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ÁGUIA EM TRANSE
PIB americano sobe 2,4% no segundo trimestre; despesas com defesa têm maior aumento desde os anos 50
Gasto militar impulsiona economia dos EUA
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O maior aumento de gastos militares desde a Guerra da Coréia
(1950-53) impulsionou a economia norte-americana, que cresceu
no segundo trimestre bem acima
do esperado por analistas.
O PIB (Produto Interno Bruto
- soma dos valores de todos os
bens e serviços produzidos em
um ano)- do país cresceu a uma
taxa anualizada de 2,4% no período, segundo o índice divulgado
pelo Departamento de Comércio.
A expectativa era de um aumento
de 1,5%, que seria próximo ao
1,4% verificado no primeiro trimestre deste ano.
A má notícia é que o crescimento dependeu, em grande parte, do
aumento dos gastos públicos, que
estão levando os EUA a enfrentarem déficits recordes: há duas semanas, o governo anunciou que
esperava um déficit de US$ 455
bilhões para este ano (o dobro do
previsto originalmente), o que
corresponde a 4,2% do seu PIB.
Durante a Segunda Guerra, os déficits públicos do país chegavam a
6% do PIB.
Para economistas críticos da
política do presidente George W.
Bush, os déficits atuais podem
comprometer o crescimento econômico no futuro, quando o governo terá que fazer ajustes para
colocar as contas em ordem.
Nenhum item da economia
americana cresceu mais no trimestre do que os gastos militares
federais, que subiram 44% no período em que o governo americano atacou o Iraque. É o maior aumento trimestral na rubrica de
defesa desde 1951. Os gastos militares foram responsáveis por 1,69
ponto percentual no crescimento
de 2,4% no trimestre.
A parte militar, que alcança US$
516 bilhões anuais (pouco superior ao tamanho do PIB do Brasil), foi o único gasto público que
cresceu no segundo trimestre. As
despesas federais não-militares
caíram 4,1%, e as estaduais e municipais ficaram 1,5% menores.
Mesmo com crescimento, o desemprego não cedeu. Para isso,
avaliam os analistas locais, a economia deveria se expandir a uma
taxa anual de 3% a 4%.
Ainda assim, o dia de ontem teve outro número positivo para a
economia americana, divulgado
pelo Departamento de Trabalho.
O número de pedidos de seguro-desemprego atingiu na semana passada o nível mais baixo em
cinco meses, contrariando a expectativa de alta que havia.
A divulgação dos dados pelo governo teve boa reação nos mercados americanos e ajudou a consolidar um mês de otimismo entre
os negociadores de ações.
Na Bolsa de Nova York, os índices Dow Jones e Standard &
Poor's completaram o quinto mês
seguido de ganhos, o que não
ocorria desde 1998 -o primeiro
subiu 2,8%, e o segundo, 1,6%.
Situação semelhante ocorreu na
Nasdaq, a Bolsa da nova economia, que completou o sexto mês
consecutivo de números positivos. Em julho, o índice Nasdaq
Composite subiu 6,9%.
Mentalidade
Alguns analistas têm opinado
que a guerra do Iraque foi apenas
o primeiro sinal de uma mudança
de mentalidade nos investimentos americanos.
O banco Merrill Lynch divulgou
relatório afirmando que o país estaria retornando à mentalidade
da Guerra Fria -após viver, nos
anos 90, um período de grande
expansão de investimentos privados, sobretudo na área de tecnologia e internet.
"Sentimos que a próxima década será marcada por pesquisa e
desenvolvimento financiados por
dinheiro público [como o Pentágono] e por investimento em capital do setor público [como gastos em defesa, inteligência e segurança]", opinou o estrategista-chefe do Merrill Lynch para os
EUA, Richard Bernstein.
Essa visão é corroborada por
anúncios como o feito na semana
passada pela Boeing, que reorganizou sua produção de forma que
o setor de satélites comerciais,
com fraca demanda, trabalhe para a Força Aérea e para a Nasa
(agência espacial americana).
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