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TANGO MAIS ALEGRE
Pobreza também diminui, mas ainda está alta, em 54,7%
Desemprego recua na Argentina
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
Com pouco mais de dois meses
de mandato, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, já começou a coletar os bons frutos da
recuperação econômica que atingiu o país nos últimos meses. A taxa de desemprego recuou dos
17,8% registrados em outubro do
ano passado para 15,6% em maio
de 2003. A queda também é significativa se comparada com maio
de 2002, pico da crise do emprego,
quando bateu nos 21,5%.
O nível de pobreza também retrocedeu em relação ao fim do
ano passado. Segundo dados do
Indec (instituto de estatísticas do
governo), 1,5 milhão de argentinos conseguiu sair do patamar
considerado abaixo da linha de
pobreza. O número de indigentes
caiu em 800 mil. Em maio, 54,7%
dos argentinos eram considerados pobres, e 26,3%, indigentes,
ante as taxas de 57,5% e 27,5%,
respectivamente, registradas em
outubro de 2002.
Em comparação com maio de
2002, no entanto, o nível de pobreza aumentou. O problema
atingia 53% das pessoas, e a indigência, 24,8%. "Isso acontece porque houve uma piora no poder de
compra", afirma Cyntia Pok, diretora do setor de pesquisa do Indec. Desde maio do ano passado,
o preço da cesta básica de alimentos subiu 2,7%, segundo o Indec.
Apesar do recuo, o nível de pobreza e indigência na Argentina
continua bastante elevado. Os
54,7% representam quase 13 milhões de pessoas. Os indigentes
somam 6,25 milhões. Essa é uma
realidade com a qual os argentinos não estavam acostumados e
que é resultado de uma das piores
crises já enfrentadas pelo país. Entre os anos de 1998 e 2002, o PIB
(Produto Interno Bruto) argentino recuou quase 20%, percentual
só visto por países que passaram
por guerras.
Alguns analistas também contestam os números do governo.
Alguns afirmam que a taxa real de
desemprego supera os 20%, pois
os números do Indec incluem os
desempregados que são beneficiados pelos subsídios dados pelo
governo aos pais e mães de família desempregados. Cerca de 2 milhões de pessoas recebem esse
subsídio (de 150 pesos). O próprio
ministro da Economia, Roberto
Lavagna, admite que a taxa ainda
é elevada. "O importante é destacar que foi criado 1,2 milhão de
novos postos de trabalho. O objetivo é ampliar esse número cada
vez mais", afirmou. Apesar do dado positivo, 4,8 milhões de pessoas ainda estão desempregadas
ou subempregadas na Argentina.
A melhora dos indicadores sociais registrada no mês de maio é
reflexo da retomada do crescimento que teve início nos fins do
ano passado e que resultou num
avanço de 5,4% do PIB só primeiro trimestre deste ano. Essa expansão foi impulsionada principalmente pelo setor agrícola, que
ampliou suas exportações beneficiado pela depreciação do peso
após o fim da conversibilidade
cambial, em janeiro de 2002. No
ano, as exportações argentinas já
cresceram 28% e somam, no primeiro semestre, US$ 14,513 bilhões. O saldo comercial do país é
positivo em US$ 8,6 bilhões.
Os analistas, no entanto, alertam que a recuperação da economia já começou a dar sinais de arrefecimento e que o governo precisa agora criar condições para
que o país volte a receber investimentos. "Confiança é a palavra-chave para que a Argentina volte a
crescer de forma sustentada. Para
isso, o governo precisa fechar um
acordo com o FMI e reestruturar
a dívida em moratória", afirma o
analista político Vicente Massot.
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