São Paulo, domingo, 2 de maio de 1999

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SOB SUSPEITA
Auditoria interna do banco diz que resgate de títulos da construtora gerou prejuízo à instituição
BB investiga operações feitas com Encol

MÔNICA BERGAMO
enviada especial a Brasília

O Banco do Brasil contratou um perito do mercado financeiro para analisar operações da instituição com debêntures (papéis emitidos por uma empresa para captar recursos) da Encol que envolvem o diretor financeiro do banco, Carlos Gilberto Caetano.
Relatório de uma auditoria interna do BB, obtido pela Folha, diz que as operações feitas por Caetano deram prejuízo ao banco.
A auditoria contesta o preço de resgate de 10.587 debêntures da Encol que foram liquidadas em dezembro de 1994. O preço unitário correto, de acordo com a auditoria, seria de R$ 753,75. O preço usado na operação foi de R$ 685,56. O prejuízo, segundo a auditoria, foi de R$ 721 mil reais.
Na época, Caetano era superintendente da BB DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), que negocia esses papéis.
Caetano foi procurado pela Folha, mas não quis responder às questões da auditoria. Segundo a assessoria do banco, ele prefere responder após a conclusão da perícia para não aumentar a polêmica em torno dos negócios.
"O Caetano já provou com cálculos matemáticos que não houve prejuízo. O perito é quem vai dizer quem está certo", diz Mário Wilson Costa, gerente de recuperação de crédito do BB.
A auditoria questiona também a natureza das operações. É que, em vez de receber em dinheiro pelas R$ 10.587 debêntures, a BB DTVM na verdade realizou uma operação contábil e trocou as debêntures velhas por 49.283 debêntures novas. Além de não receber um tostão, segundo a auditoria, o BB colocou mais US$ 2,2 milhões no negócio.
Para os auditores, o BB fez um mau negócio. Além de estabelecer um preço inferior ao correto na operação com as 10.587 debêntures, o banco até gastou mais dinheiro para manter papéis de uma empresa que já estava em dificuldades financeiras, quando na ocasião poderia ter resgatado todos os papéis em dinheiro vivo, se livrando de um negócio arriscado.
"A difícil situação econômico-financeira da empresa não aconselhava nem a manutenção do risco nem a injeção de novos recursos", dizem os auditores no texto.
"Ainda havia na época a expectativa de a Encol se recuperar", diz Costa. "Como a Encol não pagava ninguém, o negócio possível era trocar as debêntures velhas por debêntures novas e confiar na recuperação da empresa", completa.
As operações do BB com debêntures da Encol já geraram várias polêmicas. Em 1990 o banco comprou o primeiro lote, de 1.200 debêntures. Em 1994, entre renegociação e novas compras, acumulou 49.283 debêntures. No ano seguinte, o BB aceitou trocar uma dívida de curto prazo por 97.000 novas debêntures -também não pagas.



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