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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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ANÁLISE

Dificuldades ainda à vista

DO "FINANCIAL TIMES"

Ontem houve boas notícias para os analistas mais otimistas de Wall Street e para Alan Greenspan, o presidente do Federal Reserve (BC americano). Há três anos eles vêm prevendo uma retomada do crescimento econômico nos EUA a partir do segundo semestre. Depois de seguidas decepções, agora parece que afinal terão sorte.
Os números do PIB divulgados ontem mostram que a economia americana cresceu a índice anualizado de 2,4% no segundo trimestre, consideravelmente mais rápido do que se esperava e maior que a taxa de 1,4% registrada nos dois trimestres anteriores.
O aspecto mais animador dos números do PIB não foi a cifra, mas a composição do crescimento. O investimento, em particular, parece finalmente estar se recuperando, retirando certa pressão do consumidor para que seja o motor do crescimento. Se não fosse por um declínio bastante forte nos estoques mantidos pelas empresas, o crescimento do PIB teria sido de 3,2%.
Como também indicou o Livro Bege, relatório periódico do Fed sobre a atividade econômica cuja última edição revelou sinais de recuperação na atividade econômica e no sentimento das empresas, os últimos dois meses presenciaram uma clara melhora na previsão econômica em curto prazo. Infelizmente, a probabilidade de uma recuperação cíclica é o limite das boas notícias. Há pouca evidência de que os EUA estejam prestes a embarcar numa expansão rápida e prolongada.
Primeiro, os números do PIB foram beneficiados por um salto de 44% nos gastos federais com defesa, consequência da Guerra do Iraque. Desde que a ocupação americana no Iraque não venha a ser um poço sem fundo financeiro, o crescimento econômico provocado por esses gastos do governo será algo realmente singular.
Segundo, a conquista de um índice de crescimento de 2,4%, abaixo da tendência de longo prazo, depois do extraordinário afrouxamento da política monetária e fiscal nos últimos dois anos, não é nada para se alardear. Desde que o Fed iniciou sua série de cortes, as taxas de juros nos EUA caíram 5,5 pontos percentuais, enquanto a situação fiscal como parcela do PIB se deteriorou em cinco pontos percentuais.
Terceiro, o estouro da bolha no mercado de títulos do governo em junho, associado ao maior otimismo econômico, aumentou o rendimento dos títulos do Tesouro de dez anos em 1,3 ponto percentual. Esse rápido aperto das condições financeiras para as famílias e as empresas, quando o consumo e o investimento continuam relativamente frágeis, impedirá qualquer recuperação.
E, é claro, os EUA ainda não se adaptaram totalmente ao estouro da bolha do final dos anos 90. Os empréstimos do setor privado foram substituídos por empréstimos do governo, e a bolha das ações foi seguida de altas nos mercados de títulos e imobiliário. Até que os excessos dos anos 90 tenham sido purgados do sistema, um crescimento estável e sustentável em longo prazo provavelmente continuará sendo ilusório.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves


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