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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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ÁGUIA EM TRANSE

PIB americano sobe 2,4% no segundo trimestre; despesas com defesa têm maior aumento desde os anos 50

Gasto militar impulsiona economia dos EUA

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O maior aumento de gastos militares desde a Guerra da Coréia (1950-53) impulsionou a economia norte-americana, que cresceu no segundo trimestre bem acima do esperado por analistas.
O PIB (Produto Interno Bruto - soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos em um ano)- do país cresceu a uma taxa anualizada de 2,4% no período, segundo o índice divulgado pelo Departamento de Comércio. A expectativa era de um aumento de 1,5%, que seria próximo ao 1,4% verificado no primeiro trimestre deste ano.
A má notícia é que o crescimento dependeu, em grande parte, do aumento dos gastos públicos, que estão levando os EUA a enfrentarem déficits recordes: há duas semanas, o governo anunciou que esperava um déficit de US$ 455 bilhões para este ano (o dobro do previsto originalmente), o que corresponde a 4,2% do seu PIB. Durante a Segunda Guerra, os déficits públicos do país chegavam a 6% do PIB.
Para economistas críticos da política do presidente George W. Bush, os déficits atuais podem comprometer o crescimento econômico no futuro, quando o governo terá que fazer ajustes para colocar as contas em ordem.
Nenhum item da economia americana cresceu mais no trimestre do que os gastos militares federais, que subiram 44% no período em que o governo americano atacou o Iraque. É o maior aumento trimestral na rubrica de defesa desde 1951. Os gastos militares foram responsáveis por 1,69 ponto percentual no crescimento de 2,4% no trimestre.
A parte militar, que alcança US$ 516 bilhões anuais (pouco superior ao tamanho do PIB do Brasil), foi o único gasto público que cresceu no segundo trimestre. As despesas federais não-militares caíram 4,1%, e as estaduais e municipais ficaram 1,5% menores.
Mesmo com crescimento, o desemprego não cedeu. Para isso, avaliam os analistas locais, a economia deveria se expandir a uma taxa anual de 3% a 4%.
Ainda assim, o dia de ontem teve outro número positivo para a economia americana, divulgado pelo Departamento de Trabalho.
O número de pedidos de seguro-desemprego atingiu na semana passada o nível mais baixo em cinco meses, contrariando a expectativa de alta que havia.
A divulgação dos dados pelo governo teve boa reação nos mercados americanos e ajudou a consolidar um mês de otimismo entre os negociadores de ações.
Na Bolsa de Nova York, os índices Dow Jones e Standard & Poor's completaram o quinto mês seguido de ganhos, o que não ocorria desde 1998 -o primeiro subiu 2,8%, e o segundo, 1,6%.
Situação semelhante ocorreu na Nasdaq, a Bolsa da nova economia, que completou o sexto mês consecutivo de números positivos. Em julho, o índice Nasdaq Composite subiu 6,9%.

Mentalidade
Alguns analistas têm opinado que a guerra do Iraque foi apenas o primeiro sinal de uma mudança de mentalidade nos investimentos americanos.
O banco Merrill Lynch divulgou relatório afirmando que o país estaria retornando à mentalidade da Guerra Fria -após viver, nos anos 90, um período de grande expansão de investimentos privados, sobretudo na área de tecnologia e internet.
"Sentimos que a próxima década será marcada por pesquisa e desenvolvimento financiados por dinheiro público [como o Pentágono] e por investimento em capital do setor público [como gastos em defesa, inteligência e segurança]", opinou o estrategista-chefe do Merrill Lynch para os EUA, Richard Bernstein.
Essa visão é corroborada por anúncios como o feito na semana passada pela Boeing, que reorganizou sua produção de forma que o setor de satélites comerciais, com fraca demanda, trabalhe para a Força Aérea e para a Nasa (agência espacial americana).


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