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Recuperação nos EUA deve ter impacto na GM Brasil
Para especialistas, medida pode derrubar vendas e drenar recursos da subsidiária
No Brasil, empresa diz que crise na matriz não afeta suas operações; desenho
da concordata pode incluir
ou não a filial no processo
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Embora a GM do Brasil adote
o discurso de que a crise da matriz não impacta a subsidiária
brasileira, analistas consultados pela Folha veem alguns canais de contágio para a montadora no país.
O desenho da concordata irá
definir se a GM do Brasil será
tragada pelo processo ou se ficará à parte da recuperação judicial, diz Luiz Carlos Mello,
coordenador do CEA (Centro
de Estudos Automotivos) e ex-presidente da Ford no Brasil.
"Trata-se de uma decisão jurídica. Isso vai determinar como fica a subsidiária. As operações podem ou não ser tratadas
de forma diferenciada, a decisão é prerrogativa da matriz",
afirmou Mello.
De acordo com David Wong,
especialista do setor automotivo da consultoria Kaiser Associates, afora o problema jurídico a GM do Brasil poderá sofrer
as consequências da concordata da matriz de três maneiras:
por uma reação adversa dos
consumidores à marca, pela
drenagem de recursos por parte da matriz em forma de remessa de lucros e por uma defasagem tecnológica.
Opel
Com a venda da Opel -braço
europeu da GM- a um consórcio formado pela canadense
Magna, o banco russo Sberbank e a montadora de caminhões russa GAZ, ainda não estão claros quais serão os impactos à GM brasileira justamente
na área de tecnologia e desenvolvimento. Analistas previam
que uma venda da Opel a concorrentes da GM sem incluir a
GM do Brasil no pacote -como
de fato não foi incluída- teria
impactos negativos.
Isso porque "boa parte" da
base tecnológica da GM do Brasil vem atualmente da Europa,
afirma Wong.
O acordo para a venda da
Opel ao consórcio internacional foi confirmado no fim de semana pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Preocupado com a manutenção dos 25
mil empregos ligados à Opel no
país, o governo alemão concederá um empréstimo-ponte de
US$ 2,1 bilhões ao consórcio,
que se comprometeu a injetar
mais 300 milhões de dinheiro novo na operação.
A marca emprega cerca de 55
mil pessoas na Europa, mas,
mesmo com a venda, cerca de
11 mil demissões são previstas
em razão da crise.
Desconfiança
Outro impacto possível da
concordata na GM do Brasil, a
desconfiança do consumidor
em relação à marca, provoca visões divergentes entre analistas -bem como uma eventual
elevação da pressão sobre os lucros promovida pela matriz sobre a subsidiária nacional.
Para o consultor André Beer,
ex-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), "80% dos consumidores
provavelmente não têm essa
dimensão da crise por que passa a GM nos Estados Unidos".
Já o presidente da Fenabrave
(Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), Sérgio Reze, admite que
pode haver algum impacto em
volume de vendas.
"Às vezes, o consumidor é induzido a uma atitude irracional
em função das notícias que vêm
de fora. Mas não há motivo para isso porque esse momento
por que passa a matriz não desqualifica a GM no Brasil do
ponto de vista técnico", disse.
General Motors
Procurada, a GM não se manifestou sobre os últimos acontecimentos envolvendo a matriz, mas, em declarações recentes, o presidente da montadora no Brasil e Mercosul, Jaime Ardila, vem dizendo que os
investimentos em andamento
no país serão mantidos e que a
operação brasileira apresenta
resultado positivo.
No ano passado, a GM atingiu nível recorde de vendas no
Brasil, com 549 mil unidades
vendidas.
No país, a GM possui três fábricas de veículos e uma em
construção em Joinville (Santa
Catarina) para a fabricação de
motores.
A montadora emprega ao todo 21 mil funcionários.
Na sexta-feira a GM do Brasil
convocou uma entrevista coletiva, agendada para amanhã,
para discutir os efeitos da possível concordata da matriz.
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