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SOB SUSPEITA
Auditoria interna do banco diz que resgate de títulos da construtora gerou prejuízo à instituição
BB investiga operações feitas com Encol
MÔNICA BERGAMO
enviada especial a Brasília
O Banco do Brasil contratou um
perito do mercado financeiro para
analisar operações da instituição
com debêntures (papéis emitidos
por uma empresa para captar recursos) da Encol que envolvem o
diretor financeiro do banco, Carlos Gilberto Caetano.
Relatório de uma auditoria interna do BB, obtido pela Folha, diz
que as operações feitas por Caetano deram prejuízo ao banco.
A auditoria contesta o preço de
resgate de 10.587 debêntures da
Encol que foram liquidadas em dezembro de 1994. O preço unitário
correto, de acordo com a auditoria, seria de R$ 753,75. O preço
usado na operação foi de R$
685,56. O prejuízo, segundo a auditoria, foi de R$ 721 mil reais.
Na época, Caetano era superintendente da BB DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), que negocia esses papéis.
Caetano foi procurado pela Folha, mas não quis responder às
questões da auditoria. Segundo a
assessoria do banco, ele prefere
responder após a conclusão da perícia para não aumentar a polêmica em torno dos negócios.
"O Caetano já provou com cálculos matemáticos que não houve
prejuízo. O perito é quem vai dizer
quem está certo", diz Mário Wilson Costa, gerente de recuperação
de crédito do BB.
A auditoria questiona também a
natureza das operações. É que, em
vez de receber em dinheiro pelas
R$ 10.587 debêntures, a BB DTVM
na verdade realizou uma operação
contábil e trocou as debêntures velhas por 49.283 debêntures novas.
Além de não receber um tostão, segundo a auditoria, o BB colocou
mais US$ 2,2 milhões no negócio.
Para os auditores, o BB fez um
mau negócio. Além de estabelecer
um preço inferior ao correto na
operação com as 10.587 debêntures, o banco até gastou mais dinheiro para manter papéis de uma
empresa que já estava em dificuldades financeiras, quando na ocasião poderia ter resgatado todos os
papéis em dinheiro vivo, se livrando de um negócio arriscado.
"A difícil situação econômico-financeira da empresa não aconselhava nem a manutenção do risco
nem a injeção de novos recursos",
dizem os auditores no texto.
"Ainda havia na época a expectativa de a Encol se recuperar", diz
Costa. "Como a Encol não pagava
ninguém, o negócio possível era
trocar as debêntures velhas por debêntures novas e confiar na recuperação da empresa", completa.
As operações do BB com debêntures da Encol já geraram várias
polêmicas. Em 1990 o banco comprou o primeiro lote, de 1.200 debêntures. Em 1994, entre renegociação e novas compras, acumulou
49.283 debêntures. No ano seguinte, o BB aceitou trocar uma dívida
de curto prazo por 97.000 novas
debêntures -também não pagas.
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