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TROCA DE COMANDO
Presidente deixará de cobrar queda maior nos juros e pode reintroduzir projeto de independência do banco
Lula abranda com BC para agradar mercado
Lula Marques - 28.mar.06/Folha Imagem
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O presidente Lula (esq.), Guido Mantega (de costas), novo ministro da Fazenda, e Antonio Palocci |
KENNEDY ALENCAR
GUSTAVO PATU
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sem Antonio Palocci Filho como fiador do rigor fiscal e monetário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu abandonar a
pressão para que o Banco Central
acelere o ritmo de redução dos juros. E tem uma carta na manga
caso precise acalmar o mercado:
tirar da gaveta e enviar ao Congresso o projeto que concede autonomia formal ao BC.
A flexibilização da política econômica no que se refere a gastos
públicos não será acentuada. Ou
seja, Palocci já havia aceito essa
flexibilização na virada de 2005
para 2006.
Um eventual segundo mandato
de Lula manterá a meta de superávit primário em 4,25% do PIB
(Produto Interno Bruto) e a meta
de inflação em 4,5% ao ano. A
meta de 2007, já estabelecida em
4,5%, será confirmada pelo novo
ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O presidente já orientou Mantega a agir com moderação em relação ao Banco Central. Auxiliar antigo e fiel a Lula, escolhido por sua
proximidade com o chefe direto,
Mantega fez no passado recente
duras críticas à política monetária
em geral e ataques diretos ao diretor de Política Econômica do BC,
Afonso Bevilaqua.
Mantega não tem o cacife que
Palocci possuía, construído desde
a campanha de 2002, e sabe disso.
Já disse a membros da cúpula do
governo que não entrará em guerra com o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles.
Na última terça-feira, Lula teve
conversa direta com Meirelles para tranquilizá-lo em relação à escolha de Mantega.
O presidente assegurou linha
direta a Meirelles e disse na cerimônia de posse de Mantega que
qualquer problema que tivesse
deveria procurá-lo. Ou seja, não
divergir publicamente do Banco
Central.
No início do governo, Mantega
era ministro do Planejamento e
tentou fazer contraponto público
a Palocci. Foi enquadrado por Lula. Neófito nos bastidores de Brasília à época, aprendeu muito nos
três anos em que foi ministro e
presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Lula temia as primeiras entrevistas de Mantega. Ao final da tarde de terça, quando o novo ministro falou com jornalistas, Lula disse: "A entrevista boa você já deu.
Vamos ao trabalho".
A reunião do CMN (Conselho
Monetário Nacional) da semana
passada -vista como o primeiro
embate entre Mantega e Meirelles
para a fixação da taxa de juros de
longo prazo (TJLP) que corrige os
empréstimos do BNDES- foi
marcada pela unificação dos discursos dos dois.
Primeiro, a taxa foi acertada
previamente (de 9% para 8,15%)
para evitar atritos na frente dos
técnicos. Depois, no final da reunião, Mantega fez uma espécie de
desagravo a Palocci, ressaltando
as qualidades e os feitos do ex-ministro.
Também agradeceu a Murilo
Portugal, que está deixando a secretaria executiva do ministério
-equivalente a ser vice-ministro.
As palavras de Mantega foram reforçadas por Meirelles, que disse
estar em profundo acordo com o
ministro.
Desenvolvimentistas
Mesmo os críticos da ortodoxia
personificada por Palocci avaliam
que, no momento, a melhor estratégia é não provocar tensões desnecessárias em um mercado financeiro que, em meio a uma fartura de dólares, está disposto a ser
otimista e a contribuir para bons
indicadores econômicos.
"Em ano eleitoral, a tarefa da
área econômica do governo é não
tomar gol", diz o líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), que chegou a ser cotado
para a Fazenda antes de Palocci
cair. "Se a bola chegar perto, eu
chuto para o mato."
Inesperadamente, um representante do pensamento dito desenvolvimentista voltou ao comando da Fazenda, o que não
acontecia desde o governo José
Sarney (1985-1990). A ala não tem
expectativa de formular e executar uma agenda agora, mas ganha
força para disputar a hegemonia
intelectual da política econômica
a partir do ano que vem.
Não por acaso, no governo e no
mercado se avalia que o maior risco de turbulências financeiras
neste ano estará no período decisivo das eleições. Ou seja, quando
os investidores começarão a se
posicionar para a futura administração -seja ela de Lula ou de um
tucano, conforme os cenários
mais prováveis.
É numa situação como essa que
o Planalto pode ressuscitar o projeto da autonomia do BC, na forma de mandatos fixos para os dirigentes da instituição. A mesma
estratégia foi usada logo após a
eleição de Lula, em 2002, quando
Meirelles aceitou o convite para
presidir o Banco Central.
O governo petista chegou a dar
o primeiro passo para a autonomia, ao aprovar, em 2003, uma
emenda constitucional que permitiu a regulamentação do sistema financeiro por meio de diferentes projetos de lei -até então,
a Constituição previa uma única
lei, que teria de tratar de tantos assuntos que sua tramitação seria
virtualmente impossível.
Depois, à medida que a ortodoxia de Palocci se mostrava suficiente para acalmar os mercados,
a autonomia do BC sucumbiu à
má vontade geral do PT e do próprio Lula em relação à idéia.
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