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entrevista
Há alternativa ao plano, diz ex-FMI
DE WASHINGTON
O britânico Simon
Johnson acha que há alternativas ao que chama
de "Fundo Hedge Paulson". O ex-economista-chefe do FMI acredita na
necessidade de aprovação
do plano do governo o
quanto antes, mas não o vê
resolvendo a crise atual.
Para tanto, defende, teria
de ser mais amplo e envolver a comunidade internacional.
O professor da Sloan
School of Management do
MIT diz ainda que a chave
para que o Brasil evite um
contágio maior da crise é a
China. "Se o país conseguir manter seu crescimento em pelo menos 8%,
se usar algum tipo de estímulo fiscal para ajudar sua
própria economia, isso vai
fazer uma grande diferença para países como o Brasil", disse à Folha.
FOLHA - O que aconteceu anteontem?
SIMON JOHNSON - Os políticos foram surpreendidos e
ficaram desorientados pela situação. E eu concordo
com eles. Deve-se aprovar
a lei, estamos numa situação muito difícil e precisamos que essa medida passe nesta semana, mas também acho que o Executivo
não foi honesto antes.
FOLHA - O que acontecerá?
JOHNSON - Agora eles só
precisam de cerca de uma
dezena de votos a mais,
então não acho que vai ser
terrivelmente difícil passar essa medida. Também
acredito que, hoje, mesmo
sem a medida, o Tesouro
já conta com poderes suficientes e muita engenhosidade para se adaptar. A
grande questão é o que fazer depois disso. Ninguém
acredita que todos os problemas se resolverão depois da aprovação desse
plano. Pode até estabilizar
o mercado a curto prazo, e
deve fazer isso, mas não é o
suficiente.
FOLHA - O que seria suficiente? Há alternativas?
JOHNSON - Sim, há, embora o Tesouro e o Fed não
queiram que pensemos
que há. São três os grandes
problemas no mercado financeiro norte-americano
neste momento, e o plano
só lida com um, os papéis
podres. Um dos outros é a
crise da habitação, com
muita gente ainda endividada, e é muito difícil reestruturar essa dívida como
você faria se fosse um banco. Isso o plano ignora.
O outro é que alguns
bancos importantes estão
sem capital, e isso mais
uma vez não é alvo do plano, a não ser indiretamente, como quando o presidente do Fed diz que pagará acima do valor de mercado pelos títulos podres.
Isso pode ajudar a estabilizar a situação, mas não está claro se resolverá o problema de base do sistema,
que é a chamada desalavancagem global. O crédito vai secar cada vez mais
ao redor do mundo. É preciso um esquema mais
amplo e internacional para lidar com essa questão.
FOLHA - Para relembrar seu
período de FMI, há o perigo de
contágio maior para economias emergentes como Brasil?
JOHNSON - Sim, é claro. A
desalavancagem global vai
continuar, deve afetar todo o mundo, não creio que
ninguém estará imune e
nenhum país poderá se
"descolar".
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