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MOEDAS
Expectativa de problemas na recuperação da economia dos EUA faz dólar bater recordes de baixa diante de moedas da Europa e Japão
Euro bate o recorde do ano contra o dólar
JONATHAN FUERBRINGER
DO "NEW YORK TIMES"
Será que chegou a hora da virada para o euro? Essa é uma questão que os analistas de câmbio
vêm questionando desde que a
moeda foi introduzida, em 1999.
Mas aqueles que ousaram responder que sim, até agora, estavam comprovadamente errados.
Dessa forma, qualquer recuperação do euro, que subiu 4,7% do
final de janeiro até agora, é encarada com cautela. Ainda assim, há
sinais de que a moeda está subindo com firmeza, uma alteração
que pode ser um acontecimento
importante para os investidores
norte-americanos no continente
europeu. À medida que o euro ganha força, o retorno sobre ações e
bônus europeus aumenta, quando passado para dólares.
O maior sinal de força do euro é
a fraqueza do dólar. O dólar vem
caindo neste ano diante do iene
japonês (ontem chegou no nível
mais baixo em seis meses diante
da moeda japonesa), do dólar
australiano e do peso mexicano.
Desde o final de janeiro, quando
o dólar subiu em relação à maior
parte das divisas mundiais, ele
vem caindo diante da libra esterlina, do franco suíço e do euro.
Na terça-feira, o euro estava cotado a 90,33 centavos de dólar, no
fechamento do pregão de Nova
York -nível próximo ao pico
atingido em 2 de janeiro.
Nos primeiros três anos da existência do euro, o pico de sua cotação diante do dólar é sempre atingido em meados de janeiro. Essa é
a primeira vez em que a moeda
européia volta a nível semelhante
depois daquele mês.
Recorde
Durante as operações de ontem,
o euro chegou a ser cotado a 90,87
centavos de dólar no mercado de
Nova York -a maior cotação em
seis meses-, mas encerrou o dia
a 90,54 centavos de dólar. Em 2 de
janeiro, a moeda foi cotada a
90,64 centavos de dólar -recorde
do ano.
Outro sinal da fraqueza da moeda norte-americana veio do secretário do Tesouro dos Estados
Unidos, Paul H. O'Neill, que reiterou seu apoio a um dólar forte em
seu depoimento ao Comitê Bancário do Senado, ontem.
"O que quer que se possa tentar
apreender do que vemos hoje,
não há a intenção, em nada do
que estou dizendo, de dar conforto àqueles que acreditam que vamos mudar nossa política hoje",
disse O'Neill.
Fraqueza norte-americana
O que é surpreendente sobre a
recuperação do euro é que ela parece ser resultado de uma percepção de fraqueza na economia e
nos mercados financeiros dos Estados Unidos.
Isso é surpreendente porque o
dólar conseguiu se manter em
vantagem diante da maioria das
moedas mundiais depois dos ataques terroristas de 11 de setembro, e mesmo diante do que se
acreditava, àquela altura, ser uma
séria recessão.
Anne Mills, analista sênior do
mercado de câmbio para a corretora Brown Brothers Harriman &
Company, disse que as expectativas de recuperação econômica
nos Estados Unidos "se atenuaram" no mês passado, com o declínio verificado do mercado de
ações.
Além disso, diz ela, o vigor do
dólar reflete expectativas positivas quanto aos retornos de longo
prazo sobre os investimentos nos
Estados Unidos -comparados
ao restante do mundo-, enquanto o desempenho recente do
mercado de ações está fazendo
com que os investidores questionem essas expectativas.
Ela argumentou que não foi
preciso uma grande mudança no
influxo de capital estrangeiro para
os Estados Unidos para derrubar
o dólar. O influxo precisa apenas
ser reduzido ligeiramente, e isso
acontecerá, para que mudem as
expectativas quanto à economia
norte-americana.
Ela prevê que o euro será negociado na faixa de 95 centavos de
dólar a US$ 1 pelo final deste ano.
Mas, mesmo com o euro perto de
91 centavos, a mudança do panorama do final do ano seria significativa. Seria o primeiro ano de alta, nos quatro anos de existência
da nova moeda européia.
David Gilmore, sócio na Foreign Exchange Analytics, não está convencido ainda de que o dólar tenha começado a cair.
Mas está imaginando o que
aconteceu com o argumento que
manteve o dólar forte e o euro fraco: o de que os Estados Unidos
sempre teriam desempenho superior ao da União Européia em
termos de crescimento econômico e de retornos nas Bolsas.
Ele disse estar surpreso com a
recuperação do euro diante do
dólar, depois que o Departamento de Comércio norte-americano
registrou que a economia dos Estados Unidos cresceu em ritmo
anualizado de 5,8% no primeiro
trimestre de 2002.
Os mercados de ações europeus
têm desempenho melhor do que
Wall Street, mas ainda estão em
baixa, no agregado anual.
"O argumento de que as Bolsas
de Valores européias superarão as
norte-americanas não é convincente", disse Gilmore. "Ele não
põe fim ao período de supremacia
de três anos do dólar com relação
ao euro."
No entanto, ele reconheceu que
seu argumento em favor do dólar
também não estava funcionando
bem, e disse que caso seja provado falso a moeda norte-americana entraria em queda.
Tradução de Paulo Migliacci
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