São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Foco

Sem salário, trabalhadores de indústria que empregou Lula fazem greve no ABC

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem receber salário há dois meses nem direitos trabalhistas há anos, 270 trabalhadores da Fris-Moldu-Car, autopeça que teve em seu quadro de funcionários o presidente Lula em 1965, decidiram interromper as atividades e parar a fábrica.
A greve na empresa completa dez dias. Parte dos empregados dorme na fábrica para evitar que máquinas sejam retiradas do local. Os trabalhadores e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já recorreram ao Ministério Público e à Justiça para intervir na fábrica, que passa por problemas, segundo eles, de má administração.
A Folha procurou advogados e diretores da empresa. Eles não telefonaram de volta para a reportagem.
Lula trabalhou na metalúrgica entre fevereiro e novembro de 1965, quando a empresa estava instalada no Ipiranga. Um ano mais tarde mudou para São Bernardo do Campo.
"Fui mandado embora porque tinha de fazer hora extra de sábado e domingo", cita o ex-torneiro mecânico e hoje presidente da República, em depoimento ao site www. abcdeluta.org.br, que conta a história dos metalúrgicos.
Segundo o relato publicado no site, Lula recebeu o pagamento numa sexta-feira e decidiu ir com amigos para Santos no final de semana.
"Quando cheguei na segunda, queimadinho que nem um camarão, porque pobre não se bronzeia, quando vai para Santos, ele se queima que nem um camarão, o cara [patrão] perguntou "Por que você não veio trabalhar?" Eu fui para Santos [respondeu]. "Então vai ser mandado embora". Aí, fui mandado embora", relata.
Após anos de expansão, a Fris-Moldu-Car, fabricante de frisos e molduras para carros, passou por problemas de má administração e se endividou ao recorrer a empréstimos de factorings, segundo relatam funcionários.
"O faturamento caiu de R$ 4 milhões há cerca de um ano para R$ 500 mil no mês passado. A empresa perdeu fornecedores, como GM, Volks, demitiu trabalhadores, desconta FGTS e contribuição previdenciária dos trabalhadores e não repassa. Essa é a nossa realidade hoje", diz o técnico em controle de qualidade Edson Ferreira da Costa. "Nem a pensão alimentícia é repassada."
A água da empresa foi cortada por falta de pagamento. O sindicato enviou um caminhão-pipa ao local nesta semana. O restaurante fechou portas. "Sem ter o que comer, nem vale-transporte, durmo aqui mesmo, em uma mesa forrada de papelão. Como vivo sem salário? Tenho recebido ajuda de amigos", diz Apolônio Gomes.


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