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Petrobras é grande vitoriosa na definição de novas regras
Ela pode captar até R$ 100 bi, será operadora única e tem atuação garantida em consórcios
Capitalização visa dar suporte financeiro à estatal para explorar o pré-sal e tentar aumentar a parcela da União no capital da empresa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao anunciar o novo marco
regulatório do setor de petróleo, o governo confirmou a decisão de capitalizar a Petrobras,
mais uma demonstração de que
a estatal saiu como a grande vitoriosa na definição das novas
regras. A operação pode ser a
maior já feita no país até hoje.
Foi oficializada ainda a proposta de criar a Petro-Sal, estatal que irá administrar a riqueza do pré-sal em nome da
União, e o fundo social, a ser
formado com a renda gerada
pelas novas reservas.
A divulgação foi feita ontem
pelo presidente Lula, durante
evento em Brasília, quando ele
assinou quatro projetos de lei,
que tratam também da criação
da partilha de produção na exploração do pré-sal.
As regras da capitalização
constam de um projeto de lei
específico, que autoriza a União
a ceder à Petrobras direitos de
exploração de áreas não leiloadas do pré-sal, limitadas ao volume de 5 bilhões de barris.
Segundo cálculos feitos como referência para a operação,
a capitalização pode atingir até
R$ 100 bilhões com um custo
de extração do óleo de US$ 10 o
barril. A empresa tem valor de
mercado de R$ 307 bilhões.
Os detalhes serão divulgados
hoje pela estatal. A Petrobras
poderá pagar a cessão dessas
áreas com títulos públicos num
primeiro momento. Depois, a
operação será consumada com
a entrega de ações da empresa
para o governo federal.
Para que a operação seja concluída, a Petrobras contratará
duas empresas de consultoria
independentes que vão avaliar
o volume e o valor das reservas
cujos direitos de exploração serão transferidos para ela.
A capitalização tem dois objetivos: dar suporte financeiro à
estatal para explorar o pré-sal e
tentar aumentar a parcela da
União no capital total da empresa -hoje na casa dos 32%, o
que não lhe garante a maior
parte dos lucros. O governo tem
a maioria do capital com direito
a voto da companhia.
Além da capitalização, as novas regras confirmaram duas
medidas que beneficiam diretamente a Petrobras: ela será a
operadora única do pré-sal e terá uma participação de 30% garantida nos consórcios que irão
explorar a região.
Ela ganhou ainda o direito de
disputar os leilões para aumentar essa participação mínima e
pode ser contratada diretamente, sem licitação, para desenvolver campos que o governo considere estratégicos.
A escolha do nome Petro-Sal
chegou a dividir o governo, mas
Lula optou por ele, mesmo
diante dos riscos de que seja relacionado a "petrossauro"
-uma crítica feita no passado à
Petrobras pelo ex-ministro Roberto Campos.
A nova companhia não será
operadora nem fará investimentos na exploração, mas irá
representar a União nos comitês operacionais formados pelas empresas para desenvolver
os campos de petróleo da região. Terá no máximo 130 empregados, sede meramente formal em Brasília e o escritório
central no Rio de Janeiro.
A Petro-Sal também será a
responsável por fiscalizar os
custos de produção, essencial
na partilha de produção -já
que, quanto maior o custo, menor a parcela do óleo a ser
transferida para a União.
Quanto ao fundo social, ele
ganhou, na reta final, duas novas destinações. Além de educação, combate à pobreza e inovação tecnológica, ele será investido em cultura e ambiente.
Suas fontes de recursos serão: a renda do óleo de propriedade da União na partilha de
produção; os bônus pagos pelas
empresas vencedoras dos leilões; e a parcela dos royalties do
governo federal.
Ao justificar a opção pela
partilha de produção no pré-sal, o governo destacou que todos os países fizeram mudanças em seus sistemas quando
encontraram grandes reservas.
O governo não divulgou dados sobre o potencial de toda a
região do pré-sal, mas lembrou
que em três campos -Tupi, Iara e Parque das Baleias- a expectativa é que as reservas fiquem entre 9,5 bilhões e 14 bilhões de barris. Hoje, as reservas provadas brasileiras são de
14 bilhões de barris.
Com a inclusão desses três
campos, que podem dobrar as
reservas do país, o governo federal espera que a produção
diária de petróleo aumente em
1,815 milhão de barris, praticamente a mesma de hoje -de
1,936 milhões de barris.
As novas regras divulgadas
ontem valem para os campos
do pré-sal ainda não leiloados,
72% de toda província do pré-sal, que atinge 149 mil quilômetros quadrados. As já concedidas ficam sob as regras atuais.
(VALDO CRUZ, SAMANTHA LIMA e HUMBERTO MEDINA)
Leia a íntegra dos projetos
do governo
www.folha.com.br/0924318
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