São Paulo, terça-feira, 01 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-diretor pede estatização total da Petrobras

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Defensor da reestatização total da Petrobrás, o ex-diretor de gás e energia da estatal Ildo Sauer afirmou ontem que o modelo regulatório para o pré-sal vai na "direção correta, mas [é] tímido". Para ele, a concessão dada à Petrobras é uma proposta "menos deletéria" do que a defendida, segundo ele, pela Casa Civil e pela ANP (Agência Nacional do Petróleo).
De toda forma, Sauer criticou o viés eleitoral da discussão. "Há açodamento na definição [das regras] nitidamente para ter plataforma eleitoral", disse. A ministra-chefe da Casa, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão de Lula, foi a estrela da solenidade ontem.
Segundo Sauer, que deixou a estatal atirando contra a política energética do governo, a definição das regras para exploração do pré-sal não respeitou a lógica.
O primeiro passo, disse, era a delimitação das reservas e a mensuração do potencial de petróleo possível de ser obtido na camada pré-sal. "Era a primeira providência e isso não custaria muito. O governo contrataria a Petrobras por US$ 6 bilhões, a empresa faria cem furos e assim saberíamos sobre o que estamos falando. Podem ser de 30 bilhões a 300 bilhões de barris, ninguém sabe."
Só a partir do conhecimento sobre o potencial de produção, o governo poderia definir um marco regulatório e informar como pode ser feito o desenvolvimento numa lógica que considere a capacidade da Petrobras de investir e da oferta mundial de óleo.
O ex-diretor da Petrobras -cargo que ocupou de 2003 a 2007- disse que reservas recuperáveis acima de 100 bilhões de barris gerariam renda petroleira de US$ 250 bilhões por ano, com produção firme de 5 milhões a 10 milhões de barris de petróleo por dia. Hoje, o Brasil produz 1,9 milhão de barris e tem reserva provada de 14 bilhões.
Mesmo considerando tímido o papel da Petrobras, Sauer acha que os movimentos sociais e os grupos favoráveis à estatal vão reforçar a campanha "O petróleo tem que ser nosso" a fim de reacender a discussão sobre a reestatização da empresa.
"Está mais do que óbvio que o melhor caminho é o governo progressivamente -por estratégia que não seja, digamos assim, açodada e desrespeitosa a direitos constituídos, como aqueles do FGTS, enfim, de todo mundo que de boa-fé investiu na Petrobras- retomar o controle acionário da Petrobras, chegando próximo ou totalmente aos 100% do capital", afirmou. Hoje, o governo detém 32,2% do capital total da empresa.
Dessa forma, disse Sauer, a discussão sobre o modelo (partilha ou concessão) perderia o sentido. Para ele, diferentemente do que muitos avaliam, a autossuficiência e a descoberta do pré-sal não foram conquistas da reforma constitucional de 1997 e da mudança da Lei do Petróleo, mas resultados alcançados pela persistência da estatal.


Texto Anterior: Salários da Petro-Sal devem ser fixados de acordo com mercado
Próximo Texto: Reservas do pré-sal ainda carregam riscos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.