São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Crise eleva resgate de fundos de investimento

PEDRO SOARES
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A crise de confiança no mercado financeiro norte-americano mexeu com o ânimo dos investidores brasileiros, que buscam investimentos de menor risco. Na esteira desse movimento, os fundos perderam R$ 13,7 bilhões nos últimos 30 dias encerrados no último dia 24 -período no qual se intensificaram a turbulência nas Bolsas e resgates e migração para outras aplicações.
Segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), a captação líquida dos fundos (saldo entre aplicações e resgates) está negativa em R$ 21,8 bilhões no acumulado deste ano.
O resultado indica a aversão dos poupadores ao risco. "Há um temor que ocorra um contágio, uma crise sistêmica. O que percebemos é uma procura por investimentos de menor risco", diz José Carlos Borja, diretor comercial da Fator Administradora de Recursos.
O executivo diz, no entanto, que no próprio mercado de fundos existem opções de menor risco e com rentabilidade melhor que a da poupança, como as aplicações em renda fixa.
No ano, os fundos de renda fixa registram rentabilidade positiva de 8,16%, resultado bem melhor do que os de ações, cujas perdas, em alguns casos, superam os 30%. Os fundos de privatização Vale-FGTS tiveram uma queda de 34,17% de janeiro até o último dia 24.
Em meio ao cenário de crise, a categoria de fundos mais afetada foi a de multimercados (que aplica em diversos tipos de ativos, como dólar, títulos de dívidas, ações, juros, entre outros), com uma captação líquida negativa de R$ 6,6 bilhões nos últimos 30 dias.
Para William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas), os resultados mostram certa "decepção" do investidor com o resultado destes fundos, que normalmente têm políticas mais agressivas de investimento.
"A classe média perde quando especula. Nos multimercados, muitos investidores criaram falsas expectativas", diz Eid. Segundo ele, há um forte movimento de migração desses fundos para CDBs, títulos de renda fixa cuja remuneração "já se torna mais interessante."

Sangue-frio
Diante da crise, o melhor é ter sangue-frio e esperar a recuperação dos mercados, aconselha Luis Carlos Ewald, economista e autor do livro "Sobrou Dinheiro!". "Muitos investidores são levados por uma emoção burra ao tirarem o dinheiro investido agora."
Tomado por tal sentimento e alarmado com a crise, o médico Rodrigo Corrêa, 33, sacou sua aplicação em ações, feita há um ano, quando a Bolsa estava no pico. "Tinha um dinheiro aplicado em renda fixa, que rendia pouco. Não pretendia usá-lo e apostei na Bolsa, mas agora estou comprando um apartamento e percebi que precisaria dos recursos. A crise serviu para antecipar a retirada", diz.
Para quem está "comprado" em ações, diz Borja, o melhor é manter a aplicação, evitando, assim, que a perda se realize neste momento de forte baixa.
Seguro, o administrador de empresas Rafael Andrade e Silva, 24, manteve seu investimento em ações. "Fiquei assustado, mas preferi esperar e não assumir uma perda agora."


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