileiros morando no exterior, dos quais 1,3 milhão remete por ano para o país cerca de US$ 5,4 bilhões, ou mais de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 2003 (US$ 493,3 bilhões). A CEF pretende captar 10% do volume total de remessas.
Segundo o presidente do banco, Jorge Mattoso, o site deverá ser lançado neste mês, inicialmente só para residentes nos EUA. Em setembro será estendido a Portugal e em outubro, ao Japão.
Mattoso disse que o site vai funcionar como uma espécie de "loja virtual" da CEF na qual o brasileiro que mora no exterior vai poder abrir uma conta simplificada.
Usando essa conta, o cliente poderá, com seu cartão de crédito das redes Visa e MasterCard, emitido no exterior, "comprar" uma determinada quantia da CEF e remeter esse dinheiro ao Brasil para entrega a alguém (o procedimento mais comum dos residentes no exterior) ou aplicar esse dinheiro em um dos produtos da CEF.
No caso de optar por uma aplicação, o cliente só poderá sacar esse dinheiro pessoalmente, quando retornar ao Brasil. A cobrança do valor remetido virá na fatura do cartão de crédito. Para ter acesso a um cartão de crédito e poder usar o serviço da CEF, o brasileiro terá que residir legalmente lá fora. Segundo Mattoso, o custo da operação vai variar de 2,6% a 3% do valor da remessa. O dinheiro estará disponível no Brasil em 48 horas.

Custo
Hoje, segundo o BID, o custo médio de uma remessa dos Estados Unidos para o Brasil está em 8,9%, podendo chegar até a 20% em alguns casos. As remessas são feitas, basicamente, por meio de empresas especializadas, como a Western Union -que tem parceria com o BB-, a Vigo e a MoneyGram, ou por intermédio de lojas de produtos brasileiros.
Do Japão, de onde os decasséguis remetem por ano cerca de US$ 2 bilhões, o custo da remessa é mais baixo porque há agências de bancos brasileiros disponíveis.
O valor máximo das remessas ainda depende de regulamentação do Banco Central. Ontem, durante seminário do BID/FGV sobre o papel das remessas no desenvolvimento do país, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que o banco está empenhado em facilitar operacionalmente as remessas.
Mas Meirelles ressalvou que muitas coisas estão atreladas à legislação cambial do país e só poderão ser modificadas pelo Congresso, no âmbito de uma reforma cambial que já está em estudo.
O BID avalia que as normas atuais dificultam as remessas e a contabilização delas, empurrando a entrada dos recursos para o mercado informal. Tanto que os dados mostram que o Brasil recebe US$ 5,4 bilhões por ano, mas o BC só registrou em 2003 remessas totais de US$ 2,9 bilhões.


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