São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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Faro para best-sellers

Com poucos títulos de grande apelo comercial, mas com preço de capa mais em conta, Sextante e Intrínseca dominam as listas de mais vendidos

MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho de consumo da nova classe média brasileira não se resume a computadores e celulares. Ela também quer cultura. As editoras Sextante e Intrínseca foram as primeiras a entender o apetite da nova classe de consumidores pelos livros e estão revolucionando a área editorial com preço de capa até 30% abaixo do que costuma ser praticado pelo mercado.
Com um faro apurado para best-sellers, as duas editoras cariocas, que têm sócios em comum e perfis editoriais distintos, estão por trás de sucessos como "A Cabana" (William P. Young) e "O Código Da Vinci" (Dan Brown), ambos da Sextante, e os livros da série "Crepúsculo" (Stephenie Meyer), da Intrínseca.
"O brasileiro adora ler. Basta chegar às suas mãos bons títulos a preços baixos", diz Tomás Pereira, 41, que, junto com o irmão Marcos, é dono da Sextante. "Uma característica interessante da nova classe C é o desejo de progredir, e a leitura, que educa, traz cultura e entretém, é um caminho natural."
Netos do célebre editor José Olympio, que lançou nomes como Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, Tomás e Marcos fundaram a Sextante em 1998, com o pai Geraldo, já falecido. Começaram com livros de autoajuda e espiritualidade, que ainda são o forte da editora, mas deram uma grande tacada na área de ficção ao adquirir, em 2004, os direitos de "Código da Vinci" por US$ 12 mil.
"Existe no mercado uma mentalidade elitista de que as pessoas que gostam de ler podem pagar mais. Isso fez com que se investisse em acabamentos especiais que agregam muito mais preço do que valor aos livros, deixando à margem um público leitor ávido por comprá-los", afirma Tomás. Há 12 anos, o preço de capa dos títulos de autoajuda da Sextante custam R$ 19,90. Os de ficção custam R$ 39,90.
"É difícil, antes de você ler um livro, saber quanto ele vale. Se o preço é mais baixo, você diminui o risco e a resistência do leitor", diz Tomás.
Há três anos, ele e o irmão se associaram a Jorge Oakim, que fundara anos antes a Intrínseca, mas ainda não tinha adquirido os direitos da série dos vampiros que virou febre junto ao público infantojuvenil. A Sextante detém 50% da Intrínseca e é responsável pela área operacional da editora.
Ambas compartilham o mesmo modelo de negócios: estrutura enxuta, poucos títulos de grande apelo comercial e preço de capa mais em conta. Também trabalham com esquemas de distribuição alternativo, como as revendedoras da Avon. Suas tiragens não começam em menos de 10 mil exemplares, enquanto a média das demais editoras é de 3.000.
"Você só consegue fazer um preço menor quando a tiragem é alta", diz Tomás. "É uma aposta. Nem sempre dá certo. Felizmente tivemos mais acertos do que erros."
Considerando apenas o segmento em que atuam (tirando livros didáticos, venda a governo, serviços gráficos e outros), as duas editoras, juntas, venderam mais em volume e receita do que qualquer outra editora no país no ano passado.
Com um catálogo que deve chegar a 600 títulos, a Sextante vendeu 7,7 milhões de exemplares em 2009. A Intrínseca, que tem 76 livros em catálogo, vendeu 3,8 milhões. Empresas de capital fechado, elas não revelam números. Segundo fontes, o faturamento de cada uma foi da ordem R$ 60 milhões.


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