São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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entrevista

Há alternativa ao plano, diz ex-FMI

DE WASHINGTON

O britânico Simon Johnson acha que há alternativas ao que chama de "Fundo Hedge Paulson". O ex-economista-chefe do FMI acredita na necessidade de aprovação do plano do governo o quanto antes, mas não o vê resolvendo a crise atual. Para tanto, defende, teria de ser mais amplo e envolver a comunidade internacional. O professor da Sloan School of Management do MIT diz ainda que a chave para que o Brasil evite um contágio maior da crise é a China. "Se o país conseguir manter seu crescimento em pelo menos 8%, se usar algum tipo de estímulo fiscal para ajudar sua própria economia, isso vai fazer uma grande diferença para países como o Brasil", disse à Folha.

 

FOLHA - O que aconteceu anteontem?
SIMON JOHNSON
- Os políticos foram surpreendidos e ficaram desorientados pela situação. E eu concordo com eles. Deve-se aprovar a lei, estamos numa situação muito difícil e precisamos que essa medida passe nesta semana, mas também acho que o Executivo não foi honesto antes.

FOLHA - O que acontecerá?
JOHNSON
- Agora eles só precisam de cerca de uma dezena de votos a mais, então não acho que vai ser terrivelmente difícil passar essa medida. Também acredito que, hoje, mesmo sem a medida, o Tesouro já conta com poderes suficientes e muita engenhosidade para se adaptar. A grande questão é o que fazer depois disso. Ninguém acredita que todos os problemas se resolverão depois da aprovação desse plano. Pode até estabilizar o mercado a curto prazo, e deve fazer isso, mas não é o suficiente.

FOLHA - O que seria suficiente? Há alternativas?
JOHNSON
- Sim, há, embora o Tesouro e o Fed não queiram que pensemos que há. São três os grandes problemas no mercado financeiro norte-americano neste momento, e o plano só lida com um, os papéis podres. Um dos outros é a crise da habitação, com muita gente ainda endividada, e é muito difícil reestruturar essa dívida como você faria se fosse um banco. Isso o plano ignora. O outro é que alguns bancos importantes estão sem capital, e isso mais uma vez não é alvo do plano, a não ser indiretamente, como quando o presidente do Fed diz que pagará acima do valor de mercado pelos títulos podres. Isso pode ajudar a estabilizar a situação, mas não está claro se resolverá o problema de base do sistema, que é a chamada desalavancagem global. O crédito vai secar cada vez mais ao redor do mundo. É preciso um esquema mais amplo e internacional para lidar com essa questão.

FOLHA - Para relembrar seu período de FMI, há o perigo de contágio maior para economias emergentes como Brasil?
JOHNSON
- Sim, é claro. A desalavancagem global vai continuar, deve afetar todo o mundo, não creio que ninguém estará imune e nenhum país poderá se "descolar".


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