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PREÇOS
Estiagem prolongada encarece produtos agrícolas, enquanto dólar alto pressiona custos da indústria
Câmbio e clima ditam rumo da inflação
LUCIA REGGIANI
da Reportagem Local
A cotação do dólar e a previsão
do tempo são as bússolas que empresários, economistas e analistas
de mercado estão priorizando para indicar os rumos da inflação
nos próximos meses.
A escolha se justifica. Foi a disparada do dólar em janeiro, por
conta da mudança na política
cambial, que encareceu as matérias-primas importadas, desencadeando reajustes intensivos de
preços ao consumidor até abril,
quando houve certa acomodação.
E foi a escalada do dólar a partir
de setembro, para a faixa de R$
1,90 a R$ 2,00, que colaborou para
o repique de reajustes que aparece
agora nos índices de inflação.
O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), medido pela
Fundação Getúlio Vargas, fechou
outubro com variação de 1,70%, e
o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da Fipe, subiu 1,18% em
30 dias até 23 de outubro.
"O dólar alto, além de aumentar
o preço da matéria-prima, deixou
carne, aves e açúcar brasileiros
com preços atraentes e fez crescer
as exportações desses produtos,
reduzindo a oferta no mercado
interno", ressalta Paulo Sidney de
Melo Cota, economista da FGV.
De seu lado, o clima não ajudou.
A estiagem prolongada, a maior
dos últimos 45 anos, secou o pasto e fez o preço da carne bovina
disparar (leia texto nesta página).
E a alta do boi começa a contaminar os preços de carnes substitutas, como as de aves e suínos.
Esse conjunto de fatores leva
Paulo Sidney e Heron do Carmo,
da Fipe, a classificar a alta de preços atual como inflação de oferta
-os preços sobem porque fatores sazonais reduzem a disponibilidade de produtos.
Outro fator que pressionou os
índices em outubro foi o repasse
de reajustes de matérias-primas e
de tarifas públicas realizado por
setores da indústria. Esse repasse
vinha sendo inibido pela retração
do consumo e a concorrência,
mas o repique do dólar abriu espaço para alguns reajustes.
O que esperar
Para a Fipe, a pancada do câmbio foi dada mesmo no primeiro
semestre, quando o dólar chegou
a bater em R$ 2,15. Logo, a faixa
dos R$ 2 não seria motivo para
uma escalada de reajustes.
Além disso, poucos produtos
estão pressionando o IPC, como a
carne, que está na entressafra, e o
álcool, que tinha caído demais, está se recuperando e arrastando
junto o preço do açúcar.
Como o preço do álcool não
costuma ultrapassar 75% do valor
da gasolina e já está próximo disso, não se espera uma grande
pressão no índice de novembro.
O que pode surpreender é o preço do café. Está sendo prevista
uma quebra de safra por conta da
seca nas regiões produtoras.
O clima é a incógnita para os
preços agrícolas. Se continuar seco, haverá nova alta. Se chover,
um refluxo deve acontecer. A segunda hipótese parece ser a mais
provável. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, até meados de dezembro os dias de chuva
e nublados serão mais frequentes
do que os ensolarados.
Do lado do câmbio, analistas
acreditam que a revisão do acordo com o FMI (Fundo Monetário
Internacional), anunciada quarta-feira passada, dá mais condições ao Banco Central de impedir
altas exageradas do dólar.
A notícia acalma o mercado
neste mês. Em dezembro, há
grandes saídas de divisas previstas para pagamento de contas externas, levando o dólar para cima.
Por enquanto, analistas esperam que a moeda norte-americana busque um equilíbrio abaixo
dos R$ 1,95, próximo de R$ 1,85.
"Se o dólar ficar na faixa de R$ 2
e o clima não colaborar, teremos
inflação de 1,5% neste mês e em
dezembro. Se cair, o IGP pode ficar abaixo de 1%, fechando o ano
entre 17% e 18%", prevê Paulo
Sidney, da FGV.
Nos cálculos da Fipe, se o IPC ficar acima de 1% nos próximos
três meses, esse percentual se consolida. A Fipe prevê 1,10% para
outubro, 0,5% para este mês e
0,4% para dezembro.
Colaborou Mauro Zafalon, da Redação
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