São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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MOEDAS

Expectativa de problemas na recuperação da economia dos EUA faz dólar bater recordes de baixa diante de moedas da Europa e Japão

Euro bate o recorde do ano contra o dólar

JONATHAN FUERBRINGER
DO "NEW YORK TIMES"

Será que chegou a hora da virada para o euro? Essa é uma questão que os analistas de câmbio vêm questionando desde que a moeda foi introduzida, em 1999. Mas aqueles que ousaram responder que sim, até agora, estavam comprovadamente errados.
Dessa forma, qualquer recuperação do euro, que subiu 4,7% do final de janeiro até agora, é encarada com cautela. Ainda assim, há sinais de que a moeda está subindo com firmeza, uma alteração que pode ser um acontecimento importante para os investidores norte-americanos no continente europeu. À medida que o euro ganha força, o retorno sobre ações e bônus europeus aumenta, quando passado para dólares.
O maior sinal de força do euro é a fraqueza do dólar. O dólar vem caindo neste ano diante do iene japonês (ontem chegou no nível mais baixo em seis meses diante da moeda japonesa), do dólar australiano e do peso mexicano.
Desde o final de janeiro, quando o dólar subiu em relação à maior parte das divisas mundiais, ele vem caindo diante da libra esterlina, do franco suíço e do euro.
Na terça-feira, o euro estava cotado a 90,33 centavos de dólar, no fechamento do pregão de Nova York -nível próximo ao pico atingido em 2 de janeiro.
Nos primeiros três anos da existência do euro, o pico de sua cotação diante do dólar é sempre atingido em meados de janeiro. Essa é a primeira vez em que a moeda européia volta a nível semelhante depois daquele mês.

Recorde
Durante as operações de ontem, o euro chegou a ser cotado a 90,87 centavos de dólar no mercado de Nova York -a maior cotação em seis meses-, mas encerrou o dia a 90,54 centavos de dólar. Em 2 de janeiro, a moeda foi cotada a 90,64 centavos de dólar -recorde do ano.
Outro sinal da fraqueza da moeda norte-americana veio do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul H. O'Neill, que reiterou seu apoio a um dólar forte em seu depoimento ao Comitê Bancário do Senado, ontem.
"O que quer que se possa tentar apreender do que vemos hoje, não há a intenção, em nada do que estou dizendo, de dar conforto àqueles que acreditam que vamos mudar nossa política hoje", disse O'Neill.

Fraqueza norte-americana
O que é surpreendente sobre a recuperação do euro é que ela parece ser resultado de uma percepção de fraqueza na economia e nos mercados financeiros dos Estados Unidos.
Isso é surpreendente porque o dólar conseguiu se manter em vantagem diante da maioria das moedas mundiais depois dos ataques terroristas de 11 de setembro, e mesmo diante do que se acreditava, àquela altura, ser uma séria recessão.
Anne Mills, analista sênior do mercado de câmbio para a corretora Brown Brothers Harriman & Company, disse que as expectativas de recuperação econômica nos Estados Unidos "se atenuaram" no mês passado, com o declínio verificado do mercado de ações.
Além disso, diz ela, o vigor do dólar reflete expectativas positivas quanto aos retornos de longo prazo sobre os investimentos nos Estados Unidos -comparados ao restante do mundo-, enquanto o desempenho recente do mercado de ações está fazendo com que os investidores questionem essas expectativas.
Ela argumentou que não foi preciso uma grande mudança no influxo de capital estrangeiro para os Estados Unidos para derrubar o dólar. O influxo precisa apenas ser reduzido ligeiramente, e isso acontecerá, para que mudem as expectativas quanto à economia norte-americana.
Ela prevê que o euro será negociado na faixa de 95 centavos de dólar a US$ 1 pelo final deste ano. Mas, mesmo com o euro perto de 91 centavos, a mudança do panorama do final do ano seria significativa. Seria o primeiro ano de alta, nos quatro anos de existência da nova moeda européia.
David Gilmore, sócio na Foreign Exchange Analytics, não está convencido ainda de que o dólar tenha começado a cair.
Mas está imaginando o que aconteceu com o argumento que manteve o dólar forte e o euro fraco: o de que os Estados Unidos sempre teriam desempenho superior ao da União Européia em termos de crescimento econômico e de retornos nas Bolsas.
Ele disse estar surpreso com a recuperação do euro diante do dólar, depois que o Departamento de Comércio norte-americano registrou que a economia dos Estados Unidos cresceu em ritmo anualizado de 5,8% no primeiro trimestre de 2002.
Os mercados de ações europeus têm desempenho melhor do que Wall Street, mas ainda estão em baixa, no agregado anual.
"O argumento de que as Bolsas de Valores européias superarão as norte-americanas não é convincente", disse Gilmore. "Ele não põe fim ao período de supremacia de três anos do dólar com relação ao euro."
No entanto, ele reconheceu que seu argumento em favor do dólar também não estava funcionando bem, e disse que caso seja provado falso a moeda norte-americana entraria em queda.


Tradução de Paulo Migliacci


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