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LUÍS NASSIF
O reconhecimento social
A teoria econômica, especialmente os princípios que se poderiam enquadrar no rótulo "neoliberal", consagrou o primado
do interesse individual nas relações sociais e econômicas. Toda
pessoa aspira a crescer profissionalmente e ganhar mais. É a soma de interesses individuais que
acaba produzindo o interesse coletivo, na forma de mais progresso e desenvolvimento.
Ao atribuir exclusivamente ao
interesse individual egoísta o
motor de todas as ações transformadoras da sociedade, esse tipo
de pensamento não apenas tornou as relações humanas mais
pobres, como jogou para segundo plano uma das forças essenciais de motivação da ação pública: o reconhecimento social.
Há pouquíssimos estudos sobre
o papel desempenhado por esses
valores, especialmente na sociedade brasileira, ela mesma muito pobre de ações públicas.
Olhando para trás, no entanto,
basta um levantamento da história das santas casas de misericórdia. Com décadas de investimento público e privado na área social, não há nada que substitua a
rede de santas casas e os hospitais universitários -aqueles que
não se tornaram feudos privados
de médicos e catedráticos. E os
provedores ambicionavam apenas o reconhecimento público.
Olhando para a frente, analisem-se as ações comunitárias
municipais -como o caso de Limeira, recentemente abordado
pela coluna. Nos dois casos, ocorreu a ação desprendida de cidadãos que tinham, como meta
principal, o reconhecimento dos
seus conterrâneos.
Não apenas na saúde, mas nos
clubes sociais, nos eventos municipais, a presença desses cidadãos é visível a olho nu. Em 1956,
Poços de Caldas viveu seu maior
evento turístico, os Jogos Abertos, graças a um único cidadão, o
"seu" Ferreira, que trouxe a
idéia, o entusiasmo e mobilizou
outros conterrâneos.
Foi um evento de importância
econômica, à medida em que reforçou o nome da cidade no turismo nacional. No entanto, não
pode ser explicado à luz dos "interesses egoístas" porque o "seu"
Ferreira aspirava apenas ao reconhecimento dos seus conterrâneos -e nem teve até agora.
Quando se olha o futuro, percebe-se que esse tipo de cidadão é
peça-chave na próxima etapa de
desenvolvimento. O novo desenho econômico social brasileiro
passa pela formação de comunidades organizadas, nas diversas
cidades do interior, articulando
negócios, desenvolvimento e
ações sociais.
O primeiro passo da montagem
desse modelo é a disseminação
de novos conceitos. O exemplo da
Itália tem sido fundamental para alertar para o potencial extraordinário dessa nova forma
de organização de comunidades
e de pequenas empresas.
Mas poucas comunidades conseguem avançar sem a presença,
localmente, do líder comunitário
-capaz de mobilizar as forças
sociais em torno de objetivos comuns. Esse líder precisa não apenas de ter visão de futuro, mas
ser suficientemente desprendido
para que sua ação não passe a
idéia de "levar vantagem" -fator que imediatamente comprometeria sua liderança e inibiria
a coesão do grupo.
Daí a importância de o poder
público saber esgrimir essa força.
Nos anos 50, a campanha "o petróleo é nosso" se organizou em
torno dessas idéias de temas nacionais acoplados com reconhecimento público -em cada cidade, quem aderia à campanha era
visto como soldado da pátria.
Nos anos 60, a energia extraordinária do tema público foi canalizada para aquela bobagem chamada "dê ouro para o bem do
Brasil", mas que, de qualquer
forma, demonstrou a extraordinária capacidade de mobilização das idéias públicas.
Nos anos 70, o reconhecimento
público foi um dos principais estímulos para a melhoria do esforço exportador. A cada ano havia uma premiação de o "exportador do ano", com o prêmio sendo conferido pessoalmente pelo
presidente da República.
Nos próximos meses será lançado oficialmente o projeto "Exporta Brasil", que visará incutir
nas pequenas empresas e comunidades do interior a idéia da exportação. A principal arma de
mobilização será a do reconhecimento público. Cada pequena
empresa que vencer os medos e se
lançar à fascinante aventura da
exportação não apenas poderá
ganhar mercado, mas ser considerada um "soldado da pátria".
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