São Paulo, Segunda-feira, 01 de Novembro de 1999
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PREÇOS
Estiagem prolongada encarece produtos agrícolas, enquanto dólar alto pressiona custos da indústria
Câmbio e clima ditam rumo da inflação

LUCIA REGGIANI
da Reportagem Local

A cotação do dólar e a previsão do tempo são as bússolas que empresários, economistas e analistas de mercado estão priorizando para indicar os rumos da inflação nos próximos meses.
A escolha se justifica. Foi a disparada do dólar em janeiro, por conta da mudança na política cambial, que encareceu as matérias-primas importadas, desencadeando reajustes intensivos de preços ao consumidor até abril, quando houve certa acomodação.
E foi a escalada do dólar a partir de setembro, para a faixa de R$ 1,90 a R$ 2,00, que colaborou para o repique de reajustes que aparece agora nos índices de inflação.
O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), medido pela Fundação Getúlio Vargas, fechou outubro com variação de 1,70%, e o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da Fipe, subiu 1,18% em 30 dias até 23 de outubro.
"O dólar alto, além de aumentar o preço da matéria-prima, deixou carne, aves e açúcar brasileiros com preços atraentes e fez crescer as exportações desses produtos, reduzindo a oferta no mercado interno", ressalta Paulo Sidney de Melo Cota, economista da FGV.
De seu lado, o clima não ajudou. A estiagem prolongada, a maior dos últimos 45 anos, secou o pasto e fez o preço da carne bovina disparar (leia texto nesta página). E a alta do boi começa a contaminar os preços de carnes substitutas, como as de aves e suínos.
Esse conjunto de fatores leva Paulo Sidney e Heron do Carmo, da Fipe, a classificar a alta de preços atual como inflação de oferta -os preços sobem porque fatores sazonais reduzem a disponibilidade de produtos.
Outro fator que pressionou os índices em outubro foi o repasse de reajustes de matérias-primas e de tarifas públicas realizado por setores da indústria. Esse repasse vinha sendo inibido pela retração do consumo e a concorrência, mas o repique do dólar abriu espaço para alguns reajustes.

O que esperar
Para a Fipe, a pancada do câmbio foi dada mesmo no primeiro semestre, quando o dólar chegou a bater em R$ 2,15. Logo, a faixa dos R$ 2 não seria motivo para uma escalada de reajustes.
Além disso, poucos produtos estão pressionando o IPC, como a carne, que está na entressafra, e o álcool, que tinha caído demais, está se recuperando e arrastando junto o preço do açúcar.
Como o preço do álcool não costuma ultrapassar 75% do valor da gasolina e já está próximo disso, não se espera uma grande pressão no índice de novembro.
O que pode surpreender é o preço do café. Está sendo prevista uma quebra de safra por conta da seca nas regiões produtoras.
O clima é a incógnita para os preços agrícolas. Se continuar seco, haverá nova alta. Se chover, um refluxo deve acontecer. A segunda hipótese parece ser a mais provável. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, até meados de dezembro os dias de chuva e nublados serão mais frequentes do que os ensolarados.
Do lado do câmbio, analistas acreditam que a revisão do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), anunciada quarta-feira passada, dá mais condições ao Banco Central de impedir altas exageradas do dólar.
A notícia acalma o mercado neste mês. Em dezembro, há grandes saídas de divisas previstas para pagamento de contas externas, levando o dólar para cima.
Por enquanto, analistas esperam que a moeda norte-americana busque um equilíbrio abaixo dos R$ 1,95, próximo de R$ 1,85.
"Se o dólar ficar na faixa de R$ 2 e o clima não colaborar, teremos inflação de 1,5% neste mês e em dezembro. Se cair, o IGP pode ficar abaixo de 1%, fechando o ano entre 17% e 18%", prevê Paulo Sidney, da FGV.
Nos cálculos da Fipe, se o IPC ficar acima de 1% nos próximos três meses, esse percentual se consolida. A Fipe prevê 1,10% para outubro, 0,5% para este mês e 0,4% para dezembro.


Colaborou Mauro Zafalon, da Redação

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