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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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TANGO MAIS ALEGRE

Pobreza também diminui, mas ainda está alta, em 54,7%

Desemprego recua na Argentina

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

Com pouco mais de dois meses de mandato, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, já começou a coletar os bons frutos da recuperação econômica que atingiu o país nos últimos meses. A taxa de desemprego recuou dos 17,8% registrados em outubro do ano passado para 15,6% em maio de 2003. A queda também é significativa se comparada com maio de 2002, pico da crise do emprego, quando bateu nos 21,5%.
O nível de pobreza também retrocedeu em relação ao fim do ano passado. Segundo dados do Indec (instituto de estatísticas do governo), 1,5 milhão de argentinos conseguiu sair do patamar considerado abaixo da linha de pobreza. O número de indigentes caiu em 800 mil. Em maio, 54,7% dos argentinos eram considerados pobres, e 26,3%, indigentes, ante as taxas de 57,5% e 27,5%, respectivamente, registradas em outubro de 2002.
Em comparação com maio de 2002, no entanto, o nível de pobreza aumentou. O problema atingia 53% das pessoas, e a indigência, 24,8%. "Isso acontece porque houve uma piora no poder de compra", afirma Cyntia Pok, diretora do setor de pesquisa do Indec. Desde maio do ano passado, o preço da cesta básica de alimentos subiu 2,7%, segundo o Indec.
Apesar do recuo, o nível de pobreza e indigência na Argentina continua bastante elevado. Os 54,7% representam quase 13 milhões de pessoas. Os indigentes somam 6,25 milhões. Essa é uma realidade com a qual os argentinos não estavam acostumados e que é resultado de uma das piores crises já enfrentadas pelo país. Entre os anos de 1998 e 2002, o PIB (Produto Interno Bruto) argentino recuou quase 20%, percentual só visto por países que passaram por guerras.
Alguns analistas também contestam os números do governo. Alguns afirmam que a taxa real de desemprego supera os 20%, pois os números do Indec incluem os desempregados que são beneficiados pelos subsídios dados pelo governo aos pais e mães de família desempregados. Cerca de 2 milhões de pessoas recebem esse subsídio (de 150 pesos). O próprio ministro da Economia, Roberto Lavagna, admite que a taxa ainda é elevada. "O importante é destacar que foi criado 1,2 milhão de novos postos de trabalho. O objetivo é ampliar esse número cada vez mais", afirmou. Apesar do dado positivo, 4,8 milhões de pessoas ainda estão desempregadas ou subempregadas na Argentina.
A melhora dos indicadores sociais registrada no mês de maio é reflexo da retomada do crescimento que teve início nos fins do ano passado e que resultou num avanço de 5,4% do PIB só primeiro trimestre deste ano. Essa expansão foi impulsionada principalmente pelo setor agrícola, que ampliou suas exportações beneficiado pela depreciação do peso após o fim da conversibilidade cambial, em janeiro de 2002. No ano, as exportações argentinas já cresceram 28% e somam, no primeiro semestre, US$ 14,513 bilhões. O saldo comercial do país é positivo em US$ 8,6 bilhões.
Os analistas, no entanto, alertam que a recuperação da economia já começou a dar sinais de arrefecimento e que o governo precisa agora criar condições para que o país volte a receber investimentos. "Confiança é a palavra-chave para que a Argentina volte a crescer de forma sustentada. Para isso, o governo precisa fechar um acordo com o FMI e reestruturar a dívida em moratória", afirma o analista político Vicente Massot.


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