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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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TRABALHO

Fatia ocupada por arrecadação de impostos sobe 58%

Participação do salário no PIB cai 8 pontos percentuais em dez anos

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para arcar com as consequências da dívida pública -cujos juros alimentam o sistema financeiro nacional-, o governo subiu tributos nos últimos dez anos, o que, entre outros fatores, causou diminuição de 18,2% na renda do trabalhador no período.
Em 1992, os salários e ordenados correspondiam a 44% do PIB (Produto Interno Bruto), proporção que caiu para 36% em 2002.
Se a relação não tivesse mudado, o total de salários pagos no ano passado na economia brasileira teria sido de R$ 581,4 bilhões. Com a queda, o total chegou a R$ 475,7 bilhões, uma perda de R$ 105 bilhões, ou 8% do PIB.
Paralelamente, a arrecadação do governo com impostos, taxas e contribuições saltou de 12% para 19% do PIB nos últimos anos, um aumento de 58,3%.
As conclusões são de um estudo realizado pelo secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo, Márcio Pochmann. Ele lembra que, além do aumento dos tributos, a renda do trabalhador foi afetada indiretamente pela queda de investimentos na indústria.
"Os riscos baixos e maior rentabilidade do sistema financeiro desviam investimentos da produção, o que impede o crescimento sustentado do país", diz.

"Financeirização"
Nos últimos dez anos, a renda do capital -setor produtivo mais sistema financeiro- ficou praticamente estagnada: passou de 44% para 45% do PIB.
Mas a rentabilidade das empresas do setor produtivo caiu cerca de 80% de 94 para 2002, enquanto a dos bancos cresceu 131,1%, segundo estudo realizado pela consultoria Austin Asis.
No mesmo período, os investimentos na indústria caíram de 20,8% do PIB para 18,7%. Por outro lado, os ganhos do capital financeiro aumentaram 15% em média ao ano.
Pochmann afirma que esse lucro não é consequência de expansão de empréstimos do sistema financeiro para o setor privado: a oferta de crédito caiu 14 pontos percentuais de janeiro de 1995 para o mesmo mês deste ano.
"Houve uma "financeirização" da economia brasileira, mesmo porque o setor produtivo também depende hoje do sistema financeiro para aumentar sua rentabilidade", diz o secretário.
Segundo ele, essa transferência de investimentos foi acentuada a partir de 1994, com o Plano Real. "A política de estabilização de preços dependia principalmente da abertura financeira e comercial", afirma o secretário.
Juros altos atraíram dólares ao país, mas em contrapartida elevaram a dívida pública.
Quando vieram as crises internacionais, o país obteve ajuda de organismos de crédito e teve de passar a perseguir superávits elevados para pagar juros dos empréstimos.
"Para isso, há corte de investimento público e aumento da carga tributária, entre outros fatores. É um ciclo que onera a sociedade", diz o secretário do Trabalho.


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