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TRABALHO
Fatia ocupada por arrecadação de impostos sobe 58%
Participação do salário no PIB cai 8 pontos percentuais em dez anos
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para arcar com as consequências da dívida pública -cujos juros alimentam o sistema financeiro nacional-, o governo subiu
tributos nos últimos dez anos, o
que, entre outros fatores, causou
diminuição de 18,2% na renda do
trabalhador no período.
Em 1992, os salários e ordenados correspondiam a 44% do PIB
(Produto Interno Bruto), proporção que caiu para 36% em 2002.
Se a relação não tivesse mudado, o total de salários pagos no
ano passado na economia brasileira teria sido de R$ 581,4 bilhões.
Com a queda, o total chegou a
R$ 475,7 bilhões, uma perda de
R$ 105 bilhões, ou 8% do PIB.
Paralelamente, a arrecadação
do governo com impostos, taxas e
contribuições saltou de 12% para
19% do PIB nos últimos anos, um
aumento de 58,3%.
As conclusões são de um estudo
realizado pelo secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo,
Márcio Pochmann. Ele lembra
que, além do aumento dos tributos, a renda do trabalhador foi
afetada indiretamente pela queda
de investimentos na indústria.
"Os riscos baixos e maior rentabilidade do sistema financeiro
desviam investimentos da produção, o que impede o crescimento
sustentado do país", diz.
"Financeirização"
Nos últimos dez anos, a renda
do capital -setor produtivo mais
sistema financeiro- ficou praticamente estagnada: passou de
44% para 45% do PIB.
Mas a rentabilidade das empresas do setor produtivo caiu cerca
de 80% de 94 para 2002, enquanto
a dos bancos cresceu 131,1%, segundo estudo realizado pela consultoria Austin Asis.
No mesmo período, os investimentos na indústria caíram de
20,8% do PIB para 18,7%. Por outro lado, os ganhos do capital financeiro aumentaram 15% em
média ao ano.
Pochmann afirma que esse lucro não é consequência de expansão de empréstimos do sistema financeiro para o setor privado: a
oferta de crédito caiu 14 pontos
percentuais de janeiro de 1995 para o mesmo mês deste ano.
"Houve uma "financeirização"
da economia brasileira, mesmo
porque o setor produtivo também depende hoje do sistema financeiro para aumentar sua rentabilidade", diz o secretário.
Segundo ele, essa transferência
de investimentos foi acentuada a
partir de 1994, com o Plano Real.
"A política de estabilização de
preços dependia principalmente
da abertura financeira e comercial", afirma o secretário.
Juros altos atraíram dólares ao
país, mas em contrapartida elevaram a dívida pública.
Quando vieram as crises internacionais, o país obteve ajuda de
organismos de crédito e teve de
passar a perseguir superávits elevados para pagar juros dos empréstimos.
"Para isso, há corte de investimento público e aumento da carga tributária, entre outros fatores.
É um ciclo que onera a sociedade", diz o secretário do Trabalho.
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