São Paulo, Segunda-feira, 01 de Novembro de 1999
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Custo da indústria demora a atingir o consumidor

da Reportagem Local

A inflação de 1,70% registrada em outubro pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) pegou até os pessimistas de surpresa. O motivo foi a rápida aceleração dos preços no atacado, que subiram 2,50% no mês e respondem por 60% do índice da Fundação Getúlio Vargas.
Nesses 2,50% estão embutidas altas de preços de matérias-primas importadas, que encareceram junto com o dólar, de produtos com preços internacionais, que tiveram aumento lá fora, e de produtos que ficaram escassos porque parte da produção foi exportada.
Embora complique muito a vida das empresas, essas altas no atacado demoram a afetar os preços no varejo. O açúcar, por exemplo, subiu 13,3%, mas o preço do doce aumentou só 0,89% nos 30 dias terminados em 23 de outubro, segundo a Fipe.
A nafta, derivado de petróleo e base das matérias plásticas, aumentou 90,52% de janeiro a outubro, mas as resinas produzidas com ela no Brasil subiram 52%, em média, no período, já embutindo alta de tarifa de energia elétrica e da mão-de-obra, segundo a Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico).
Paulo Sidney de Melo Cota, da FGV, explica que o IPA (Índice de Preços no Atacado) é composto de 90% de produtos comercializáveis internacionalmente. Já o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) tem 37% desses produtos e 63% de tarifas, preços administrados (plano de saúde, educação etc.) e serviços (cabeleireiros etc.). "A pressão deles não vai ser repassada para o consumidor totalmente", afirma.
A transmissão do aumento das despesas da indústria para o varejo esbarra em vários obstáculos: na concorrência que não dá trégua, na resistência do lojista e na retração do consumidor, que teme perder o emprego e não gasta, teve parte da renda comprometida por dívidas e parte encolhida com a alta das tarifas públicas, e enfrenta crediário caro.
Um crescimento no consumo seria até interessante para conter
os preços, na avaliação da Fipe. Como a indústria está com capacidade ociosa, um aumento de produção pode gerar ganho de escala e ajudar a baixar o preço.
Mas para alguns setores da indústria, a capacidade de absorver aumentos de custos já se esgotou.
"Os transformadores de plástico não têm mais condições de suportar aumentos de custos sem que sejam repassados imediatamente", diz Merheg Cachum, presidente da Abiplast, que prevê fechamento de empresas, caso seus clientes, boa parte multinacionais, não aceitem os repasses.
Na mesma situação está a indústria de vestuário e a de autopeças. "Só o aço não-plano teve 30% de aumento lá fora este ano, e as montadoras não reconhecem isso", diz Paulo Butori, presidente do Sindipeças, entidade que reúne os fabricantes do setor. A solução, para Butori, é o governo baixar a cotação do dólar. "Se deixar, teremos o retorno da inflação."


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