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ANÁLISE
Dificuldades ainda à vista
DO "FINANCIAL TIMES"
Ontem houve boas notícias
para os analistas mais otimistas de Wall Street e para Alan
Greenspan, o presidente do Federal Reserve (BC americano). Há
três anos eles vêm prevendo uma
retomada do crescimento econômico nos EUA a partir do segundo semestre. Depois de seguidas
decepções, agora parece que afinal terão sorte.
Os números do PIB divulgados
ontem mostram que a economia
americana cresceu a índice anualizado de 2,4% no segundo trimestre, consideravelmente mais
rápido do que se esperava e maior
que a taxa de 1,4% registrada nos
dois trimestres anteriores.
O aspecto mais animador dos
números do PIB não foi a cifra,
mas a composição do crescimento. O investimento, em particular,
parece finalmente estar se recuperando, retirando certa pressão do
consumidor para que seja o motor do crescimento. Se não fosse
por um declínio bastante forte
nos estoques mantidos pelas empresas, o crescimento do PIB teria
sido de 3,2%.
Como também indicou o Livro
Bege, relatório periódico do Fed
sobre a atividade econômica cuja
última edição revelou sinais de recuperação na atividade econômica e no sentimento das empresas,
os últimos dois meses presenciaram uma clara melhora na previsão econômica em curto prazo.
Infelizmente, a probabilidade de
uma recuperação cíclica é o limite
das boas notícias. Há pouca evidência de que os EUA estejam
prestes a embarcar numa expansão rápida e prolongada.
Primeiro, os números do PIB
foram beneficiados por um salto
de 44% nos gastos federais com
defesa, consequência da Guerra
do Iraque. Desde que a ocupação
americana no Iraque não venha a
ser um poço sem fundo financeiro, o crescimento econômico provocado por esses gastos do governo será algo realmente singular.
Segundo, a conquista de um índice de crescimento de 2,4%,
abaixo da tendência de longo prazo, depois do extraordinário
afrouxamento da política monetária e fiscal nos últimos dois
anos, não é nada para se alardear.
Desde que o Fed iniciou sua série
de cortes, as taxas de juros nos
EUA caíram 5,5 pontos percentuais, enquanto a situação fiscal
como parcela do PIB se deteriorou em cinco pontos percentuais.
Terceiro, o estouro da bolha no
mercado de títulos do governo
em junho, associado ao maior otimismo econômico, aumentou o
rendimento dos títulos do Tesouro de dez anos em 1,3 ponto percentual. Esse rápido aperto das
condições financeiras para as famílias e as empresas, quando o
consumo e o investimento continuam relativamente frágeis, impedirá qualquer recuperação.
E, é claro, os EUA ainda não se
adaptaram totalmente ao estouro
da bolha do final dos anos 90. Os
empréstimos do setor privado foram substituídos por empréstimos do governo, e a bolha das
ações foi seguida de altas nos mercados de títulos e imobiliário. Até
que os excessos dos anos 90 tenham sido purgados do sistema,
um crescimento estável e sustentável em longo prazo provavelmente continuará sendo ilusório.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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